Manuela Ferreira Leite, antiga líder do Partido Social Democrata (PSD), considerou "absolutamente inaceitável" a recente entrevista de Pedro Passos Coelho, criticando o "timing e conteúdo" escolhido pelo antigo primeiro-ministro para a sua intervenção.
Note-se que em causa está uma entrevista de Passos Coelho à rádio Observador, publicada na segunda-feira, na qual o antigo governante afirmou que o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem tido uma preocupação em desligar-se do seu legado, e revelou que a 'troika' não confiava em Paulo Portas.
"O 'timing' escolhido para a entrevista, o conteúdo das declarações e a nomeação específica das pessoas que foram nomeadas torna esta intervenção absolutamente inaceitável", criticou Manuela Ferreira Leite, em declarações no programa 'Direto ao Assunto', também da rádio Observador.
A antiga líder social-democrata voltou ainda a criticar Passos Coelho após ser interrogado sobre as diferenças de posicionamento entre este e Montenegro no que diz respeito ao Chega. Ferreira Leite admitiu que se "tem identificado com o posicionamento" do primeiro-ministro e líder do PSD, mas apontou que, ainda que não tivesse um posicionamento, este não seria o momento indicado, precisamente "no início de um Governo".
"Mesmo que não me tivesse posicionado nunca escolheria este 'timing' para fosse o que fosse, não é no início de um Governo que se fazem declarações desta natureza nem se denunciam pessoas que foram antigas colaboradoras", apontou.
Interrogada sobre se a entrevista de Passos Coelho pode fragilizar Luís Montenegro, Ferreira Leite foi clara: "Fragiliza quem as fez".
Recorde-se que foi em entrevista ao 'podcast' 'Eu estive lá', da Rádio Observador, que o também antigo presidente do PSD afirmou que Luís Montenegro "foi um grande líder parlamentar", altura em "que nasceu a possibilidade de criar condições para fazer o caminho para poder vir a ser líder" do partido. "Portanto, ele faz parte dessa herança e desse legado. Em que medida é que ele se quer desconectar mais desse seu próprio passado? Não sei. A mim parece-me que foi muito evidente nos últimos tempos que houve essa preocupação de tentar desligar", defendeu Passos Coelho.
Contudo, afirmou que, "até certo ponto", entende a preocupação do atual líder social-democrata e primeiro-ministro "porque é importante que os partidos possam ter uma perspetiva para futuro e não ficarem sempre só ligados ao seu passado".
Na conversa com a jornalista Maria João Avillez, Passos recusou "andar a criar constrangimentos" a Montenegro com as suas intervenções públicas, mas sublinhou: "Agora, também não posso ser impedido de, de quando em vez, poder dizer alguma coisa do que penso. E eu penso pela minha cabeça, evidentemente".
Nesta entrevista, Passos Coelho revelou também que durante o seu governo com o CDS-PP a 'troika' (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) "a partir de certa altura percebeu que havia um problema com o CDS" e "passou a exigir cartas assinadas por Paulo Portas".
"Eu julgo que ele não sabe isto: para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, eu obriguei o ministro das Finanças a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. A 'troika' exigia uma carta só dele. Porque não confiava nele", contou.
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