Ao contrário do CDS, o líder do PSD decidiu manter o apoio a André Ventura depois das polémicas declarações sobre minorias étnicas, o que, na opinião de Fabian Figueiredo, está "em sintonia" com a atitude de alguém que tentou aproveitar-se politicamente do que sucedeu em Pedrógão.
A este propósito, e questionado sobre o impacto da tragédia em Pedrógão, o roubo em Tancos e a 'mini-remodelação' no Governo, o candidato do Bloco a Loures considera que, ainda assim, o "balanço geral" e da "atuação" do partido que representa "é positivo".
Quanto à possibilidade de o próprio vir um dia a ter um lugar na bancada do Bloco de Esquerda no Parlamento, Fabian Figueiredo não deixa, neste momento, margem para dúvidas: "Faço política em Loures".
Como analisa o momento complicado que o Governo tem vivido no último mês, desde o incêndio em Pedrógão ao assalto a Tancos, havendo ainda uma remodelação do Executivo?
São acontecimentos diferentes. Pedrógão Grande vai estar na memória e no coração de todos os portugueses durante muito tempo, um acontecimento e um desastre terrível e todos nós desejamos que não se repita e que se encontrem as soluções necessárias para a Proteção Civil ter mais meios, para se resolver o problema do SIRESP, dos eucaliptos. As vítimas exigem-no e o país exige que na Assembleia da República encontremos soluções para que Pedrógão nunca mais se repita, para que os desastres florestais não se repitam, para que os incêndios do Funchal nunca se repitam.
Em relação a Tancos, queremos que a justiça investigue e que haja um esclarecimento cabal. Revemo-nos nas palavras do Presidente da República que diz que se investigue tudo, doa a quem doer. É isso que o país exige, que se investigue tudo e que se saiba tudo sobre o crime.
A ‘Geringonça’ ficou afetada com este fim de ano parlamentar atribulado ou ganhou mais força?
As pessoas olham para o que fazemos e fazem um balanço geral e acho que o balanço da atuação do Bloco de Esquerda é positiva. Tivemos 10% dos votos e temos feito o que nos é possível segundo os mandatos que temos, conseguimos virar a página das políticas de austeridade, conseguimos parar a política de empobrecimento, devolver a dignidade ao país e a milhares de pessoas. Hoje já não temos um governo que tem de andar com a bandeira na lapela para lhe reconhecermos o facto de ser governo de Portugal. As pessoas hoje sabem que a maioria parlamentar representa o país e se bate por ele, em Bruxelas, em Berlim, que não se rebaixa. Agora é preciso ir muito mais longe, na recuperação dos rendimentos, na defesa dos serviços públicos, preocupa-nos imenso o estado da saúde, achamos que é preciso romper com as PPP e recuperar os anos de desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Quem quer fazer aproveitamento político com um desastre tão grande como foi Pedrógão é penalizado nas urnasA decisão de não demitir os ministros da Administração Interna e da Defesa não deixa o Governo mais frágil?Fragilizada está a Direita, quem está fragilizado neste país são o PSD e o CDS, isso é claro para quem acompanha a política portuguesa. Pedro Passos Coelho e Assunção Cristas é que são líderes fragilizados. O Governo tem os seus problemas, não o acompanhamos em tudo, como é público, mas quem olha para o cenário político português identifica fragilidades é no PSD e no CDS.
PSD e CDS não souberam aproveitar este mês problemático para o Governo e o país?
Quem quer fazer aproveitamento político com um desastre tão grande e para uma dor nacional como foi Pedrógão é penalizado nas urnas. Com desastres naturais e humanos não se deve tirar aproveitamento político, isso e completamente errado e vai contra qualquer regra ética. Acho que Pedrógão não pode ser uma arma de arremesso.
Passos é um líder desnorteado e fragilizadoE foi?
A Direita tentou fazê-lo. Aliás, Passos Coelho chegou ao ponto de reproduzir uma informação que não foi confirmar da Santa Casa da Misericórdia sobre os suicídios. Isto é a forma como a Direita tenta fazer política. Isso é que é liderança fraca, quando se recorre a este tipo de argumentos tira-se a ilação de que é um líder perdido. É o líder que mete André Ventura, e que o abraça, no concelho de Loures. Isso é que é um líder frágil, quem tenta tirar aproveitamento político de Pedrógão e que escolhe André Ventura. Há uma sintonia nesta forma de estar na política. É de um líder desnorteado e fragilizado.
O PSD não tem condições para manter Passos Coelho na liderança?
Parece-me consensual que Passos Coelho é hoje alguém que tem uma avaliação extremamente negativa em todo o país, acima de tudo pela governação que ele teve. Toda a gente sabe que não só aplicou de forma convicta as políticas da Troika como tentou ir mais longe e foi mais longe e usou a Troika para aplicar o seu programa de governo. Os portugueses sabem que o PSD e CDS são a Troika não porque foram empurrados mas porque aquilo é a sua política. Isso está evidente e fragiliza-os. Que tipo de oposição é possível fazer depois de ter governado com a Troika, acenado com o diabo, ter pedido aos mercados financeiros para penalizarem Portugal e hoje o país estar melhor? PSD e CDS estão no buraco onde se meteram, ninguém os meteu, mas meteram-se voluntariamente.
Em termos pessoais, e não saindo do Parlamento, podemos vê-lo sentado na bancada do Bloco de Esquerda, na próxima legislatura?
Eu estou em Loures, faço política em Loures e estou muito apostado para que o Bloco de Esquerda passe, pela primeira vez, a estar na Câmara Municipal de Loures, e é nesse sentido que trabalhamos.
*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui