O cinema de terror e Fernando Pessoa na vida do cineasta Ari Aster
O realizador norte-americano Ari Aster partiu de uma história pessoal, acrescentou alguns ingredientes do cinema de terror, e rodou 'Midsommar - O Ritual', o filme que apresentará na sexta-feira, no festival MoteLX, em Lisboa.
© Global Imagens
Cultura MOTELx
Em entrevista à agência Lusa, Ari Aster, 33 anos, descreveu-se como um realizador de filmes de género, mas não quer compartimentar-se apenas no cinema de terror, onde o têm colocado em particular por causa de "Midsommar" e pelo filme anterior, "Hereditário", eleito um dos melhores de 2018.
"Provavelmente tão cedo não farei um filme de terror", disse. O próximo projeto poderá ser uma comédia negra, um filme de ficção científica ou sobre uma tragédia familiar, enumerou.
Por enquanto, o realizador tem andado a divulgar 'Midsommar - O Ritual', cuja ação envolve um grupo de amigos que decide rumar a uma aldeia sueca para se juntar às festividades de uma tradicional festa pagã.
A aparente descontração do festival de verão, de celebração ao sol, vai-se transformando numa sucessão de acontecimentos sinistros e macabros em plena luz do dia. "Estou mais interessado em 'suspense' e no medo. E não é preciso escuridão para isso".
O realizador quis explorar o medo das pessoas de estarem em espaços abertos, de estarem a ser vigiadas, de não terem para onde ir.
Ari Aster, que assina também o argumento, explicou que a história do filme surgiu como resposta a uma necessidade pessoal, para superar o fim de uma relação. "Gosto de incluir coisas pessoais no meu trabalho, enquadrados por um género cinematográfico".
De caminho foi contactado por uma produtora sueca para outro trabalho e viu aí uma oportunidade de fazer este filme de 'terror folk', que é protagonizado por Florence Pugh e Jack Reynor.
"Depois foi uma questão de fazer pesquisas e ver as diferentes tradições nórdicas, mas também alemãs e até inglesas, mergulhar no folclore, em diferentes culturas espirituais, perceber o que poderia usar para encaixar na história, e depois foi criar o resto", resumiu.
À Lusa, numa manhã dedicada a uma série de entrevistas com a imprensa portuguesa, Ari Aster recordou que, na adolescência e enquanto estudante de cinema, viu tudo o que podia em matéria de filmes.
"Gosto de 'westerns', de comédia, de musicais, de tragédias. Vi tudo o que podia. Em miúdo escrevia muito, não fazia filmes 'super 8' com os amigos, era muito solitário. A minha dieta eram os clássicos, Bergman, Fellini, Scorsese, japoneses, Polanski, Conenberg".
No cinema o que mais lhe interessa, contou, é "o sentido do lugar, personagens bem desenvolvidas e detalhes que garantam que cada cena tenha uma razão de ser".
Enquanto estiver em Lisboa, Ari Aster espera ter tempo para percorrer alguns dos pontos na cidade que o relacionem com Fernando Pessoa, que diz ser o escritor preferido.
"Gosto do 'Livro do Desassossego' e da forma como ele se separa em diferentes 'persona'. É uma forma muito honesta de se escrever sobre si próprio. Era inventivo de uma maneira que me inspirou muito enquanto eu crescia, volto sempre à poesia dele e em especial ao 'Livro do Desassossego'", disse.
O MoteLX termina no domingo.
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