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Lourenço pode ter sido um 'bebé milagre', mas será um "cidadão normal"

A segunda parte da entrevista do Vozes ao Minuto ao diretor-geral de Saúde, Francisco George.

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© Global Imagens

Carolina Rico
24/08/2016 12:00 ‧ 24/08/2016 por Carolina Rico

País

Francisco George

O setor da saúde está suborçamentado, admite Francisco George na primeira parte desta entrevista ao Notícias ao Minuto, mas acredita que é possível fazer mais com menos, apostando na eficiência. E muito se tem feito, garante o diretor-geral da Saúde, que enaltece o facto de, em matéria de avanços na área da saúde, Portugal ser uma referência para outros países.

Com ou sem falta de verbas, Portugal tem sido palco de avanços na medicina.

Sim, eu sempre disse isso. Portugal alias é procurado por outros países, nomeadamente pelos do norte da Europa, para saber como foi possível avançar tanto em tão pouco tempo sem grandes desequilíbrios, por exemplo, entre o litoral e o interior no que respeita aos indicadores de saúde.

O que se faz de melhor em Portugal no campo da Saúde?

Os cuidados neonatais à criança e à mãe são um exemplo de sucessos alcançados por todos os portugueses no que respeita ao SNS, ninguém põe em causa a excelência desses cuidados.

A medicina portuguesa está a um nível de qualidade e excelência equivalente ao de qualquer país europeuA medicina portuguesa, quer no plano preventivo, ou seja, na organização dos serviços de saúde pública, quer os cuidados prestados nos centros de saúde, hospitais ou cuidados continuados, está a um nível de qualidade e excelência equivalente ao de qualquer país europeu, mesmo da chamada Europa a 15, de países como a França, Alemanha ou países nórdicos.

Estamos todos os dias informados da satisfação que outros países têm em receber especialistas portugueses pala qualidade da sua formação e conhecimentos que demonstram ter.

Como vê o caso do bebé Lourenço, cujo parto aconteceu com a mãe em morte cerebral?

Olhei para este caso com grande entusiasmo desde o princípio e naturalmente trata-se de um sucesso em termos médicos. A mãe estava numa situação de chamada morte cerebral sem regulação do metabolismo e do funcionamento dos órgãos e na ausência dessa regulação dos centros cerebrais foi possível de forma artificial garantir o equilíbrio e fazer com que o útero funcionasse como se o cérebro existisse. Foi um feito importante.

Este bebé será acompanhado ativamente ao longo da vida pelos serviços de saúde?

Não, não! A criança nasceu e é uma criança normal, trata-se de um português normal. Nasceu em boas condições, com saúde. Essa questão não está em causa.

Não será portanto avaliado se esta gestação poderá ter influência no seu desenvolvimento…

É um cidadão normal. Nasceu em questões de normalidade.

Mas na questão do desenvolvimento cognitivo ainda não é possível avaliar em pleno.

Sim. Mas tudo indica que a criança que nasceu é um cidadão português normal, como qualquer outro.

Como avalia a emergência das medicinas alternativas em Portugal?

É preciso separar as boas práticas das más-práticas, o bom do mau e nessa perspetiva a regulação e a regulamentação da lei das medicinas não-convencionais vem permitir separar exatamente as más-praticas, que têm de ser eliminadas, das boas práticas. Para as boas práticas há uma etapa indispensável que é a formação.

Foi bom que a lei tivesse sido aproada e agora regulamentada, exatamente porque não autoriza o exercício de qualquer medicina alternativa, só autoriza o exercício da medicina alternativa comprovadamente exercida por pessoas formadas, que têm uma cédula, que têm obrigatoriamente de ter um seguro, que não podem vender os medicamentos que prescrevem sem consentimento informado dos doentes. Já devia ter acontecido há mais tempo.

Muitas vezes comparo esta questão à da interrupção voluntária da gravidez, que sempre existiu, mas com a lei de 2007 garantiu-se a boa prática em termos de segurança dessa decisão que a mãe toma. E aí estão os resultados: acabaram as infeções, acabaram os problemas de urgência por perfuração de órgãos. Agora é bem praticada e antes era quase sempre mal praticada.

Há um aumento descontrolado de doenças crónicas que têm como denominador comum os estilos de vidaQual é, neste momento, aquela que considera ser a questão de saúde pública mais preocupante no mundo?

São sobretudo três: doenças transmitidas por infetores; doenças crónicas, como a diabetes, o cancro e as doenças respiratórias. Há um aumento descontrolado de doenças crónicas que têm como denominador comum os estilos de vida, como o problema da alimentação – excesso de calorias, gorduras e sal, e o sedentarismo e a terceira grande preocupação tem a ver com a resistência das bactérias aos antibióticos que impõe a adoção de medidas urgentes e drásticas para disciplinar o uso adequado de antibióticos.

Foi indicado para representar Portugal no conselho executivo para a Organização Mundial de Saúde, como está a decorrer este processo?

Está a ser equacionada uma solução com o meu homólogo de Itália porque o país também pretende concorrer ao mesmo lugar e havendo apenas um lugar disponível estamos a trabalhar para um acordo. Não há ainda perspetivas definitivas mas a eleição de um português será muito difícil pela simples razão de que Itália não faz parte deste órgão há mais anos, em termos de regulamento tem primazia, o que complica a eleição de Portugal.

Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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