Cheias em Lisboa? "A Proteção Civil agiu tarde e a más horas"
Comentador político aponta críticas à atuação da Proteção Civil, na última quarta-feira, e considera mesmo que a autoridade "falhou". No seu espaço de comentário, este domingo, Marques Mendes defendeu ainda um referendo à eutanásia e refletiu sobre a eliminação de Portugal do Mundial do Qatar.
© Global Imagens
Política Marques Mendes
Luís Marques Mendes considerou, este domingo, que a Proteção Civil "agiu tarde e a más horas" no que diz respeito às chuvas intensas registadas em Lisboa, na última quarta-feira, e que provocaram cheias por toda a região.
No seu habitual espaço de comentário, na SIC, o antigo dirigente do PSD mostrou estar de acordo com as críticas apontadas à Proteção Civil, o que fez com que, "nos últimos dias", a autoridade tivesse agido de forma diferente.
"Na quarta-feira, a Proteção Civil agiu tarde e a más horas. Ou seja, o país foi todo confrontado, sobretudo aqui na região da grande Lisboa - Lisboa, Algés Loures - com cheias fortíssimas", disse, lembrando que "é suposto" a Proteção Civil "ter mais dados" do que qualquer cidadão.
"É por isso é que estão lá, por isso é que são autoridades, eles, a Meteorologia", notou, admitindo que, nestas ocasiões, o "normal" é que se avise a população "por SMS, ou por outra forma visível, notória, eficaz".
"Praticamente as pessoas não tiveram aviso, foram surpreendidas. (...) Ou seja, a Proteção Civil falhou", considerou, defendendo que foi por esse motivo que, nos dias seguintes, a autoridade já agiu "com outra atenção, cautela e antecipação".
"Da Proteção Civil exige-se antecipação e informação a tempo e horas, não houve. Essa parte é indiscutível", reiterou.
Para o comentador, "a questão mais importante" nas cheias registadas, tanto em Lisboa, como noutras localidades, é o facto de ser algo que acontece "ciclicamente", sendo necessárias obras para resolver este tipo de problemas.
"Uma parte grande dos políticos, autarcas ou não autarcas, deste caso estamos a falar de autarcas, desvalorizam estas obras, estes investimentos necessários para resolver os problemas", afirmou.
"Evidentemente que estas questões têm soluções, podem ser tecnicamente mais difíceis ou menos difíceis, podem ser mais caras ou menos caras, mas há soluções", acrescentou, dando como exemplo os túneis que vão ser feitos na capital.
"Agora, por que é que durante anos se fala disso e não se faz? Por uma razão muito simples, é preciso dizer as verdades. Porque não dá votos. Essas obras não dão votos", atirou.
Contudo, Marques Mendes considerou que, neste caso, Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, "só pode ser saudado", uma vez que "há dois ou três meses já tinha anunciado esses túneis de drenagem".
Eutanásia
Também a eutanásia foi um dos temas a ser comentado por Marques Mendes na noite deste domingo, com o antigo líder do PSD a defender que um referendo fazia sentido.
"Não vai ser feito referendo, evidentemente, mas acho um erro não ser feito. E, portanto, um dia mais tarde se verá", disse.
O comentador explicou as suas razões, começando por defender que o referendo é uma "alternativa", uma vez que quem decide não são os 230 deputados do Parlamento, mas "milhões de portugueses".
"É o instrumento mais democrático que há para decidir, a par das eleições", sublinhou, acrescentando depois que esta é uma matéria típica de referendo.
"Há duas matérias que normalmente são apresentadas como exemplos típicos de matérias que devem ser resolvidas por via de consulta popular: a interrupção voluntária da gravidez e a eutanásia. Porque são questões no fundo, no fundo, de consciência individual de cada um. Portanto, deve ser a consciência individual de cada português a decidir", defendeu.
Por outro lado, o comentador notou que estas são matérias que não são "tipicamente políticas ou ideológicas, têm divisões, à esquerda e à direita", o que representa "mais uma razão para dar palavra aos portugueses".
