O antigo ministro das Infraestruturas e atual candidato à liderança do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, afirmou, esta segunda-feira, que as primeiras reações que teve aquando a notícia do processo judicial que levou à demissão do primeiro-ministro, António Costa, foram "surpresa e preocupação", e não pensou, naquele momento, em candidatar-se ao cargo de secretário-geral do partido.
"A minha reação foi de surpresa e rapidamente evoluiu para preocupação. Preocupação, nomeadamente, com o impacto que este processo tem na confiança dos portugueses nas instituições democráticas e no próprio Partido Socialista", disse, em entrevista à SIC Notícias.
Afirmando que "estava longe" de imaginar que a corrida à liderança do PS seria neste momento, Pedro Nuno Santos considerou que "criaram-se condições" para a sua candidatura, apesar de "este não ser o momento ideal ou preferido para qualquer candidato do PS".
Questionado sobre as polémicas que envolvem o agora ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, Pedro Nuno Santos sublinhou que "as pessoas são diferentes" e se estivesse no seu lugar "teria feito outra opção", reconhecendo que se teria demitido.
O socialista, que na sua apresentação reconheceu os seus "erros e cicatrizes", afirmou que "ao longo do seu percurso político" foram "cometidos erros, uns com mais mediatismo do que outros".
"A minha saída do Governo deveu-se a um processo que não correu bem e do qual se retiram consequências e também se retiram aprendizagens", reconheceu.
Pedro Nuno Santos afirmou, contudo, que a divulgação do novo aeroporto sem autorização do primeiro-ministro não foi um desses erros. "Era para mim insuportável a ideia de que tínhamos de esperar mais um tempo prolongado para se decidir a localização do aeroporto. O país está há 50 anos à espera de decidir a localização do aeroporto. Foram estudadas 17 localizações. Há ali um momento de querer, obviamente, que o Governo decida", explicou.
Na sua apresentação, o político alertou também para a possibilidade do Partido Social Democrata (PSD) se poder aliar ao Chega para formar governo, apesar de "prometer" não o fazer.
"Ainda agora nos promete que não fará acordos com a direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer", afirmou.
"Para mim é um problema. Constitui um problema para mim e para a maioria dos portugueses, que se normalmente situam no centro político. Esse é um risco e um risco real", alertou, sublinhando tratar-se de um "problema que não dá para ignorar".
"E esse risco é real, até porque, nos Açores, onde o PS ganhou as eleições, o PSD decidiu fazer uma aliança com vários partidos, ou diferentes acordos com diferentes partidos, um deles o Chega", indicou.
"O projeto do PSD mais Iniciativa Liberal já é suficientemente radical para nos preocupar, sem a muleta do Chega", disse Pedro Nuno Santos, que acrescentou que "um governo do PSD com a Iniciativa Liberal seria um governo mais à direita do que o de Pedro Passos Coelho".
Questionado sobre possíveis coligações com o Partido Comunista Português (PCP) ou com o Bloco de Esquerda (BE), Pedro Nuno Santos garantiu que "o Partido Socialista vai-se apresentar a eleições sozinho".
"Vamos lutar para ter o melhor resultado possível", assegurou.
O também antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação foi igualmente questionado sobre a privatização da TAP, tendo respondido que a companhia aérea não é hoje um "problema para o país".
Segundo Pedro Nuno Santos, a TAP "deu mais de 200 milhões de euros de lucro" nos primeiros nove meses deste ano, o que "não tem precedentes na história" da companhia aérea.
"Por isso, a TAP não é hoje um problema e, portanto, não tem de haver pressa relativamente ao dossiê. Nós temos hoje uma empresa com saúde financeira, do ponto de vista operacional também está muito saudável e bem-sucedida. Por isso, não é um problema para o país", disse.
Pedro Nuno Santos apresentou, esta segunda-feira, a sua candidatura à liderança do PS, cujas eleições internas diretas estão marcadas para os dias 16 e 17 de dezembro e que acontecem na sequência da demissão de António Costa das funções de primeiro-ministro na passada terça-feira e do seu anúncio de que não se recandidatará a este cargo.
Na base da demissão, recorde-se, está uma investigação a António Costa no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos nos negócios investigados.
Segundo a indiciação, o MP considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus.
António Costa apresentou na terça-feira a demissão e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou depois a marcação de eleições legislativas antecipadas para 10 de março de 2024.
[Notícia atualizada às 22h09]
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