"Boa ação" ou "intromissão"? As reações à 'palmada' de Costa na Endesa

Serviços do Estado não podem pagar faturas da Endesa sem validação prévia pelo secretário de Estado do Ambiente e da Energia. Os partidos não demoraram a começar a reagir - e houve (muitas) críticas.

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Notícias ao Minuto com Lusa
03/08/2022 09:30 ‧ 03/08/2022 por Notícias ao Minuto com Lusa

Política

Endesa

António Costa determinou, nesta terça-feira, que os serviços do Estado não podem pagar faturas da Endesa sem validação prévia pelo secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba, depois de o presidente da empresa ter admitido aumentos de 40% na fatura da eletricidade.

De acordo com um despacho assinado na segunda-feira e ontem enviado às redações, o primeiro-ministro asseverou ainda que, para evitar a descontinuidade do serviço, os serviços públicos e a Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública (ESPAP) devem proceder a consultas de mercado, para a eventual necessidade de contratação de novos prestadores "que mantenham práticas comerciais adequadas".

No despacho, António Costa sublinhou ainda o dever de o Estado proteger o interesse dos contribuintes na gestão dos dinheiros públicos perante as "ameaças de práticas especulativas nos preços a praticar pela Endesa".

Como reagiram os partidos? 

Governo levou o exercício do poder "demasiado longe"

As reações da oposição acerca deste 'Caso Endesa' não se fizeram esperar, com o PSD, inicialmente pela voz do vice-presidente Miguel Pinto Luz, a informar que vai requerer à Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) uma análise sobre o "verdadeiro efeito" para os consumidores do mecanismo ibérico para limitar os preços da eletricidade, criticando a "intromissão" do Governo no mercado.

Depois, já ao início da noite, foi a vez de Luís Montenegro, líder social-democrata, defender que o Governo levou o exercício do poder "demasiado longe" no despacho do primeiro-ministro sobre a Endesa, considerando que o executivo anda "nervoso" a lidar com situações inconvenientes.

A versão moderna de "quem se mete com o PS leva"

Outro dos primeiros partidos a reagir, esta terça-feira, foi a Iniciativa Liberal, através do seu líder, João Cotrim Figueiredo, acusando o PS de prepotência e retaliação ao determinar que os serviços do Estado não podem pagar faturas da Endesa sem validação, considerando ser a versão moderna de "quem se mete com o PS leva".

"PS significa também prepotência socialista porque perante declarações de um presidente de uma empresa privada que o PS não gosta, o que é que ele faz? Retalia", criticou o também deputado, num vídeo enviado às redações.

"Governo deve tomar todas as medidas"

Já o PCP reiterou que é "inaceitável a existência" de qualquer aumento do preço da eletricidade e que está na esfera do Governo encetar medidas para o evitar. Numa curta resposta enviada à Lusa, o PCP considerou "inaceitável a existência de qualquer aumento da eletricidade, pelo que o Governo deve tomar todas as medidas que o impeçam".

Na tarde de segunda-feira, recorde-se, num comunicado enviado às redações, o dirigente comunista Jorge Pires tinha dito que "nada justifica" um aumento do preço da eletricidade e que o aumento dos custos de produção era produto da "especulação que aproveita a redução de oferta por efeito das sanções".

Governo fez "boa ação"

O BE considerou que o Governo está a tomar uma "boa ação" face à Endesa, pedindo coerência e consequência para atuar da mesma forma perante outras empresas que estão "a lucrar de forma abusiva com a inflação".

"A discussão que gera a realidade do aumento de preços tem numa quota parte a responsabilidade de empresas que estão a agir de forma abusiva e a aproveitar-se da inflação para impor preços exorbitantes às pessoas e, por isso, o Governo, ao agir contra esta empresa [a Endesa] e a intenção que foi levantada, está a tomar uma boa ação", disse à agência Lusa o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, a propósito do despacho emitido por António Costa. 

Chega acusa Costa de "ameaçar" uma empresa privada

Na sua reação ao tema, Chega revelou que vai propor a audição no Parlamento da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), da Endesa e do secretário de Estado da Energia, e acusou o primeiro-ministro de "ameaçar" uma empresa privada.

"O Chega vai ainda hoje [terça-feira] chamar de urgência ao Parlamento o presidente da ERSE, o presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, e o secretario de Estado João Galamba para darem explicações tão urgentes quanto possível desta situação", anunciou o presidente do Chega, André Ventura. 

O que está em causa? 

O presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, disse no domingo, em entrevista ao Jornal de Negócios e à Antena 1, que a eletricidade iria sofrer um aumento de cerca de 40% já nas faturas de julho, e que esse aumento era justificado pelo mecanismo ibérico para controlar o preço do gás na produção elétrica.

Na sequência das declarações, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, divulgou um comunicado, no qual rejeitava declarações de Nuno Ribeiro da Silva, classificando-as como "alarmistas".

À Lusa, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, afirmou ser impossível verificar-se uma subida de 40% na fatura da energia através do mecanismo ibérico, remetendo para as ofertas comerciais das próprias empresas.

Ainda no domingo, depois das declarações polémicas do presidente da Endesa, a ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos veio dizer que iria estar "particularmente atenta" ao comportamento dos comercializadores relativamente à repercussão do impacto sobre os consumidores do mecanismo ibérico que limita o preço do gás para efeitos de produção de eletricidade.

Depois da polémica, a Endesa acabou por emitir a segunda-feira um comunicado comprometendo-se a manter os preços contratuais até dezembro e a cumprir os compromissos estabelecidos no mecanismo ibérico.

Leia Também: Fatura da luz? "Não vai haver nenhum aumento de 40% no mês de agosto"

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