Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, considera que esta é "mais uma encenação habitual" do primeiro-ministro que "sacode as responsabilidades" e que a reação “peca por tardia“.
“É recorrente António Costa usar o estratagema de dizer que não conhecia o e-mail, que não conhecia a informação, que não sabia. O primeiro-ministro tem de saber tudo o que se passa na esfera de influência do Governo. Ninguém consegue gerir o que não conhece. E o primeiro-ministro tem de saber tudo o que se passa na esfera de influência do seu Governo e deve explicar aos portugueses o que se passa”, referiu em declarações à RTP.
Já em declarações à Lusa desafiou o primeiro-ministro a ponderar se tem condições para continuar a governar e pediu-lhe que "abra uma exceção" e esclareça as polémicas sobre a TAP apesar de estar no estrangeiro.
Pinto Luz criticou ainda o facto de o primeiro-ministro ter respondido a um tema "muito específico, fugindo a todos os outros temas que vieram a lume na semana passada".
O social-democrata referiu que ainda hoje, segundo uma notícia do Jornal de Negócios, se soube que Alexandra Reis, quando era secretária de Estado do Tesouro, se reuniu com o presidente não executivo e o administrador financeiro da TAP, apesar de ter assegurado que "iria pedir escusa de todos os temas" relacionados com a transportadora aérea.
"Ficámos, na semana passada, a saber que João Galamba organiza reuniões secretas para ludibriar a Assembleia da República (...), que Fernando Medina se reúne à noite, no ministério, para pressionar a CEO a demitir-se quando esta apresenta resultados positivos (...) e que o secretário de Estado Hugo Mendes trata o Presidente da República com uma dimensão utilitária para o PS", acrescentou.
Perante estas revelações, Pinto Luz exortou novamente Costa a "vir responder" e pediu-lhe que, mesmo estando fora do país, "abra uma exceção" e "fale, esclareça os portugueses, olhos nos olhos, sem preconceitos, sem rodeios, sem sacudir água do capote, como é seu apanágio".
O social-democrata apelou a que Costa não volte a dizer, "como sucessivas vezes disse, que não sabe, desconhece, não leu, não ouviu, não lhe disseram".
"Um primeiro-ministro que não sabe, que não ouve, que não lhe disseram, que não sabe o que se passa nem o que os seus ministros e secretários de Estado fazem, tem de fazer uma autoanálise e perceber se está capaz de continuar a governar o país", salientou.
Questionado sobre se o PSD considera que António Costa reúne essas condições de governação, Pinto Luz respondeu: "É uma análise que agora urge o senhor primeiro-ministro fazer e o senhor Presidente da República fazê-la também, já que o PS o tratou com enorme desrespeito".
Recorde-se o primeiro-ministro considera gravíssimo o email que o ex-secretário de Estado Hugo Mendes enviou à presidente executiva da TAP sobre o chefe de Estado e afirma que teria obrigado à sua demissão na hora.
Esta posição de António Costa foi transmitida em resposta à agência Lusa antes de partir para uma visita de dois dias à Coreia do Sul, depois de questionado sobre o teor do polémico email do ex-secretário de Estado das Infraestruturas, que se tornou público na comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão da TAP.
"Como ainda não parti, respondo a essa questão de política interna. Cada instituição tem o seu tempo e este é o tempo da Assembleia da República apurar a verdade, toda a verdade, como tenho dito, doa a quem doer", declarou o líder do executivo.
António Costa referiu que "não conhecia" esse email "e, se tivesse conhecido, teria obrigado o ministro [das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos] a demiti-lo, na hora".
"É gravíssimo do ponto de vista da relação institucional com o Presidente da República e inadmissível no relacionamento que o Governo deve manter com as empresas públicas", acentuou.
Na terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, o deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco confrontou Christine Ourmières-Widener com uma troca de emails com o então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, sobre uma eventual mudança de data de um voo que tinha como passageiro o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse email que dirigiu à presidente executiva da TAP, o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes argumentava que era importante manter o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que era o "principal aliado" do Governo mas que poderia tornar-se o "pior pesadelo".
Neste ponto, ainda em resposta à agência Lusa, o primeiro-ministro sustentou que a atuação de Hugo Mendes não corresponde "de forma alguma" ao padrão de relacionamento do seu executivo com as empresas públicas.
"Não confundo a natureza pública com gestão política. O acionista define orientações estratégicas e avalia a gestão na apreciação das contas. Não pode interferir na gestão corrente da empresa", acrescentou.
Questionado sobre o seu relacionamento institucional com a administração cessante da TAP, o líder do executivo disse que só se reuniu uma vez com a presidente da comissão executiva, Christine Ourmières-Widener, para esta lhe apresentar o plano de reestruturação da transportadora aérea nacional.
"E com as outras empresas aprecio o relacionamento estratégico que os ministros mantêm com o Metro, a Caixa Geral de Depósitos ou as Águas de Portugal, por exemplo", completou.
Leia Também: "A TAP foi sugada por prémios aos gestores e contratos ruinosos"