O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho comentou, esta segunda-feira, a situação política nos Estados Unidos, país que no último dia viu Joe Biden desistir da corrida presidencial, e apontar Kamala Harris como sua sucessora.
"Há uma nova narrativa pelo facto de ter acontecido esta reviravolta inesperada para alguns. O atentado contra Trump, há uma semana, seria um momento definidor. Esta campanha eleitoral giraria em torno disso. Agora parece que estamos a falar de pré-história. Toda a conversa tem a ver com Kamala Harris e processo de escolha", afirmou, em entrevista à SIC Notícias.
"Kamala Harris representa toda uma nova geração, que pode virar a conversa para assuntos que não interessam tanto a Donald Trump", diferenciou. Questionado sobre se Kamala poderia ser uma adversária mais difícil para Trump, Gomes Cravinho considerou que sim, com a polarização e o sistema eleitoral.
"Kamala Harris vai conseguir, penso eu, se jogar bem as suas cartas - o que significa não só defender o legado de Biden, mas oferecer uma visão de futuro para o eleitorado -, se conseguir gerar uma coligação de diferentes interesses que por uma razão ou outra se sentem ameaçados por Donald Trump, aí sim, estará numa posição forte", considerou.
O antigo ministro considerou que a saída de Biden foi a decisão certa não só para os Estados Unidos, como para o Partido Democrata, e mais além: "Por acréscimo, significa que também foi muito positivo para a Europa".
Gomes Cravinho explicou que, neste momento, a eleição estava a 'estreitar' para o Partido Democrata e existe agora uma nova narrativa que não é sobre a idade de Joe Biden. "Pode ser muito mais competitivo do que é agora", referiu.
O ex-governante sublinhou que Biden saiu da corrida "com dignidade" por ter saído pelo próprio pé. Se esta saída tivesse acontecido daqui a alguns dias, a dignidade teria saído "mais ferida", defendeu.
O entrevistado realçou, por fim, que o "legado de Biden é notável" e exemplificou com as medidas que permitiram a recuperação norte-americana no pós-Covid-19, assim como investimentos ao longo da sua presidência.
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