"A monocultura do turismo conduz a região para um desastre, a monocultura do turismo é em si mesma um desastre económico e social para toda a região", disse à Lusa Edgar Silva, da coligação PCP/PEV, numa iniciativa da campanha eleitoral para as regionais antecipadas de 23 de março que se baseou em contactos com a população de Câmara de Lobos, nomeadamente a comunidade piscatória.
Segundo o candidato comunista, há "uma certa fixação e obsessão" pela "monocultura do turismo" na região e esta aposta dos governantes regionais no turismo "faz-se sentir logo na matança dos setores produtivos, da economia produtiva da região", dando como "um dos exemplos mais claros" o que acontece com o setor das pescas.
Edgar Silva mencionou que os dados estatísticos relativos a 2024 indicam que se registou uma quebra de 30% na produção, em comparação com o ano anterior, o que provocou também uma redução nos rendimentos.
"E também está a acontecer uma quebra muito significativa em relação ao número de barcos de pesca na região, que tem vindo ano após ano a descer. E um número cada vez maior de embarcações estão paradas, que foram paralisadas por falta de mão de obra", acrescentou.
Para o candidato da CDU, a Madeira "tem a frota pesqueira mais caduca de todo o país" e "não é abatendo barcos que se defende a economia regional, não é destruindo setores produtivos que se garante o futuro desta região".
Além de criticar a política de abate de embarcações de pesca, criticou também as restrições às áreas de atividade piscatória, a imposição de quotas "altamente restritivas e castradoras do desenvolvimento da atividade piscatória", "os sucessivos e os crescentes obstáculos quer à modernização da frota de pesca, quer à renovação da frota".
Para Edgar Silva, estas políticas "são a ponta do icebergue de um conjunto de outas medidas que têm este foco que é acabar com os setores produtivos ou reduzir a uma completa insignificância a atividade produtiva na região".
"E o que vemos é a tendência para reduzir a pesca a uma insignificância, a uma relevância económica 'só para inglês ver', e isto da monocultura do turismo tem implicações completamente destrutivas para a região", sustentou.
Face a este cenário, a candidatura da CDU foi a Câmara de Lobos "alertar para estes perigos e para a necessidade de uma mudança de rumo", concluiu.
As legislativas da Madeira, as terceiras em cerca de um ano e meio, decorrem no dia 23, com 14 candidaturas a disputar os 47 lugares no parlamento regional, num círculo único: CDU (PCP/PEV), PSD, Livre, JPP, Nova Direita, PAN, Força Madeira (PTP/MPT/RIR), PS, IL, PPM, BE, Chega, ADN e CDS.
As eleições antecipadas ocorrem 10 meses após as anteriores, na sequência da aprovação de uma moção de censura apresentada pelo Chega - que a justificou com as investigações judiciais envolvendo membros do Governo Regional, inclusive o presidente, Miguel Albuquerque (PSD) -- e da dissolução da Assembleia Legislativa pelo Presidente da República.
O PSD tem 19 eleitos regionais, o PS 11, o JPP nove, o Chega três e o CDS dois. PAN e IL têm um assento e há ainda uma deputada independente (ex-Chega).
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