O social-democrata Luís Marques Mendes defendeu, esta quinta-feira, que o país "precisa de imigrantes" porque "sem imigrantes" Portugal "fica um país pequeno". No seu discurso na Universidade de Verão do PSD, falou ainda sobre a necessidade de "melhorar" a democracia e do "risco" da vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas.
"Hoje, o grande pressuposto para ter um Estado social como deve ser é a imigração. Não é a emigração com ‘e’, é a imigração com ‘i’. Ou seja, nós precisamos de regulamentação na entrada de imigrantes. Precisamos de um enorme esforço de integração social dos imigrantes, mas nós precisamos de imigrantes", afirmou no seu discurso na Universidade de Verão do PSD.
"Sem imigrantes, caros amigos, e esta é das coisas mais sérias que temos pela frente, sem imigrantes ficamos com um país mais pequeno. E um país mais pequeno é um país mais pobre", asseverou.
Marques Mendes afirmou que as empresas portugueses "não têm mão de obra para trabalhar" e que tal "é um ponto sério e indispensável do ponto de vista da economia e do Estado Social" porque os imigrantes "são contribuintes para a solidez na nossa Segurança Social".
"Política não é um jogo de futebol"
No seu discurso, o social-democrata considerou também que é necessário "melhorar, aprofundar e aperfeiçoar" a democracia. Reconhecendo que "é difícil" a melhoria, Luís Marques Mendes afirmou que "não se deve olhar para o lado da dificuldade", mas sim "para o lado da oportunidade".
"Mudar no domínio das mentalidades, não custa dinheiro, nem é preciso fazer leis", afirmou, acrescentando que a "política não é um jogo de futebol" e que não se pode comparar um partido a um clube.
"O futebol é um jogo, a política não é um jogo. É o interesse de um país que está em causa. Uma luta Sporting-Benfica, Benfica-Porto, Porto-Sporting não pode existir na vida política porque isso degrada a vida política", elucidou.
Marques Mendes frisou que "servir o interesse nacional nunca é uma questão de fraqueza, mas sim uma questão de força".
Questionado que papel pode ter o Presidente da República num sistema partidário fragmentado, Mendes defendeu que deve ser o de "mediação e arbitragem e de aproximação de posições".
Sem se referir à proposta do Chega de um referendo sobre imigração, o antigo líder do PSD considerou que a matéria "é muito pouco debatida em Portugal e que os poucos que a debatem, o fazem de forma distorcida".
Maria Luís Albuquerque? "Há ainda um grande trauma do tempo da 'troika'"
O social-democrata foi questionado sobre a escolha do Governo da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque para o cargo de comissária europeia, que mereceu críticas de toda a esquerda, incluindo de várias figuras do PS, que associaram a antiga governante ao período da austeridade e da 'troika'.
"A decisão é uma decisão correta e uma decisão positiva e Maria Luís Albuquerque tem perfil para exercício da função", começou por dizer Marques Mendes.
O ex-líder do PSD entre 2005 e 2007 reconheceu, no entanto, que "há ainda um grande trauma do tempo da 'troika'", período em que foram pedidos "muito sacrifícios", e disse compreender "alguns ressentimentos".
"Toda a gente tem direito a ter a sua opinião, mas devemos ser rigorosos e evitar demagogia", afirmou, defendendo que se tivesse sido o PS a vencer as eleições em 2011 e a governar as medidas teriam sido exatamente as mesmas, uma vez que estavam previstas no acordo assinado com a "troika".
"Quem mandava era a 'troika', o discurso podia ser outro, a comunicação podia ser diferente. Mas sejamos francos e honestos e não sejamos demagógicos: com um ministro das Finanças socialista ou social-democrata as medidas eram aquelas porque eram aquelas que os credores impunham a Portugal", afirmou.
Orçamento do Estado é "uma novela sem grande sentido"
Na sua intervenção, que se estendeu por cerca de duas horas e meia, Mendes reafirmou uma convicção que já expressou no seu comentário televisivo da SIC quanto ao próximo Orçamento do Estado.
"É uma novela sem grande sentido: o Orçamento vai passar, ponto final parágrafo. Acho que este debate é muito pobre, gostava muito mais de um debate travado em torno do que vai ser o conteúdo" do documento, apelou.
Vitória de Trump é um "risco": "Ele despreza a Europa"
O social-democrata prosseguiu a falar sobre a política internacional, lembrando que há duas "guerras" em curso, na Ucrânia e no Médio Oriente. Teceu ainda críticas ao candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, descrevendo-o como um "risco".
"Temos um drama sobre o que vai acontecer nas eleições norte-americanas. O risco de Trump ganhar a presidência dos Estados Unidos. É, sobretudo, um grande risco para os europeus porque ele despreza a Europa", afirmou.
Trump, sublinhou o social-democrata, "tem uma visão completamente diferente da nossa em relação à NATO", que é a "nossa segurança". "Depois do que se passou na Ucrânia, passámos a dar-lhe outro valor e outra importância", disse.
Para Mendes, esta escolha entre Donald Trump e Kamala Harris "não é uma questão partidária nem mais de esquerda, nem mais de direita, é uma questão capital do princípio dos grandes princípios democráticos e do mundo".
"Não perceber isto é não perceber o mínimo de política externa", afirmou.
[Notícia atualizada às 23h54]
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