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"Assunção Cristas não é do PSD, não tem de ter o seu apoio"

De Viseu para o Parlamento Europeu, Fernando Ruas cumpre o terceiro de quatro anos de mandato em Estrasburgo e Bruxelas. O eurodeputado social-democrata deu uma entrevista exclusiva ao Notícias ao Minuto.

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Goreti Pera
23/11/2016 12:10 ‧ 23/11/2016 por Goreti Pera

Política

Fernando Ruas

Impedido de se recandidatar à presidência da Câmara Municipal de Viseu, por ter excedido o limite máximo de mandatos consecutivos, Fernando Ruas assumiu, em 2014, o cargo de eurodeputado, eleito pelo PSD. Lutou pela não aplicação de sanções a Portugal e afirma, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que Portugal “deveria ser elogiado”.

Entrou há dois anos para o Parlamento Europeu. Quais têm sido as suas principais lutas em Bruxelas e Estrasburgo?

Tenho-me focado em três áreas fundamentais, que passam pelo prolongamento da minha atividade política anterior e que tem a ver com o desenvolvimento regional e com as políticas ligadas à coesão, o comércio internacional e o acompanhamento de um grupo informal que trata da CPLP e das relações com os países de língua portuguesa. Fui protagonista na defesa da não aplicação de sanções a Portugal, no âmbito de uma comissão de que sou membro efetivo e que teve uma audição conjunta com a comissão da Economia.

Entretanto, a possibilidade de impor sanções a Portugal foi colocada de parte, bem como a suspensão de fundos.

Eu achava que quem obrigou os portugueses a fazer um sacrifício enorme e cumprir um exercício heróico (passar de um défice de 11% para 3,2% do PIB) não deveria ser castigado mas elogiado. O que é preciso, numa perspetiva de futuro, é verificar se o que é proposto para a próxima é confiável.

A suspensão de fundos a Portugal dependia muito da atuação do Governo. 

Não sou favorável a que se faça gestão financeira à custa dos impostos indiretos

Por atuação do Governo entende-se a apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2017?

Sim, foi isso que as entidades europeias analisaram para confirmar que as medidas que foram aconselhadas no passado e que o Governo diz implementar estavam expressas no documento.

É um Orçamento do Estado convincente?

Eu não conheço o Orçamento do Estado em profundidade. Mas há uma coisa que me parece que tem de ter: honrar os compromissos internacionais e ser um orçamento para o país. Uma é importante a nível interno e outra é importante a nível externo.

De resto, eu não sou favorável a que se faça gestão financeira à custa dos impostos indiretos, porque são impostos cegos e abrangem toda a gente, incluindo quem ganha pouco e não tem nada. Este Governo prometeu não aumentar os impostos, precisava de receitas e recorreu aos impostos indiretos. É fácil fazer as contas, porque é só definir qual a área que se quer e aplica-se o imposto. É sempre muito fácil assim equilibrar o Orçamento.

Espanta-o que um Governo suportado pela Esquerda consiga criar um Orçamento que Bloco de Esquerda e PCP aprovem e, simultaneamente, dê a garantia de que os acordos internacionais são cumpridos?

O acordo à Esquerda está dependente de cedências. Percebe-se bem que não é por problemas orçamentais que, para já, é posto em causa. Quanto aos acordos internacionais, quando se trata de dividir é simples. A distribuição de riqueza num país depende do que se produz. Não se tem aumentado a produção, o que se tem feito para aumentar as receitas necessárias é recorrer aos impostos, neste momento aos indiretos. Este é o dilema. Não se podem aumentar os impostos indefinidamente. É preciso aumentar o emprego e as receitas.

Se o PSD estivesse no governo nesta altura, qual seria a estratégia?

Penso que o PSD não teria de fazer mais nada senão seguir o caminho que veio a seguir. Apanhámos uma fase de austeridade e impusemos sacrifícios aos portugueses, mas notava-se que estávamos a atingir o ponto de indução e isso é que me parece correto. Agora, íamos levantando os sacrifícios progressivamente com uma perspetiva realista e não com visões de curto prazo.

É da opinião que a carga fiscal aumenta ou diminui com a proposta de Orçamento do Estado para 2017 apresentada pelo Executivo?

Isso há de se ver perfeitamente. Os impostos indiretos aumentaram, e de que maneira. Os outros não se sabe, não conheço uma redução em nenhum imposto. Não sei porque é que a carga fiscal diminuiu. Sou levado a concluir que a carga fiscal aumentou. O Governo há de demonstrar o contrário.

O PSD não tem necessidade de apoiar a dra. Assunção Cristas. Tem de ter candidatos próprios a todas as câmaras

Aproximam-se as eleições autárquicas. Como olha para a candidatura de Assunção Cristas à Câmara Municipal de Lisboa? Considera que o PSD deveria ter apoiado a líder do CDS nesta candidatura?

A candidata não é do PSD, não tem de ter o seu apoio. E o partido não tem nenhuma necessidade de apoiar outro candidato, por muita consideração que mereça a dra. Assunção Cristas. O PSD é o maior partido português e tem de pugnar para ter candidatos próprios a todas as câmaras. É uma obrigação.

É uma obrigação o PSD ter um candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, portanto?

Acho que sim, pelo menos tem de fazer os possíveis para que assim seja. O mesmo para a Câmara do Porto. Sendo o maior partido português, o PSD não pode deixar de ter candidatos em todas as câmaras do país.

E quem é que está melhor colocado no seu partido para vir a tornar-se presidente da Câmara de Lisboa?

Não sei, o PSD há de arranjar soluções, mas tem-se falado muito no meu companheiro Pedro Santana Lopes e ele é um bom candidato a qualquer câmara do país, nomeadamente a Lisboa, de que já foi presidente.

Pedro Santana Lopes é um bom candidato a qualquer câmara do país

É o que melhor serve os interesses da capital e do seu partido?

É, pelo menos, uma pessoa extremamente bem colocada e a mim não me desgostava nada vê-lo como candidato, antes pelo contrário.

Contempla a hipótese de voltar a candidatar-se à presidência da Câmara de Viseu, que foi a sua casa durante 24 anos?

Eu não contemplo nem deixo de contemplar, não é um sim nem um não. Ao fim destes quatro anos eu estou livre, sou um viseense, um cidadão de Viseu. Hei de aguardar por posições do partido, naturalmente. Neste momento, nem que me quisesse candidatar não podia, ainda estou debaixo do castigo imposto pela legislação.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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