A ex-eurodeputada Ana Gomes comentou a polémica da investigação de um eventual caso de tráfico de seres humanos com epicentro numa academia de futebol em Famalicão, considerando que há "ligações duvidosas" entre o mundo da política e o futebol.
"Foi o Joaquim Evangelista, que é o presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais, que chamou a atenção que era inacreditável que só agora isto se soubesse, esta investigação já estava em curso há muito tempo", começou por dizer Ana Gomes, no seu espaço de comentário na SIC Notícias, referindo que já existiram diversas operações ao longo dos anos.
"Pelo menos desta vez atuou-se e foram resgatadas cerca de 100 pessoas, 36 dos quais menores, crianças", afirma, considerando que esta pode ser só a ponta do icebergue.
“O principal indivíduo envolvido era presidente da Liga, tinha acesso até a ministros para pedir agilização de vistos e depois há as empresas patrocinadoras, uma duvidosíssima seguradora com ligações duvidosas a uma seguradora também, com ligações a investidores bastante duvidosos também. Só espero que as autoridades reguladoras dos seguros, portuguesas e europeias, que não estejam a dormir", considerou a socialista.
Questionada se esta ligação entre o mundo da política e o futebol tem de ser revista, Ana Gomes declarou que "tem declinações neste âmbito da mercantilização do Espaço Schengen" que pode trazer "graves consequências para a segurança nacional e europeia".
"Isto tudo decorre de haver uma cumplicidade, no mínimo, de vários atores políticos nestes esquemas. É a única explicação para que isto se mantenha. E sim, vários destes esquemas estão ligados ao futebol e há políticos de todos os quadrantes com ligações aos negócios estranhos do futebol, que passam por todos os clubes", afirmou.
De recordar que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) anunciou na semana passada que foram constituídos arguidos dois cidadãos portugueses e cinco sociedades, no âmbito da investigação por eventual tráfico de seres humanos com epicentro numa academia de futebol em Famalicão.
Em comunicado, o SEF acrescenta que foram sinalizadas 47 vítimas de tráfico de pessoas, das quais 36 menores e nove jovens adultos, que “foram colocados sob proteção do Estado português".
Os menores foram acolhidos em instituições da Segurança Social, por indicação da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e do Tribunal de Família e Menores de Vila Nova de Famalicão.
No total, foram identificados 85 estrangeiros, entre adultos e menores.
Em nota publicada na sua página, a Procuradoria-Geral Regional do Porto refere que os menores foram retirados da academia "por se encontrarem em situação de perigo".
Na segunda-feira, o SEF deu cumprimento a cinco mandados de busca judiciais, tendo apreendido documentos, nomeadamente passaportes e cartões de residência que não estavam na posse dos seus titulares.
As buscas aconteceram numa academia de futebol em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão, e estenderam-se ainda à casa do presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Mário Costa, ligado àquela academia. O responsável acabou mesmo por renunciar ao cargo na Liga.
Leia Também: Conselho de Disciplina abre processo ao 'caso BSports'