Fernando Loureiro, fundador do Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP), diz-se "indignado" e alega ter sido "traído" e vítima de um "complô", depois de Joana Amaral Dias ter sido anunciada como cabeça de lista do partido Alternativa Democrática Nacional (ADN) às eleições Europeias. O também ex-presidente do PURP alega que o partido, atualmente com a denominação de (A)TUA, foi alvo de uma transformação, com a promessa de que a psicóloga e ex-deputada viria a representar a força política nas eleições de junho, o que não se concretizou.
"Dei-lhes um partido de bandeja porque a Joana Amaral Dias queria concorrer às Europeias", acusa em declarações ao Notícias ao Minuto.
Fernando Loureiro diz ter sido contactado por pessoas que se fizeram representar em nome de Joana Amaral Dias, com a proposta de "engrandecer o PURP" e com a promessa de investimento e "pessoas qualificadas". De acordo com o político, estes "emissários" da antiga deputada tratam-se de Bruno Monarca e Miguel Montenegro, psicólogo clínico e psicoterapeuta, que integra a equipa da Clínica de Psicanálise Carlos Amaral Dias, com quem terá tido sempre contacto, embora o mesmo não viesse a integrar o partido.
"Disseram, 'o senhor não vai recusar, porque nós queremos fazer, queremos engrandecer o partido, temos dinheiro, temos pessoas qualificadas'. E eu disse: 'Se é a Joana, ok, tudo bem'", contou, referindo que acabou por dar o seu "aval" acreditando que seria o melhor para o PURP, um partido então composto "na maioria" por pessoas "já de uma certa idade" e no qual se sentia "sozinho".
O objetivo deste processo era, segundo diz, que Joana Amaral Dias viesse a concorrer às Europeias pelo partido, já com uma denominação diferente, o que terá levado a um Congresso em 14 de outubro de 2023, no qual terão sido aprovadas não só uma mudança de estatutos, como a aprovação de uma mudança de nome do partido para (A)TUA – um processo que seguiu para o Tribunal Constitucional e que já conheceu 'luz verde'.
"Joana Amaral Dias estava sempre por fora, mas era ela que decidia tudo", faz sobressair Fernando Loureiro, acrescentado que a psicóloga queria que o seu "grupo" integrasse o partido, estando a "1000% nos bastidores", face à sua atividade profissional, e que foi na altura em que decidiram avançar com uma formulação do nome da força política que se sentiu "indignado", uma vez que pretendia que fosse escolhido "algo que não subvertesse de todo a imagem e a marca do PURP". A escolha levou mesmo, mais tarde, à sua demissão das funções de vogal da Comissão Política.
Fernando Loureiro, de 77 anos, alega, inclusivamente, que terá ocorrido um encontro na casa de Joana Amaral Dias, com a presença da própria e também com outras pessoas que hoje desempenham funções no partido, ainda antes do Congresso de outubro.
O fundador do PURP diz ter-se afastado do atual (A)TUA, embora sempre a acompanhar todos os processos, porque acreditava que ocorreria a prometida mudança e que Joana Amaral Dias viria a ser candidata pelo partido nas Europeias.
"A senhora - a senhora e os seus comparsas - fez com que o partido acabasse (...) só queria concorrer às eleições Europeias, mas já com outra sigla", defende.
A maior surpresa chegaria com o recente anúncio de que Joana Amaral Dias iria representar o ADN nas eleições Europeias. "Fui traído", considera Fernando Loureiro. "Acabaram com o partido quando se meteram nisto. Deixaram-me ficar mal perante as pessoas que me conhecem desde o primeiro dia", lamenta.
"Era um grande fã dela e traiu-me", diz. "Estou a ser bombardeado por todos os filiados que me conheciam e pensavam que Joana Amaral Dias iria estar à frente do partido", completa Fernando Loureiro.
O fundador do PURP conta que, nesta sequência, recebeu uma mensagem por parte de Miguel Montenegro na qual dizia que 'imaginava' que Fernando Loureiro estivesse "um pouco incomodado com algumas novidades", mas que as "circunstâncias" tinham mudado "depois das Legislativas".
O Notícias ao Minuto entrou em contacto e confrontou Joana Amaral Dias e a assessoria do ADN com os factos em questão, mas não obteve resposta.
Miguel Montenegro também foi contactado pelo Notícias ao Minuto, mas optou por não comentar. "Não tenho nada a dizer sobre o tema", limitou-se a referir.
O PURP, agora (A)TUA, é atualmente presidido pelo empresário Rui Lima, que confirmou estar à frente da liderança do partido e que o Tribunal Constitucional já aprovou a mudança do nome. Contudo, recusou dizer como chegou ao partido ou comentar as alegações de Fernando Loureiro, remetendo informações para uma comunicação futura.
"A seu tempo vamos comunicar. Tem de ser tudo numa só voz e numa comunicação única", adiantou ao nosso site.
Recorde-se que, no dia 16 de abril, a psicóloga e comentadora Joana Amaral Dias anunciou que será a cabeça de lista do partido Alternativa Democrática Nacional (ADN) às eleições europeias. A apresentação da candidatura ocorreu esta quinta-feira, dia 18 de abril, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Lumiar.
O ADN, anteriormente designado como Partido Democrático Republicano, multiplicou por dez o seu resultado de 2022, tendo arrecadado mais de 100 mil votos nas eleições legislativas de 10 de março deste ano, o que lhe carimbou o passaporte para uma subvenção partidária de cerca de 340 mil euros. Muitos eleitores relataram ter confundido os símbolos da Aliança Democrática (AD) e do ADN, o que levou a que ambos os partidos apresentassem queixas junto da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Joana Amaral Dias foi deputada pelo Bloco de Esquerda entre 2002 e 2005, partido do qual se afastou depois de ter sido criticada por ter apoiado Mário Soares nas presidenciais de 2006. Desfiliou-se do coletivo em 2014, ano em que participou na reunião do movimento Juntos Podemos, onde foi admitida a hipótese de o movimento se unir ao partido Livre. Naquele ano, juntou-se ao grupo político Agir, que concorreu às Legislativas de 2015 em coligação com o PTP e o MAS. Dois anos depois, foi candidata à Câmara Municipal de Lisboa pelo Nós, Cidadãos!.
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