"Acho que tudo aquilo que seja lavar a imagem de forças e ideias que são extremistas, que são ideias contra a democracia, contra o Estado social, contra a liberdade, não devem ser toleradas e vindo de uma pessoa que foi primeiro-ministro, que foi presidente da JSD, considerado um democrata e progressista fico completamente espantado com isso", afirmou Ferro Rodrigues, à margem da apresentação do seu livro "Assim vejo a minha vida", no Porto.
O ex-presidente do parlamento considerou ainda "muito grave" as declarações de Passos Coelho, que esta manhã, à chegada ao Campus da Justiça, em Lisboa, admitiu que este não é o seu tempo para intervir no espaço político, e manifestou a expectativa de que o PSD possa estar preparado e seja "liderante nesta fase nova".
Sublinhando que será necessário um Governo "que possa inspirar confiança às pessoas", Passos Coelho disse acreditar numa vitória social-democrata nas eleições de 10 de março: "Espero evidentemente que o PSD possa ser o partido liderante nessa fase nova que se vai abrir, não porque é o meu partido - acho que todos compreenderiam que eu desejasse que o meu partido pudesse ganhar as eleições - e confio que sim, que isso acontecerá".
Por outro lado, Passos Coelho manifestou também a esperança de que o "país saiba identificar no atual Governo que está a cessar funções responsabilidades graves na situação a que o país chegou".
"Suficientemente graves para que o primeiro-ministro tenha sido o único de que eu tenho memória que se tenha sentido na necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura", salientou ainda o antigo governante.
Aos jornalistas, Ferro Rodrigues afirmou ainda que "o Estado de direito corre perigos em Portugal", referindo-se, em concreto, às "forças reacionárias que estão a ganhar terreno".
"É uma situação grave e Portugal não escapa e se houver ajuda de pessoas com grande poder e responsabilidade para essa força e emergência de extrema direita, corre-se muitos riscos em Portugal", considerou.
Questionado sobre o estado do sistema de justiça e se o Ministério Público "está acima de tudo e todos", Ferro Rodrigues disse ter a sensação de que "há realmente muitas coisas indecentes em Portugal".
"Uma coisa indecente em Portugal é ter havido um parágrafo que foi escrito por uma Procuradora-Geral e que demitiu um primeiro-ministro, que tinha sido livremente escolhido pelos portugueses", afirmou.
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