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"Sempre soube que a tecnologia iria mudar a forma como fazemos medicina"

Na segunda parte da entrevista do Notícias ao Minuto a Dr. Oz, o famoso médico explica-nos a sua ligação à tecnologia e responde à dúvida: gosta mais de estar na televisão ou no consultório?

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© Getty Images

Bruno Mourão
10/11/2017 12:00 ‧ 10/11/2017 por Bruno Mourão

Mundo

Dr. Oz

Nascido nos Estados Unidos, filho de imigrantes turcos, Dr. Oz seguiu o caminho da cirurgia cardiotorácica e foi médico até descobrir os dotes naturais de comunicação no programa de Oprah Winfrey. 

Foi então que deixou de ser 'o médico da Oprah' e se assumiu como o mais famoso doutor televisivo do planeta. O Notícias ao Minuto teve oportunidade de falar com Dr. Oz durante a sua visita a Portugal a propósito da Web Summit e mostra-lhe agora a segunda parte da entrevista. 

Está em Portugal devido à Web Summit, onde falou em várias conferências. Qual é a sua ligação com a tecnologia? 

Sou fascinado pela tecnologia, sempre fui. Toda a minha carreira na medicina foi baseada em pegar nas novas tecnologias e usá-las. Inventei o dispositivo para as primeiras bombas cardíacas mecânicas, para reparar as válvulas; a ideia foi de um cirurgião italiano, mas estive numa conferência com ele em Bérgomo, na Itália, e escrevi a primeira patente num caderno como o seu. Sempre soube que a tecnologia iria mudar a forma como fazemos a medicina, mas creio que a tecnologia vai mudar não pelos dispositivos, mas pela informação, pela capacidade de fazer chegar às pessoas a informação quando precisam de a ouvir e estando adaptada às suas necessidades e à altura em que querem ouvir a informação. 

Na Sharecare [empresa de tecnologia fundada pelo Dr. Oz] comprámos uma empresa que ouve a nossa voz e diz-me os níveis de stress. Assim posso dizer-lhe que quando toma café fica stressado, quando não dorme fica stressado, posso perceber se está com insónias porque está stressado... mas posso saber que não vou dar-lhe más notícias ou recomendações porque consigo detetar o nervosismo na sua voz. Vou esperar até que esteja de bom humor e, aí, digo-lhe. 

A inteligência artificial vai funcionar porque cria empatia, não é apenas informaçãoVê então essa troca de informação como algo mais benéfico do que os dispositivos como os smartwatches, os contadores de passos e outras ferramentas de saúde ou exercício? 

Isso é a 'fundação da casa'. É preciso ter internet em todo o lado para ter os conselhos ideais para dar, mas o 'motor' dos conselhos é a inteligência artificial. A inteligência artificial vai funcionar porque cria empatia, não é apenas informação. Há uma noção de quando quer ouvir as coisas e de como se deve contar. Não vou dizer-lhe "tem cancro no cérebro", vou dizer "se está a acordar à noite com dores de cabeça, estou preocupado". Posso depois ver que há dois médicos que recomendo e premindo um botão, posso marcar consulta com um deles. Não vou dar esta informação quando discutiu nesse dia com os seus filhos, porque não vai ser capaz de a processar; vou dar-lhe quando está num bom estado mental. 

Algumas das funções dos médicos serão substituídas, mas passaremos a utilizar os médicos para aquilo que eles deviam fazer: ser curadoresAcredita que esse elemento de inteligência artificial melhora a relação entre médico e paciente? Ou acha que os médicos serão substituídos por robôs? 

Acho que algumas das funções dos médicos vão ser substituídas, mas passaremos a utilizar os médicos para aquilo que eles deviam fazer: ser curadores. Normalmente designamos esta profissão com três palavras: doutor, do latim 'doctore', que significa professor; 'physician', que é um cientista; e médico, que está mais ligado à ideia de curador. A designação do meio, a de cientista, vai ser substituída pela inteligência artificial. 

É uma questão de reconhecer padrões, e as máquinas são melhores nisso. Se eu sou patologista, para quê estar a olhar para lâminas de microscópio? Uma máquina faz isso melhor do que eu. No caso da radiologia é a mesma coisa: a minha irmã telefonou-me a dizer que a minha mãe tinha um raio x com um resultado anormal e queria saber se devia pedir outro; um radiologista pode ter uma opinião, mas a máquina saberia o que fazer e qual o exame a pedir para clarificar o resultado. Posso substituir um médico que me diz se tenho diabetes e quando devo ser examinado, mas não posso substituir um médico quando me segura a mão e me olha nos olhos, quando cria uma relação, quando está a ser um detetive, a tentar descobrir o que se passa. 

A parte mais recompensadora para mim é sentar-me numa sala com as pessoas e dizer-lhes "estou aqui para si"É conhecido por ser um cirurgião, mas ganhou fama na televisão. Onde prefere estar: no bloco operatório, numa sala com um paciente ou no estúdio de televisão? 

A parte mais recompensadora para mim, e é por isso que ainda faço operações, é sentar-me numa sala com as pessoas e dizer-lhes "estou aqui para si", criando um momento magnífico. Aquilo que faço é pegar nesse momento e colocá-lo na televisão. É isso que tento fazer, captar essa emoção e transmiti-la aos espectadores. Estou a olhar para uma câmara, mas estou a tentar transmitir a mesma emoção. A maravilha da televisão é que, sendo só um, consigo chegar a muitas pessoas; a maravilha da tecnologia é que o 'um para muitos' pode transformar-se outra vez em 'um para um'. Falo para 10 milhões de pessoas por semana porque o meu programa passa em 100 países, mas com a tecnologia posso falar especificamente para cada país, para cada comunidade, ou para si. Essa é a nova geração de programas como o meu. Se conseguirmos adaptar a informação a quem a está a ouvir, essa informação será muito mais poderosa. 

Apesar de ser uma ferramenta muito poderosa para transmitir informação, a televisão acaba por colar as pessoas ao ecrã e levar ao sedentarismo. Nos Estados Unidos esta questão é um grande problema, acha que está a alastrar-se a outros países? 

Sim, sem dúvida, o consumo de vídeo está a aumentar exponencialmente em todo o mundo. Antes, estávamos sentados na sala só a ver televisão, mas agora podemos ver tudo aqui [aponta para o telemóvel]. O importante agora é ter conteúdo de qualidade, porque isso ganha sempre. Desde novo que se fala nisto. A certa altura todos pensavam que a televisão ia substituir a rádio, mas fazia-se rádio para televisão, não se tinha ainda mudado a mentalidade, estávamos a usar tecnologia antiga num novo formato. Conforme a televisão foi evoluindo, começámos a fazer televisão na internet. É aí que estamos. O verdadeiro futuro será quando tivermos vídeo feito especialmente para a internet que seja interativo e funcione bem. Mudar da televisão para a internet é ótimo para programas como o meu, que ganham Emmys e que assim podem estar em todo o lado. Se estou limitado a passar o meu programa numa hora em que não está em casa, isso é mau para mim. Prefiro estar lá sempre que quer. Se só vir cinco programas, quero que o meu seja um dos cinco. 

*Pode ler a primeira parte da entrevista a Dr. Oz aqui

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