A ex-deputada Cecília Meireles comentou, na quarta-feira, a moção de censura ao Governo proposta pelo Chega, que foi chumbada com as abstenções do Partido Social-Democrata (PSD) e Iniciativa Liberal, e votos contra dos restantes partidos. No programa 'Crossfire', emitido pela CNN, a comentadora sublinhou as dinâmicas do Partido Socialista e do Chega e explicou a alegada simbiose dos dois partidos.
"Costa e Ventura eram dois aliados improváveis, mas cada vez mais evidentes", notou Cecília Meireles, referindo-se à altura da campanha eleitoral. "E são", não deixou de defender.
"O seguro de vida de António Costa é que não haja uma alternativa à Direita. Ele usa regularmente a existência daquele partido para impedir a existência de um qualquer projeto alternativo", disse, horas depois de o debate da moção ter acontecido e durante o qual António Costa acusou André Ventura de 'falar, falar', falar', mas não apresentar "nem uma propostazinha".
Mas, na opinião da ex-deputada, que chegou a ser apontada como futura líder do CDS-PP, se o primeiro-ministro faz proveito da presença política do Chega, o mesmo acontece com o líder do Chega. "André Ventura cavalga essa onda. [Costa e Ventura] são aliados óbvios", notou.
A comentadora criticou ainda o sentido de oportunidade do Chega ao apresentar esta moção dias depois de Luís Montenegro assumir a liderança do PSD. "É normal que os políticos queiram marcar posição. Era o que faltava não o puderem fazer", considerou, explicando que mais do que mostrar que se impor como principal rosto da oposição, o Chega "demonstrou até alguma fragilidade" em intervir desta forma, visto que os sociais-democratas não têm, pós-congresso, "a capacidade reação". "Isto pode funcionar muito bem durante duas semanas, mas é uma coisa um bocadinho oca a longo prazo", afirmou.
Recuando até ao debate do Orçamento do Estado, a comentadora referiu que há outras maneiras de se marcar a agenda política. "No Orçamento do Estado, tudo o que eu vi como propostas alternativas - e isto foi verdade quer do ponto de vista do PSD, quer de André Ventura - eram a concorrer com o Bloco de Esquerda e com o PCP. A dizer: é preciso aumentos para os funcionários públicos, é preciso mais dinheiro aqui, mais ali", afirmou, acrescentando que houve "poucas vozes" a dizer algo alternativo.
"É uma coisa tão simples como esta: 'Há mais dinheiro na saúde, há mais médicos, funcionários, cada vez mais dinheiro público nas coisas, elas funcionam cada vez pior'. Está na altura de alguém apresentar uma alternativa", explicou, sublinhando que apresentar alternativas não se prendia só com dizer que está mal, mas apontar aquilo que se fazia de diferente. "E nisso, Ventura não se distingue daquilo que faz o PCP ou o Bloco de Esquerda", referiu.
Leia Também: Chega "fala, fala", mas nas redes apressou-se a 'calar' associação LGBTI+