"Eu acho que tendo sido feito um referendo sobre interrupção voluntária da gravidez, é difícil compreender ainda mais que não seja feito nesta matéria, porque os princípios que estão em causa (...) são sensivelmente os mesmos", notou.
Por último, Marques Mendes considerou que "mesmo para os deputados que votaram a favor da lei" esta não será "uma boa solução", defendendo que uma matéria tão "fraturante" e "polémica" não deve ser resolvida na Assembleia da República.
Lembrando que se uma matéria tão complexa se resolve por uma "maioria conjuntural", o comentador notou que corre-se "o risco daqui a quatro, cinco, seis anos, de haver uma maioria conjuntural de sentido oposto que vai revogar a lei aprovada agora".
Sobre o papel do PSD, Marques Mendes entendeu que o partido não esteve bem e que "para ser credível" deveria ter proposto o referendo no início do processo legislativo, em 2019, para que este não fosse visto como "uma manobra".
Contudo, o comentador sublinhou que Rui Rio merece mais reparos nesta matéria, uma vez que era líder do PSD nessa altura, e Montenegro "chegou há poucos meses" e sempre defendeu o referendo.
Assim, os social-democratas deixaram esta matéria "nas mãos do Chega". "É a mesma coisa que contaminar o processo", disse Marques Mendes.
O comentador considerou, assim, que o Presidente da República deve, agora, enviar a lei ao Tribunal Constitucional.
Seleção nacional e o 'adeus' ao Mundial
Marques Mendes confessou estar "bastante" desiludido com a eliminação de Portugal do Mundial'2022. Apesar de considerar que não foi uma exibição "medíocre", o comentador entendeu que "também não fica na história", sobretudo "com a equipa notável que temos".
Já o futuro de Fernando Santos no comando técnico da seleção das 'quinas' é, na ótica de Marques Mendes, "um berbicacho".
"Fernando Santos é um mal-amado dos portugueses, os portugueses nunca apreciaram muito Fernando Santos como treinador, como selecionador", começou por refletir, notando, contudo, que algumas críticas são injustas, e que o selecionador nacional esteve "globalmente bem".
"Teve um caso difícil para resolver, o caso Ronaldo, que, de resto, teve um problema de indisciplina. Eu acho que ele resolveu bem, resolveu de forma corajosa, de forma responsável, mas ao mesmo tempo sem ser provocador e não humilhar Ronaldo", defendeu.
O "problema" é agora para Fernando Santos, mas também para o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes - um problema que não se prende com "a parte jurídica".
"Se sai agora, de repente, nas próximas semanas, fica muito a sensação de que foi o caso Cristiano Ronaldo, ou seja, foi empurrado. (…) Mas se fica, ele vai ter a vida cada vez mais difícil, porque já é um mal-amado do país, porque nos últimos Mundial e Europeu já não teve grandes resultados, porque agora vai ter Cristiano Ronaldo contra ele", disse.
"Fernando Santos, durante anos, foi, talvez, a pessoa que mais protegeu Cristiano Ronaldo, mas, neste momento, aquilo é uma guerra civil entre os dois", atirou.
Agora, é preciso pensar no quer Fernando Santos, Fernando Gomes, e "quem é a alternativa para selecionador", caso haja mudanças. "Isto é um berbicacho, eu não queria estar na pele do presidente da FPF", disse.
Já quanto a Cristiano Ronaldo, o comentador afirmou ser "injusto e de uma enorme ingratidão" o que lhe fizeram nos últimos dias.
"Teve uma falha enorme de disciplina, no jogo com a Coreia, não está a saber lidar com o fim da sua carreira, e também tem um ego um bocadinho maior do que o habitual", enumerou, concluindo que, "apesar de tudo isso", é uma "injustiça brutal" a forma como foi tratado.
"Ele é um caso único e irrepetível", disse, destacando as alegrias e vitórias que o futebolista deu a Portugal.
Leia Também: Montenegro discorda totalmente da posição de Passos sobre a eutanásia
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com