André Ventura respondia aos jornalistas no parlamento sobre as declarações do líder do PSD, Luís Montenegro, que hoje negou qualquer aproximação ao Chega.
O deputado do Chega admitiu não ter ouvido as afirmações de Montenegro, mas considerou que Montenegro quer "agradar à fação direita e esquerda do PSD e, portanto, tenta dizer uma coisa para fora e outra para dentro".
"Para fora diz: nós estamos a aproximar-nos do Chega, as posições são as mesmas, temos aqui a possibilidade de um entendimento porque essa foi a exigência do Presidente da República. Montenegro não pode dizer à segunda, quarta e sexta que se nas [eleições] europeias resultar uma maioria clara à direita vai a Belém pedir a dissolução [do parlamento], mas sabe que o Presidente exige que haja uma alternativa", sustentou.
E, portanto, continuou, o que Montenegro "quer dizer para fora é: já há essa alternativa".
Mas "para dentro", alegou, o discurso é diferente para "acautelar" os críticos, fazendo referência às declarações do ex-vice-presidente do PSD André Coelho Lima, que recentemente recusou "uma visão utilitária da imigração" e considerou que as reservas ao acolhimento de imigrantes revelam "défice de mundividência" e são "pouco inteligentes".
"Eu compreendo isso. O PSD é um partido em guerrilha interna e o Chega não tem esse problema. (...) A diferença entre o PSD e o Chega é esta: o PSD tem que de arrumar a casa para poder ser Governo, o Chega tem a casa arrumada para ser Governo. Agora vai depender do PSD. Nós temos tempo", afirmou.
Na opinião de Ventura, "o PSD tem que limpar a casa de uma vez para que estes ex-vice-presidentes, ex-rioístas, ex-barrosistas, ex-tudo, que já não serão nada, são só ex, não serão um peso predominante no partido no futuro", atirou.
Caso contrário, acrescentou, a alternativa é "ficar sentados com o PS a governar legislatura após legislatura".
Na opinião de Ventura, Montenegro "foi mais inteligente que Rui Rio [antigo líder do PSD] mas agora tem que ser mais afirmativo" e dizer: "sim, estamos a criar uma alternativa".
"Vai espernear uma parte do PSD mas é 15% ou 10%, não é mais do que isso", argumentou.
O líder do Chega foi ainda questionado sobre as declarações do Presidente da República, que pediu hoje "bom senso" a Montenegro e Moedas quanto a um "tema tão sensível" como os imigrantes e considerou que "declarações muito emocionais feitas em cima de casos correm o risco de ser irracionais".
Advertindo que "a cópia perde sempre para o original", o chefe de Estado apontou que "as posições que são tomadas não podem ser tomadas atrás das emoções".
Ventura concordou e acrescentou que considera Luís Montenegro "um homem inteligente".
"Quando ele está a dizer que a imigração tem que ser controlada e os subsídios têm que ser controlados ele não está a tentar imitar-me (...) eu acho que ele pensa isto e, portanto, acho que temos caminho para um entendimento", insistiu.
Na semana passada, a propósito do incêndio na Mouraria que matou duas pessoas, Carlos Moedas defendeu que se deve estabelecer limites por setores à imigração e criticou que seja possível atualmente a entrada de imigrantes em Portugal sem contrato de trabalho. Já Luís Montenegro considerou que o país deve receber imigrantes "de forma regulada" e "procurar pelo mundo" as comunidades que possam interagir melhor com os portugueses.
O deputado foi ainda questionado sobre a decisão anunciada hoje pela coordenadora do BE, Catarina Martins, de não se recandidatar à liderança do partido, considenrando que era "inevitável" uma renovação.
"Não posso desejar felicidades políticas a Catarina Martins mas desejo-lhe o melhor pessoalmente", disse.
[Notícia atualizada às 18h16]
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