Rio e Santana continuam agarrados ao passado e sem consenso para o futuro
O segundo debate entre Pedro Santana Lopes e Rui Rio foi mais contido nos ataques do que o primeiro, no entanto, o passado dos dois candidatos continuou bastante presente. Para além disso, marcaram este confronto o mandato da procuradora-geral da República, o crescimento económico e o papel do PSD nas próximas eleições legislativas.
© Global Imagens
Política Eleições
Depois de um primeiro debate bastante aceso, pautado sobretudo por acusações relativamente ao passado dos dois candidatos, Pedro Santana Lopes e Rui Rio voltaram a estar frente a frente, desta feita na TVI.
A moderadora do debate, Judite de Sousa, tentou focar as suas questões essencialmente no presente e no futuro do PSD e do país, mas Rio e Santana não resistiram e, volta e meia, acabavam a retomar as picardias do último debate. Foi precisamente por aqui que o confronto da noite de quarta-feira começou.
O primeiro a falar foi Santana Lopes, que rejeitou, de imediato, os alegados ataques pessoais a Rui Rio. “O que está em causa é clarificar o modo de cada um ver o partido. As razões que levaram cada um candidatar-se”, começou por dizer, em tom cordial, para de seguida criticar as “trapalhadas” de que Rui Rio falou no anterior debate.
“Eu nunca falei em trapalhadas, eu nunca falei em instabilidade, eu nunca falei em tendas de circo pelo país. Nunca falei em nenhumas dessas expressões que tenho ouvido desde que começou a campanha”, referiu Santana Lopes. Já Rui Rio, falou em “acusações injustas”.
Durante uns momentos, o curto mandato do antigo provedor da Santa Casa enquanto primeiro-ministro pairou no ar. Nesse sentido, Rio voltou a referir que Jorge Sampaio, que dissolveu, em 2005, o Parlamento, teve motivos para o fazer, uma vez que a sua decisão “acabou por ser legitimada pelos portugueses”. “Os portugueses queriam, efetivamente, aquilo que o doutor Jorge Sampaio fez", justificou Rui Rio.
Por esse motivo, continuou o antigo presidente da Câmara do Porto, Santana Lopes dificilmente terá o apoio dos portugueses para desempenhar, novamente, o cargo de primeiro-ministro. “Tenho sérias dúvidas que o povo português, olhando aquilo que se passou lá atrás, lhe confira a credibilidade para o novo exercício do cargo", atirou Rio, repetindo um dos seus fortes argumentos do primeiro confronto, mas que, no decorrer dos debates, acabou por perder força.
O “não assunto” da procuradora-geral da República
Desde que a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, deu uma entrevista à TSF a dizer que o mandato de Joana Marques Vidal, que termina em outubro, não deverá ser renovado, o tema começou a marcar a agenda política mediática, inclusive o último debate quinzenal, tendo o próprio PSD levado o tema para debate na Assembleia da República.
Tendo em conta a atualidade do assunto, que já mereceu também um comentário por parte do Presidente da República, que preferiu desvalorizar e esperar por outubro, Judite de Sousa questionou Santana Lopes e Rui Rio sobre o mesmo.
O primeiro, apesar de se colocar ao lado de Marcelo de Rebelo de Sousa, foi mais assertivo e mostrou-se favorável à renovação do mandato da procuradora-geral da República "Politicamente, se hoje tivesse de tomar uma decisão, como líder da oposição, diria que é adequada a renovação do mandato da PGR", justificou.
Por seu lado, Rio também concordou com absoluto com o Presidente, mas preferiu revelar a sua opinião relativamente à renovação ou não do mandato de Joana Marques Vidal. “O assunto não deve ser politizado”, acrescentou.
Afinal, parece que não há consenso na economia
Picardias à parte, Santana Lopes e Rui Rio, ideologicamente, não estão assim tão distantes quanto isso. Ou será que não é bem assim?
Santana Lopes realçou o “crescimento económico” como pilar do seu programa para o futuro do país, e de seguida acusou Rio de não ter essa “exigência” formulada no programa de candidatura. “Falei em crescimento económico desde o dia da apresentação da candidatura. Ainda hoje estive a reler a declaração de apresentação da candidatura do Rui Rio e essa exigência não é formulada (...) o Rui Rio prefere colocar a tónica no défice zero, eu acho muito importante o equilíbrio das contas públicas”, acusou Santana.
Indignado, Rui Rio discordou do seu oponente e diz que anda há vários anos a dar conferências sobre economia. “A maior parte das conferências que fiz foram sobre crescimento económico. Se há coisa que eu sei, é o que devem ser as finanças públicas portuguesas e a economia portuguesa", rematou. "Mas na tua candidatura falaste em défice zero! Nós passamos a vida, contigo, a ter de pôr tradução simultânea. 'Olha ele disse isto, mas não era isto que ele estava a dizer'", respondeu Santana Lopes, que considera o Orçamento do Estado “pouco amigo das empresas".
E perante uma derrota nas legislativas?
Desta vez, a possibilidade de o PSD ir a eleições coligado com outro partido ficou fora do debate, mas foi introduzida uma nova questão: o que fazer perante uma derrota social-democrata nas próximas legislativas?
Com o fantasma do apoio a António Costa a pairar no ar, Rui Rio descartou a possibilidade de ser “politicamente hipócrita e dizer que ganhamos de certeza” e, por esse motivo, admite apoiar um hipotético governo minoritário do PS. A principal inimiga, diz, é a Esquerda, pelo que é fundamental deixar o Bloco de Esquerda e o PCP fora “da esfera de poder”. "Se amanhã, por acaso, o PSD não conseguir ganhar e o PS estiver em minoria, prefiro deixar passar o governo do PS de modo a ele estar amarrado à Assembleia da República como um todo, e não apenas à Esquerda. Se não consigo o primeiro objetivo, maioria absoluta, nem o segundo, ganhar, no terceiro quero afastar a Esquerda do poder", aprofundou Rui Rio.
Já Santana Lopes, voltou a demonstrar a sua intransigência relativamente a qualquer tipo de acordo com o PS. “Eu sou contra o bloco central, não faço acordos de governo nem para governo com o PS. É preciso os dois partidos alternarem um em relação ao outro", concretizou Santana Lopes, que acusa o primeiro-ministro de ter “rompido a prática constitucional" de que quem ganha as eleições governa. Por isso, só admite ‘deixar passar’ um governo minoritário socialista desde que fique por escrito que esta “prática constitucional” é mantida. "António Costa não pode enganar o PPD/PSD. O PS tem de voltar a provar que está de acordo com esta prática constitucional. Admito um dia conversar sobre o assunto, mas com acordo escrito".
Entre regressos ao passado e tentativas de dar pistas sobre o futuro, Rio e Santana continuaram na tónica seguida na última semana, em que as ideias para o futuro do país parecem, ainda, relegadas para segundo plano. O último dos três debates decorre na manhã desta quinta-feira, na Antena 1 e na TSF.
As eleições diretas para eleger o substituto de Pedro Passos Coelho no PSD estão marcadas para o próximo sábado, 13 de outubro.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com