A 30 de janeiro de 2022, o Partido Socialista (PS) venceu as eleições legislativas antecipadas com maioria absoluta e elegeu 120 deputados. Seguiu-se o Partido Social Democrata (PSD) em segundo lugar, com 77 parlamentares. O Chega conseguiu a terceira maior bancada, com 12 deputados, seguindo-se a Iniciativa Liberal, com oito, o PCP, com seis, o BE, com cinco, o PAN, com um, e o Livre, também com um.
Um ano depois, não faltam críticas ao terceiro governo de António Costa. Contudo, o PS defende que é normal, num contexto de maioria absoluta, que partidos ou movimentos da sociedade "se concentrem" na confrontação ou diálogo com o Governo.
Em entrevista à agência Lusa, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias foi questionado sobre se as recentes polémicas com governantes e a apresentação de duas moções de censura no parlamento são um sinal de enfraquecimento do Governo. O dirigente socialista começou por dizer que "as maiorias absolutas têm uma característica que é a de colocar no centro da atividade política - e política muito para além do hemiciclo - o Governo e a ação do Governo".
"É normal é que as outras forças políticas, com perspetivas muito diferentes - não são todas iguais, naturalmente - se concentrem em fazer oposição ao Governo e que todos os movimentos da sociedade, quer desde o ponto de vista sindical e outros, se concentrem no essencial na sua agenda de confrontação, ou também de diálogo, com o governo", salientou.
E a oposição? O que diz?
O PSD classificou como uma "verdadeira deceção" o primeiro ano da maioria absoluta socialista, considerando que o PS "desperdiçou uma grande oportunidade" e "desbaratou a confiança" que os portugueses lhe deram nas últimas eleições legislativas.
"Creio que avaliação que o PSD faz é muito similar àquela que hoje os portugueses também fazem, é uma verdadeira deceção", afirmou o secretário-geral social-democrata, em declarações à agência Lusa.
Hugo Soares assinalou que "os portugueses deram, há um ano, uma maioria absoluta ao PS", com o propósito de "dar estabilidade política ao país", mas "o que tem acontecido é tudo menos aquilo que eram os propósitos dessa maioria absoluta".
O líder do Chega, André Ventura, evidenciou os "casos atrás de casos, instabilidade atrás de instabilidade, com questões quer na justiça quer na comunicação social, e o Governo a mostrar que a maioria absoluta lida muito mal com o escrutínio".
"Eu acho que o Governo está muito fragilizado e duvido que chegue até ao fim, honestamente, e acho que é o Presidente da República que, infelizmente, cedo ou tarde, vai ter de pôr um ponto final nisto, porque o parlamento não o pode fazer, visto que está limitado pela maioria absoluta que neste momento o PS tem", sustentou.
Por sua vez, a Iniciativa Liberal acusou o Governo de "incompetência, incapacidade e instabilidade" e considerou que "cada dia que passa com este PS em funções é pior para o país".
"Este Governo tem três características. Duas delas que já eram características que nós apontávamos aos governos de António Costa, a primeira é incompetência e a segunda é incapacidade, e este Governo tem uma característica muito sua, a que se juntou a estas duas, que é a instabilidade", afirmou o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva.
O PCP defende que as polémicas que envolvem o Governo são "reflexo da subserviência e subordinação" do poder político ao poder económico, insistindo que o partido tinha razão quando afirmou que "era necessário mudar de política".
"Não desvalorizamos, naturalmente, as circunstâncias que têm sido conhecidas relativamente aos membros do Governo, aliás, elas são também resultado e reflexo da subserviência e da subordinação do poder político ao poder económico, da promiscuidade que existe entre poder económico e político, com membros do Governo que estão em funções públicas e depois passam para o exercício de altos cargos em empresas e grupos económicos", defendeu a líder parlamentar do PCP, Paula Santos.
Já o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, classificou o executivo de António Costa como o "governo da trapalhada", que está a "frustrar todas as promessas" que fez há cerca de um ano, acusando-o de desvalorizar o parlamento.
"Este governo é incapaz de se focar e de dar estabilidade à governação: é um conjunto de casos que se sucedem em catadupa, numa enorme trapalhada que marca este ano de governação, e por isso é um governo da trapalhada", defendeu Pedro Filipe Soares.
Pelo PAN, a líder Inês Sousa Real considerou que o primeiro ano de maioria absoluta do PS foi de "profunda instabilidade" e lamentou que o diálogo seja "menos presente" do que na anterior legislatura.
"Este é um ano de profunda instabilidade", afirmou, considerando que "todos estes casos que têm vindo a público põem em causa a confiança nas instituições, na democracia, põem em causa também aquele que é o diálogo parlamentar".
"Temos um Governo que o maior receio era que estivesse fechado na própria maioria absoluta, neste momento é um Governo que está perdido na sua maioria absoluta", afirmou Inês de Sousa Real.
Por último, o deputado único do Livre, Rui Tavares, acusou o executivo de ter "excesso de confiança" e desafiou o PS a governar como se não tivesse maioria absoluta.
"O meu conselho ao PS é que pare de falar de maioria absoluta e que governe como se não a tivesse. Até sabendo que em caso de necessidade tem uma maioria parlamentar, deve usar isso como oportunidade para falar com todos os partidos, para falar com a sociedade civil, com as autarquias, com a concertação social, com os sindicatos - agora, mesmo na questão do ensino - tendo até orgulho na negociação sindical porque essa é uma mensagem importante para o país e não estar sempre a mencionar a maioria absoluta como se ela fosse uma espécie de abracadabra que resolve todos os problemas quando, na verdade, até os agrava", defendeu.
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