BE acusa Governo de "corte real de salários" ao rejeitar atualização

A coordenadora do BE, Catarina Martins, acusou hoje o Governo socialista de ter anunciado um "corte real de salários, mais ou menos transitório" pelo facto de ter recusado atualizar os salários e as pensões à inflação.

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Lusa
08/04/2022 15:46 ‧ 08/04/2022 por Lusa

Política

Governo

No encerramento do debate do Programa do Governo, que decorre hoje na Assembleia da República, Catarina Martins criticou a resposta dada ao país pelo PS e considerou que, "por muito que lhe queira chamar de esquerda, não passa pelos testes mais simples".

"Pode o governo chamar-lhe um problema transitório. Mas, na verdade, o mesmo António Costa que assegura que a crise é transitória, reconhece que o fim da guerra é imprevisível. Uma única certeza: com a recusa de atualização de salários pela inflação, o que o governo veio anunciar a este debate é o corte real de salários, mais ou menos transitório, por um período mais ou menos imprevisível, mas corte de salários", criticou.

A líder bloquista questionou por isso "quem paga esta crise?", defendendo que "há setores a especular, e a ganhar milhões, com a inflação".

"Assim continuará. Já os salários estão a perder a cada dia com o aumento dos preços. Assim continuará também", avisou.

De acordo com Catarina Martins, quando "as famílias olham com angústia para uma previsão de inflação superior a 4%", o primeiro-ministro disse, "orgulhoso", que "o problema agora apresentado é exatamente igual ao programa apresentado no momento em que a previsão de inflação era quatro vezes menor", considerando que "se o mundo mudou, o Governo ficou no mesmo sítio".

"A questão que se coloca é, portanto, sobre justiça. Perguntamo-nos, então, o que é mais justo: uma família pagar mais no supermercado para proteger os lucros da grande distribuição ou uma cadeia de hipermercados lucrar menos para proteger os rendimentos das famílias?", perguntou.

Na análise da bloquista, "o programa de Governo dá a resposta errada a esta pergunta", acusando o executivo deixar "intactas as margens de lucro das grandes empresas e passar a fatura da inflação para as famílias", uma "simpatia" que estas grandes empresas agradecem.

"Por outro lado, não serão as energéticas a pagar a diferença entre o preço do gás e o teto máximo. Ou seja, essa diferença entra no sistema e acabará a ser paga pelos consumidores, que sabem já que pagarão em qualquer caso muito mais do que pagavam em 2020. Neste debate, o ministro da Economia ainda aventou a hipótese de uma taxa sobre os lucros caídos do céu. Nesse caso, os ganhos extraordinários da EDP com as barragens, por exemplo, poderiam ser usados para baixar mais a conta da luz e neutralizar subidas futuras. Mas essa taxa teve uma vida muito curta, não chegou a uma manhã", criticou.

Catarina Martins referiu que "o ministro da Economia aventou a hipótese ao princípio da manhã, ao fim da manhã já o ministro da Ambiente tinha deixado cair tal ideia".

No discurso, a deputada do BE também apontou aos partidos da direita, apesar de defender que "a irresponsabilidade da direita não iliba a responsabilidade do PS para responder ao país".

"Ouvimos de tudo, mas não ouvimos uma palavra da direita sobre quem está a jogar e a ganhar com a inflação. Ouvimos até uma deputada do PSD, num momento raro, assumir um erro dos anos da austeridade da troika. O erro do PSD, disse, foi não deixar os funcionários públicos sem um ou dois meses de salário. Isto porque, garante a deputada, seria uma lição para o povo, uma 'pressinha'. Ontem como hoje, o PSD só tem uma 'pressinha': cortar nos salários de quem trabalha, para proteger a economia do privilégio", atirou.

Catarina Martins referia-se uma intervenção de Mónica Quintela, do PSD, que durante o debate, na quinta-feira, sugeriu que os salários públicos deveriam ter sido suspensos "um ou dois meses" nesse período.

[Notícia atualizada às 16h59]

Leia Também: Livre pede "legislatura diferente" e "economia de vanguarda" na UE

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