Em declarações aos jornalistas após ter visitado a Startup Leiria, uma incubadora de empresas naquele distrito, Pedro Nuno Santos reagiu às declarações do vice-presidente do CDS, Paulo Núncio, que, num debate organizado pela Rádio Renascença, admitiu um novo referendo ao aborto.
"Devemos ter a capacidade de tomar iniciativas no sentido de limitar o acesso ao aborto e logo que seja possível procurar convocar um novo referendo no sentido de inverter esta lei que é uma lei profundamente iníqua", afirmou Paulo Núncio, candidato pelo círculo eleitoral de Lisboa nas listas da AD.
Núncio sustentou ainda que, "depois de a liberalização do aborto ter sido aprovada por referendo - embora não vinculativo, mas com significado político - é muito difícil reverter a lei aprovada no parlamento".
O líder socialista apelou a que não se ignorem estas declarações de Paulo Núncio, salientando que a legalização do aborto "é um assunto resolvido na sociedade portuguesa" desde que foi referendado, em 2007.
"Aquilo que nós vemos é uma AD a querer voltar para trás. Voltar para trás para onde? Ao tempo da prisão, da criminalização e do risco de vida para a mulher? Porque esse tempo nós já o ultrapassámos. Nós queremos apontar para o futuro, não é apontar para o passado", afirmou.
Numa alusão a declarações do líder do PSD, Luís Montenegro - que considerou, sem o nomear, que Pedro Nuno Santos está com "azedume" -, Pedro Nuno Santos considerou que fazer estas afirmações não é "azedume", mas defender o que foi conquistado.
Também a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, condenou hoje as declarações de Paulo Núncio.
"Mais uma cambalhota: agora AD defende um novo referendo sobre o aborto. Não passarão. Com o PS o direito de escolha das mulheres deste país estará protegido. Queremos um Portugal de futuro e não um regresso ao passado", escreveu no Facebook Ana Catarina Mendes, cabeça de lista do PS por Setúbal.
Confrontado com o facto de a declaração ter sido feita por Paulo Núncio e não pelo líder do PSD, Pedro Nuno Santos contrapôs que se trata de uma coligação e "essa separação não pode estar sempre a ser feita".
"Quem traz o Pedro Passos Coelho para a campanha não fui eu, foi a AD, quem faz uma coligação com o CDS não fomos nós, foi a AD, foi o líder do PSD. Essa separação não pode estar sempre a ser feita: nós somos responsáveis por quem trazemos para a nossa campanha, para o nosso projeto", defendeu.
O secretário-geral do PS insistiu que a AD apresenta "um projeto de recuo, de regresso ao passado, e tem de ficar claro isso".
"A cada dia que passa, isso fica mais claro: é nas pensões, é agora nos direitos das mulheres e é por isso que eu apelo mesmo ao voto de todos os pensionistas, de todos os reformados, e apelo às mulheres para defenderem também os seus direitos, aquilo que conquistámos", afirmou.
Questionado sobre as declarações de Luís Montenegro - que, esta terça-feira, disse que se demitiria se "algum dia tiver de cortar um cêntimo numa reforma -, Pedro Nuno Santos disse ter ficado "mais preocupado".
"O líder do PSD diz 'se tiver de cortar pensões', mas se tiver porquê? Aquilo que nós mostrámos ao longo dos anos em que governámos é que não é preciso cortar", criticou.
Para o líder socialista, o que Luís Montenegro está a dizer é que, "ao primeiro aperto, são sempre os mesmos a ser apertados".
"Não aprenderam nada. O líder do PSD não resolve nada com esta declaração, antes pelo contrário: 'se tiver de cortar pensões, eu vou-me embora, venha outro'", reforçou, voltando a pedir que os pensionistas se desloquem às urnas e não deem "sequer oportunidade ao PSD e à AD de ganharem".
"Aquilo que o líder do PSD mostra com esta declaração é que não aprendeu nada. Não há necessidade de cortar pensões. Nós provámos que não é preciso cortar pensões e cortar pensões não resolveu nenhum problema. Antes pelo contrário, agravou-o", disse.
Pedro Nuno Santos salientou que o Governo do PS foi "testado ao limite", com a pandemia, guerra e inflação, e mostrou que, "perante a incerteza, garante a estabilidade" e que não "é preciso atingir os mesmos de sempre".
Já questionado sobre críticas de que a sua campanha é feita essencialmente de críticas aos adversários, Pedro Nuno Santos apelou a que se mostrem as suas intervenções inteiras, e não apenas as partes editadas, para se provar que também fala do país.
"Acabei de responder a uma pergunta [sobre pensões], mas é uma pergunta que é relevante e a resposta também. Não é uma questão de medo: nós temos de defender aquilo que conquistámos", afirmou.
[Notícia atualizada às 13h31]
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