O verão está a dar os seus passos finais, as praias começam a ficar mais desertas e a vida diária começa a ganhar o seu ritmo normal com o fim das férias.
No mundo político, o panorama não difere, com as 'rentrées' dos principais partidos a marcar a atualidade, focados na proposta de Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), que tem de ser entregue na Assembleia da República até 10 de outubro deste ano.
Para o líder do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, o país está "a tempo, em tempo e no tempo para falar com os partidos políticos e concluir a proposta".
A discursar na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, o primeiro-ministro frisou que, ao contrário de "muitos políticos, muitos partidos e muitas outras personagens", o PSD está no Governo "para a política das ações concretas", deixando farpas à Oposição: "Muitos políticos, muitos partidos e muitas outras personagens ocupam o espaço mediático com a política da conversa".
Em sentido oposto esteve o secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, que aproveitou o púlpito na Academia Socialista, que decorreu em Tomar, para deixar claras as condições dos socialistas para aprovar o OE2025.
"O Partido Socialista nunca viabilizará um Orçamento de Estado que inclua ou tenha como pressuposto os regimes para o IRS e IRC que deram entrada na Assembleia da República", garantiu, afastando a aprovação de uma proposta que inclua regimes fiscais "profundamente injustos, ineficazes e injustificáveis do ponto de vista orçamental".
No mesmo tom, e dirigindo-se ao líder do PSD, Pedro Nuno Santos avisou que "se as propostas de autorização legislativa sobre o IRC e o IRS que deram entrada na Assembleia da República forem aprovadas com a Iniciativa Liberal e o Chega, então é com esses partidos que também o Orçamento do Estado deve ser aprovado".
Montenegro defende 'fantasma' do passado e Pedro Nuno prometeu "combate"
Tanto em Castelo de Vide como em Tomar, os respetivos líderes partidários utilizaram o espaço para fazer críticas e tentar solidificar as suas posições no combate político. Montenegro, por seu lado, veio defender a escolha do Governo de Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças do Governo de Passos Coelho, para comissária europeia, acusando os socialistas de serem os verdadeiros "'troikistas'" em Portugal.
"Se há coisa que os portugueses sabem é que, em Portugal, os 'troikistas' são os socialistas. A história está mais do que ilustrada, sempre que houve 'troika' em Portugal os pais e as mães das políticas de austeridade que as 'troikas' trouxeram foram os governos do PS. É factual, não é sequer suscetível de oposição", disse, argumentando que a "verdadeira instabilidade política" em Portugal provém da oposição, e não do Governo.
Do outro lado do 'ringue' político ecoou, por sua vez, uma promessa de Pedro Nuno Santos: O PS "está aqui pronto para o combate". Entenda-se, caso o OE2025 não seja aprovado, os socialistas mostraram-se disponíveis "para aprovar um orçamento retificativo", com vista a assegurar o cumprimento dos "acordos celebrados entre o Governo e os diferentes grupos profissionais da administração pública".
O líder socialista apontou também como meta para o futuro aumentar a 'folga' com que o PS lidera no panorama autárquico, que em 2025 será grande foco de atenções políticas, pois o país vai a eleições para escolher os diferentes presidentes de Câmara de Norte a Sul do país. Em 2021, recorde-se, o PS venceu estas eleições com 34,22% dos votos, mas perdeu alguns lugares importantes, nomeadamente a presidência da Câmara Municipal de Lisboa.
IL acusa Governo de pensar apenas "na sua sobrevivência" e BE acusa "falta de coragem", "revanchismo e incompetência"
A vida política no país retoma o seu pulso normal, à medida que os partidos protagonizam os regressos oficiais ao trabalho. Para além do PSD e do PS, a Iniciativa Liberal (IL) também levou a cabo a sua 'rentrée' política, acusando o Governo de estar focado apenas "na sua sobrevivência" no que toca ao OE2025.
O líder da IL, Rui Rocha, disse aos jornalistas, em Vila do Conde, no distrito do Porto, durante o arranque da 4.ª edição do DestraAve Liberal, que a eventual aprovação do OE2025 dependerá do Governo, alertando que não viabilizará uma proposta que não inclua questões estruturais como a reforma do Estado, ou reduções fiscais.
Em simultâneo, o Bloco de Esquerda (BE) também marcou o regresso à vida política, considerando que "ao abandono e falta de coragem que o PS teve para resolver problemas, o PSD está a acrescentar uma dose revanchismo e incompetência".
Durante o seu discurso na 'rentrée' do partido, que aconteceu em Braga, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, pediu "clareza" a Pedro Nuno Santos, apelando a que não entre em "truques" e "politiquices".
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