António Costa admite: Governo "cometeu erros" e "pôs-se a jeito"

O primeiro-ministro admitiu hoje que o Governo "cometeu erros" e "pôs-se a jeito" nestes primeiros meses de maioria absoluta, mas afastou qualquer relação entre uma eventual derrota nas europeias de 2024 e uma crise política.

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Lusa
30/01/2023 22:24 ‧ 30/01/2023 por Lusa

Política

Primeiro-ministro

Em entrevista à RTP, conduzida pelo jornalista e diretor de informação, António José Teixeira, António Costa reiterou a intenção de chegar ao final da legislatura em outubro de 2026, considerando que foi esse o objetivo dos portugueses quando deram ao PS uma maioria absoluta, há exatamente um ano.

Questionado sobre um cenário de dissolução do parlamento em 2024, ano de eleições europeias, o primeiro-ministro procurou desdramatizar um eventual mau resultado do PS.

"Tenho visto essa conversa sobre eleições europeias, só por três vezes é que um partido que está no Governo ganhou eleições europeias. Eu espero que o meu partido ganhe, mas pode não ganhar, e nunca foi isso que causou qualquer crise política", afirmou, admitindo que, além das questões europeias, os portugueses usam muitas vezes este sufrágio para "um voto de protesto".

"Mas daqui até maio/junho de 2024 há muita água para correr", salientou.

Na parte inicial da entrevista, o primeiro-ministro foi confrontado com os vários "casos e casinhos" no Governo nestes primeiros meses.

"Este ano seguramente o Governo pôs-se a jeito e cometeu erros, mais o maior tropeção que tivemos de enfrentar foi a guerra desencadeada pela Rússia", afirmou, defendendo que o problema central que preocupa os portugueses é a inflação.

António Costa recusou ainda a imagem de um Governo desgastado: "Eu sinto-me bem e o meu médico também me diz que eu estou bem", respondeu, em tom bem-humorado.

"O Governo tem de provar todos os dias aquilo que vale, os portugueses decidiram que devia haver maioria absoluta porque não queriam mais governos a cair de dois em dois anos, como o Presidente da República teve oportunidade de interpretar logo no primeiro dia do Governo: que eu próprio deveria ser primeiro-ministro durante quatro anos", insistiu.

Na entrevista de cerca de 50 minutos, António Costa voltou a insistir que o seu Governo tem demonstrado como "uma maioria pode ser dialogante", apontando os acordos em sede de concertação social, na função pública e com os municípios, mas também no parlamento, frisando que a maioria das propostas do executivo não é aprovada apenas com o voto dos socialistas.

Sobre o último ano, Costa recusou críticas de falta de humildade ou de ligação à realidade, dizendo que tem insistido que não são os problemas do Governo que estão no centro das preocupações dos portugueses.

"Obviamente que houve problemas dentro do Governo com consequências políticas que eram graves, houve duas mudanças de ministros, algumas pessoas que saíram por doença e três que saíram por questões ou de ética ou judiciais. Esses problemas, sem desvalorizar a sua dimensão, não se comparam com os problemas que atingem o dia a dia dos portugueses", defendeu.

O primeiro-ministro disse ter aprendido que o facto de haver maioria absoluta "reforça o escrutínio e o grau de exigência" e reconheceu que talvez nem sempre o Governo tenha respondido "prontamente às dúvidas que existiam".

"O que é mais relevante é a estabilidade de políticas, foi nas políticas que os portugueses votaram", disse, insistindo que "o grande motivo de insatisfação das pessoas tem a ver com a inflação" ou o seu impacto nos créditos à habitação.

Na entrevista à RTP, Costa reiterou ter ficado surpreendido com a revelação do ex-ministro Pedro Nuno Santos de que, afinal, tinha autorizado o pagamento de uma indemnização da TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, e admitiu estranheza que tal tenha sido feito via mensagem escrita.

"Acha que algum primeiro-ministro pode validar esse tipo de decisão? Claro que não, nem o próprio validou", disse, assegurando que só soube de tal informação quando Pedro Nuno Santos a revelou, já após a sua demissão.

Na parte económica da entrevista, o primeiro-ministro afirmou que na terça-feira serão conhecidos os números do INE sobre o crescimento de 2022, adiantando apenas que "todas as previsões indicam" que terá sido acima do previsto, mostrando-se também otimista quanto ao ano em curso.

"Todas as previsões para este ano indicam que Portugal vai ter crescimento, não tão forte como este ano, mas vai continuar a crescer", disse.

O primeiro-ministro considerou, por isso, que 2023 é um ano que os portugueses "podem encarar com confiança", mas avisando que é preciso "manter a firmeza" para que os números batam certo.

No entanto, recusou que as contas certas sejam uma meta a todo o custo deste governo: "Eu gosto de falar [em contas certas] e os portugueses gostam de as ter", disse.

"Se for necessário tomar novas medias na margem orçamental da nossa disponibilidade, claro que o faremos", assegurou, salientando que em 2023 quer o Salário Mínimo, quer as prestações sociais, quer "o conjunto do aumento" nas pensões já foram acima da inflação.

Leia Também: Costa anuncia Conselho de Ministros sobre habitação a 16 de fevereiro

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