O El Pais dedicou hoje o seu editorial aos resultados políticos das eleições legislativas em Portugal, que se realizaram este domingo.
O jornal espanhol começa por salientar que o dia de domingo ficou marcado pelo facto de os portugueses terem ignorado a sua habitual "apatia eleitoral" e se deslocarem massivamente às urnas, uma situação que dizem ter sido "aplaudida por todos os partidos".
O diretor do El Pais prossegue referindo que a vitória da Aliança Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro "é tão pequena que resulta numa grande instabilidade política" e defende que o facto de o Partido Socialista ter perdido meio milhão de votos resulta de "erros internos, circunstâncias externas (inflação, aumento das taxas de juro, guerras) e pela crise politica causada pela demissão do primeiro-ministro António Costa.
Apesar disso, salienta que os resultados deram quase um "empate" entre os dois opositores políticos.
O Chega, nota, foi o grande vencedor da noite, mas embora exija fazer parte do Governo, terá esse objetivo dificultado dado que Luís Montenegro "deixou claro na noite das eleições que manterá a sua palavra de não governar com extremistas".
"É um cordão sanitário que, noutros países europeus, a começar por Espanha, os conservadores já romperam. A gestão de Montenegro será, assim, muito mais difícil, mas o respeito por ele aumentou", lê-se no jornal espanhol, que nota, adicionalmente, que "os discursos da noite eleitoral mostraram, mais uma vez, que os políticos portugueses são alérgicos a gritos e tensões, à exceção do líder do Chega, que atacou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a imprensa e os institutos de sondagens".
Posto este cenário, o líder da AD "tem um cenário endiabrado" pela frente, dado que a soma dos seus deputados e da Iniciativa Liberal o deixa "longe da maioria absoluta" e lhe dificulta o caminho rumo a acordos futuros.
A prova de fogo, chegará em outubro, quando a Aliança Democrática tiver de apresentar o Orçamento de Estado para 2025, sabendo que, em princípio, não podem contar com o Partido Socialista ou com o resto da esquerda. "Ficarão reféns de Chega, que terá a chave para acabar com a legislatura prematura a partir das bancadas do Parlamento e desencadear um novo ciclo eleitoral", conclui o texto.
Recorde-se que, de acordo com os resultados provisórios, a AD, que concorreu no continente e nos Açores, obteve 1.757.879 votos, 28,63% do total, e elegeu 76 deputados.
Somando a estes resultados os três eleitos e 52.992 votos obtidos na Madeira por PSD e CDS-PP, que concorreram juntos nesta região, sem o PPM, dá um total de 1.810.871 votos, 29,49% do total, e 79 mandatos - 77 do PSD e 2 do CDS-PP.
O PS obteve 1.759.937 votos, 28,66%, e elegeu 77 deputados.
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