Miguel Relvas, antigo secretário-geral do Partido Social Democrata (PSD), admitiu, esta quarta-feira, que o partido pode precisar da ajuda do Chega para governar sem ter, no entanto, de fazer uma coligação, mas através de um acordo de incidência parlamentar. No entanto, entende que o PSD não tem, nesta altura, "de falar no Chega".
Em declarações na CNN Portugal, Miguel Relvas começou por referir que acredita que, "pela primeira vez", o país vai ter umas eleições em que haverá "uma competição entre partidos e uma competição entre blocos". "Vamos ter o bloco à esquerda e o bloco à direita", apontou.
"O Partido Socialista pode ganhar as eleições e, desta vez, não ter maioria do bloco à esquerda. Como em 2015. O PSD poderá não ganhar as eleições e ter maioria à direita", exemplificou.
Na ótica do antigo ministro de Pedro Passos Coelho, "o centro não é um ponto de partida", mas "um ponto de chegada".
"O PSD sempre que foi grande foi sempre quando veio do seu espaço político do centro-direita para o centro. O centro não é um ponto de partida, é um ponto de chegada. Aliás, o mesmo que o PS. Como é que Mário Sares ganhou? Como é que Guterres ganhou? Como é que Sócrates ganhou? Ganharam as eleições com moderação", afirmou.
Para Relvas, o PSD terá de "olhar para o quadro político que tem", caso vença as eleições, e admite que "pode precisar dos votos do Chega", lembrando a situação política nos Açores.
"O PSD ganha as eleições e tem de olhar para o quadro político que tem. O CDS espero que tenha deputados, o CDS é importante para a Democracia. Espero que o PSD possa criar condições com a Iniciativa Liberal. E, depois, o PSD pode precisar dos votos do Chega para governar no Parlamento. E não tem de fazer uma coligação no governo, pode ter, como tem nos Açores já hoje, um acordo parlamentar. O PSD nos Açores só é Governo, porque o Chega viabiliza-o", realçou.
Apesar de admitir que "gostava mesmo era que o PSD ganhasse com maioria absoluta", Miguel Relvas reforçou: "O Chega tem 40 deputados ou tem 35, eu não posso deixar de olhar para essa realidade".
Contudo, para o ex-ministro, o partido "não tem de falar do Chega" nesta altura. "Agora, o que eu entendo é que o PSD não tem de falar no Chega, o PSD tem de falar das suas propostas e tem de ser capaz de reconquistar os eleitores que perdeu para o Chega... e perdeu muitos", destacou.
"E as contas e a estratégia final são assumidas depois do resultado eleitoral. Quando é que em 2015 alguém acreditou que o Dr. António Costa ia fazer uma acordo com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português? E fez, sem que tenha assumido durante a campanha. E esse é que é o ato inteligente de um politico. Não há corredores sanitários num espaço democrático", rematou.
De realçar que, no início desta semana, o presidente do PSD reafirmou que não vai fazer qualquer coligação com o partido Chega e que só governará se ganhar as eleições legislativas.
Questionado sobre posições manifestadas por alguns militantes e ex-dirigentes do partido, nomeadamente por Miguel Relvas, favoráveis a coligações ou acordos com outros partidos políticos da área da direita para a formação de um eventual governo, Montenegro respondeu que o PSD "tem órgãos eleitos e estratégias sufragadas".
"O PSD é um partido democrático onde as pessoas são livres de manifestarem as suas posições, mas nós estamos a cumprir de forma integral e honesta a estratégia que delineámos", salientou.
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