Após o fim da "geringonça", o acordo parlamentar à esquerda, incluindo o PCP, que viabilizou o Governo minoritário do PS, de 2015 a 2019, e já com um executivo de maioria absoluta, Paulo Raimundo foi, em março, o porta-voz comunista de um apelo à mobilização dos trabalhadores e das populações para protestar contra o aumento do custo de vida.
"O PCP apela aos trabalhadores e às populações que se mobilizem, que façam ouvir a sua indignação e protesto contra o aumento do custo de vida e travem com a sua ação o processo em curso para subir preços, aumentar juros, promover especulação e atacar direitos", disse o dirigente comunista, numa declaração divulgada pelo partido.
E apontou ao Governo do PS de maioria absoluta, liderado por António Costa, afirmando que "não pode fechar os olhos a esta realidade" e disse: "Há que agir e travar a gula dos monopólios."
No congresso de Loures, em 2020, o futuro secretário-geral dos comunistas falou sobre o futuro do partido, "com uma confiança inabalável nas massas, na juventude e nos trabalhadores".
À margem do congresso, em declarações à Lusa, defendeu que o recrutamento de novos militantes "não é uma obsessão", mas "é um desafio" para o PCP.
"Não vivemos obcecados com esse problema nem alteramos critérios por causa disso. Claro que gostávamos de ter mais militantes do que temos mas não vivemos obcecados com essa questão dos números", assegurou.
A 06 de março de 2022, durante um comício de comemoração do 101.º aniversário do partido, no Campo Pequeno, em Lisboa, Paulo Raimundo advogou, numa intervenção em que defendeu que "a força organizada dos trabalhadores é capaz de tudo", assinalou que "todos os que são explorados, mesmo que ainda não tenham consciência disso mesmo, sabem pela dureza da vida que algo não está certo".
O dirigente que agora vai ascender à liderança do partido centenário acredita que está a ser travada "uma intensa luta de classes" e a ideia de que esta é uma "luta do passado" está errada porque que a realidade demonstra o contrário: "A realidade é que a vida está mais difícil."
Naquele comício no Campo Pequeno, sustentou aos militantes que "isto está mau, mas não é para todos" a apontou aos "lucros do Pingo Doce, da SONAE, da EDP, da Galp ou dos bancos" e falou de uma "autêntica pilhagem liberal" que está há muito tempo em curso e "para a qual não há limites".
Por uma "vida melhor" para os trabalhadores, Paulo Raimundo acrescentou naquele momento que "cada aumento de salário, cada trabalhador com contrato precário que passe a efetivo" é sinal de uma "melhoria da condição de vida dos trabalhadores, a elevação da sua consciência mas também um recuo da exploração e da força do patronato".
Em junho de 2015, ainda antes da génese da "geringonça" Paulo Raimundo demarcou-se do PS de António Costa de "definir o melhor caminho para manter as amarras que não largam" os portugueses.
Defensor das demonstrações das massas nas ruas, Paulo Raimundo não escondeu em setembro de 2015, em declarações à Lusa, que as grandes manifestações não são apenas "para gáudio do partido", mas principalmente para "demonstrar que há vontade de mudança".
Paulo Raimundo pertence aos principais órgãos do partido - comité central, comissão política e secretariado.
Em comunicado, o PCP anunciou no sábado à noite que Jerónimo de Sousa, "refletindo sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume, colocou a questão da sua substituição nas funções que desempenha" como secretário-geral do PCP.
Numa reunião do Comité Central do PCP marcada para o próximo sábado, 12 de novembro, "será feita a proposta de eleição de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP", lê-se no mesmo comunicado.
Jerónimo de Sousa, antigo operário e deputado desde os tempos da Assembleia Constituinte, liderava o PCP há 18 anos.
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