Num discurso no 22.º Congresso do PCP, João Oliveira salientou que o período que decorreu desde a última reunião magna do partido, em 2020, "foi difícil e exigente", devido à "degradação das condições de vida, à agudização das desigualdades e injustiças sociais, os preocupantes desenvolvimentos da situação internacional, em especial a pandemia e a escalada de confrontação e guerra".
A esses elementos "particularmente negativos", o eurodeputado do PCP referiu que se acrescentou ainda uma "violenta ofensiva contra o partido", "com o objetivo de condicionar ou mesmo impedir" a sua ação e afirmação das suas posições políticas.
João Oliveira defendeu que o partido enfrentou "todas essas batalhas com a coragem e a determinação que caracterizam o PCP e a luta de mais de 100 anos dos comunistas portugueses".
"Queriam-nos derrotados e em debandada, mas encontraram-nos firmes e unidos. Queriam-nos calados, encolhidos e isolados, mas encontraram-nos inconformados, determinados, a apontar o caminho ao encontro das massas e a confirmar, com elas, a força e a razão de ser das nossas condições", afirmou, numa intervenção que levantou os delegados presentes no Congresso.
A intervenção de João Oliveira foi das mais aplaudidas do Congresso, só superada pelo discurso de abertura do secretário-geral, Paulo Raimundo, na sexta-feira, e do antigo líder Jerónimo de Sousa.
O eurodeputado do PCP fez um balanço do trabalho desenvolvido pelos eurodeputados do partido nos últimos quatro anos no Parlamento Europeu, frisando que defenderam "a produção nacional, o apoio ao investimento dos serviços públicos, a proteção da natureza, a promoção da cultura e língua portuguesas".
"Recusámos e combatemos as imposições, constrangimentos e chantagens que a União Europeia (UE) e as suas políticas impõem a Portugal, comprometendo a sua soberania, o seu desenvolvimento e a necessária resposta aos problemas nacionais", disse, acrescentando que os eurodeputados do PCP foram também a voz "da rutura com o consenso do militarismo e da guerra".
"Se hoje mais consciências vão despertando para a recusa da guerra, é porque também no Parlamento Europeu houve um coletivo de comunistas que soube resistir às campanhas negras, às calúnias, às falsificações, e se manteve firme na defesa da paz, da cooperação, da solidariedade entre os povos", afirmou.
Para o também antigo líder parlamentar do PCP, "a ideia da UE como garante de paz, prosperidade e bem-estar social é uma ilusão cada vez mais evidente".
"A solução não é alimentar a ilusão, mas sim apontar o caminho da alternativa que permita a concretização da esperança, dos anseios e das aspirações dos povos", referiu, criticando quem diz que o caminho "é o da competição com a China e os Estados Unidos, e que ele tem de ser feito acentuando a exploração de quem trabalha, favorecendo ainda mais os monopólios e as transnacionais".
"Recusamos esse caminho e apontamos uma alternativa de aprofundamento dos direitos laborais e sociais", disse.
João Oliveira afirmou ainda que há quem defenda "a opção pelo militarismo, a confrontação e a guerra, e o desvio de recursos do orçamento da UE para esses fins".
"Combateremos sem hesitações tais opções, contrapondo-lhes a alternativa de uma política de paz, cooperação e progresso social e defendendo que a prioridade do orçamento da UE deve ser a coesão económica, social e territorial, compensando os impactos assimétricos das políticas da UE e do euro. E lutaremos pelo reforço dos fundos destinados a Portugal", garantiu.
O eurodeputado frisou que é essa alternativa que continuará a afirmar "com coragem e intervenção no parlamento Europeu".
"Mesmo quando formos apenas um entre muitos, não nos faltará confiança para erguer a voz", afirmou.
[Notícia atualizada às 12h58]
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