"É importante realçar que quando nós falamos de Abril, da democracia e do futuro, é bom que não esqueçamos que, em Portugal, esse futuro, essa democracia se faz como um sustentáculo de um serviço de saúde público, uma escola pública e do direito à habitação", afirmou Bruno Maia, em conferência de imprensa.
O dirigente do BE reagia ao discurso de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa, e à sua referência à "grande festa que foram os 50 anos do 25 de Abril e o futuro".
"É muito estranho para nós que o Presidente da República não tenha enfatizado estas três áreas, que são os grandes problemas, alguns dos grandes problemas e desafios que nós enfrentamos hoje em dia, particularmente na saúde", acrescentou.
O elemento da mesa nacional do BE salientou que o chefe de Estado "não deu uma palavra sobre o Serviço Nacional de Saúde, que enfrenta dias tumultuosos, que se têm vindo a agravar ao longo dos anos, com urgências fechadas, falta de acesso de mulheres grávidas a um serviço de urgência, um bloco de partos".
Em relação às desigualdades, abordadas por Marcelo Rebelo de Sousa, o dirigente do BE recordou que o atual Governo PSD/CDS-PP se focou em duas medidas: a diminuição do IRC para as grandes empresas e o IRS jovem, que "aumentam as desigualdades entre os jovens e aumentam as desigualdades porque dão borlas fiscais a grandes empresas, que ainda em 2023 tiveram lucros excessivos".
"Não se pode falar de futuro e do 25 de Abril sem falar sobre saúde, sem falar sobre educação, continuamos a ter escolas sem professores, e sem falar sobre habitação", reforçou Bruno Maia, sublinhado que, em 2024, se continuou a "ver os números das rendas e do acesso à habitação a piorarem, sem sinais de retorno".
Para o dirigente bloquista, o Presidente "fez muito bem" em falar, no que toca à situação internacional, "de paz e de direito internacional", e referindo-se aos grandes conflitos mundiais, abordou a guerra da Ucrânia, na Europa, mas "não falou sobre a Palestina, não falou sobre o genocídio que está há 15 meses a ocorrer todos os dias" nos telemóveis e aos olhos do mundo.
"Com todos nós, todo o mundo a ver crianças a serem assassinadas pelo Estado de Israel e o direito internacional a ser enterrado nos escombros daqueles prédios da Faixa de Gaza", acrescentou.
Em sua opinião, "provavelmente o mundo não sairá igual depois daquilo que está a acontecer na Faixa de Gaza, porque o desrespeito total do Ocidente, dos Estados Unidos, de Israel perante aquilo que foram os acordos internacionais que saíram da Segunda Guerra Mundial, estão destruídos e estão destruídos para todo o sempre".
"Estranho para nós também que o Presidente da República não tenha falado daquilo que é uma das maiores atrocidades que a humanidade está a cometer e já cometeu na sua história", frisou Bruno Maia, recordando que, "a cada hora que passa, morre uma criança na Faixa de Gaza".
O dirigente do BE considerou que o momento em relação à questão internacional "merecia outras palavras", nomeadamente para incitar que Portugal se juntasse à Espanha, Irlanda e Noruega e "reconhecesse o Estado da Palestina, porque não vale a pena, tal como fazem os restantes países da Europa, defender a solução de dois Estados e não reconhecer um deles".
"Sendo que esse que não reconhecem é aquele que está sob ocupação há muitas décadas, é aquele que neste momento está a sofrer um genocídio", vincou.
Questionado se a referência aos milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode ser vista como uma mensagem para o Governo, Bruno Maia concordou e apontou que o BE tem defendido que os fundos devem ser investidos nas "prioridades nacionais", da saúde, a educação e a habitação, as grandes crises que afetam o país, e que "colocam a democracia em causa" e abrem espaço para que "a democracia se enfraqueça e que o populismo continue a crescer".
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