O antigo ministro da Defesa José Azeredo Lopes comentou, esta sexta-feira, a situação na Síria, onde se continua a festejar a queda do regime de Bashar al-Assad.
No seu espaço de comentário na CNN Portugal, Azeredo Lopes apontou que depois da calma a situação no país "vai tender a agravar muito" antes de começar a recuperar.
Sublinhando que a situação no país é "desesperada do ponto de vista humanitário" há já alguns anos, o antigo ministro afirmou que é preciso analisar também o impacto do regresso de muitos sírios ao país - e ter em atenção também as minorias que apoiavam o regime que caiu e estão agora a "tentar ir para o Líbano porque anteveem que podem estar em risco".
"Depois de se acalmar esta euforia de libertação, depois de acalmarem as manifestações de alegria, vai haver um momento que vai ser menos bonito, menos festivo e, sobretudo, de teste quando este governo, este novo poder começar a ter de responder como governo", acrescentou.
Azeredo Lopes apontou ainda que está preocupado com este novo poder, já que "quando a esmola é muita o pobre desconfia". "Ninguém espera uma democracia na Síria nos próximos muito longínquos anos. O que se procura acreditar é que não se trate outra vez de um regime comparável, por exemplo, ao do Afeganistão ou que do ponto de vista da violência sectária se aproxime outra vez da dinastia Assad", afirmou, acrescentando que hoje em dia o país parece "um mosaico", dados os diferentes forças que exercem controlos sobre distintas regiões na Síria.
"Estamos numa situação tensa ainda, onde aquele território parece um palco de xadrez", considerou.
Uma coligação rebelde liderada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) lançou uma ofensiva relâmpago em 27 de novembro a partir da cidade síria de Idlib, um bastião da oposição, e conseguiu expulsar em poucos dias o exército de Assad das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco.
Bashar al-Assad, que sucedeu ao pai Hafez em 2000, fugiu com a família para a Rússia no domingo, pouco antes da coligação rebelde, que inclui também fações pró-turcas, tomar Damasco e pôr fim a cinco décadas de poder da família do ex-presidente.
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