Vítor Manuel de Aguiar e Silva foi escolhido pelo júri em reconhecimento pela "importância transversal da sua obra ensaística, e o seu papel activo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa", lê-se no comunicado divulgado no seguimento da reunião do júri da 32.ª edição do Prémio Camões, que decorreu hoje em Lisboa.
"No âmbito da teoria literária, a sua obra reconfigurou a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa. Objecto de sucessivas reformulações, a Teoria da Literatura constitui-se como exemplo emblemático de um pensamento sistematizador que continuamente se revisita. Releve-se igualmente o importante contributo dos seus estudos sobre Camões", acrescentou o júri.
A ministra da Cultura destaca, por sua vez, as "qualidades intelectuais e académicas, mas também pelo perfil humanista com que marcou de um modo decisivo gerações de alunos, um pouco por todos os lugares onde ensinou, bem como leitores".
"A sua obra revela o seu apurado sentido crítico e o sempre renovado olhar de leitor", acrescentou Graça Fonseca.
Vítor Manuel de Aguiar e Silva, ensaísta e professor universitário, nasceu em Penalva do Castelo, em 1939. Na Universidade de Coimbra, obteve todos os seus graus e títulos académicos e foi professor catedrático da Faculdade de Letras até 1989, ano em que pediu transferência para a Universidade do Minho.
Nesta Universidade foi também professor catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas, fundou e dirigiu o Centro de Estudos Humanísticos e a revista Diacrítica. Desempenhou também as funções de vice-reitor, de junho de 1990 a julho de 2002, altura em que se aposentou.
Vítor Aguiar e Silva tem-se dedicado especialmente ao estudo da Teoria da Literatura - domínio em que a relevância do seu ensino e da sua investigação é nacional e internacionalmente reconhecida -, e da Literatura Portuguesa do Maneirismo, do Barroco e do Modernismo.
A sua atividade de investigador tem-se centrado sobretudo nos estudos camonianos.
O ensaísta tem recebido vários prémios, entre os quais o Prémio Vergílio Ferreira de 2002, atribuído pela Universidade de Évora, o Prémio Vida Literária, em 2007, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Caixa Geral de Depósitos, e o Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural, em 2018.
Na edição do ano passado do Prémio Camões o vencedor foi o músico e escritor Chico Buarque que, na altura, disse sentir-se "muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar", o seu compatriota distinguido com o prémio em 2016.
Instituído em 1988 pelos governos português e brasileiro "com vista a estreitar os laços culturais entre os vários países lusófonos e enriquecer o património literário e cultural da língua portuguesa, o Prémio Camões tem o valor de cerca de 100 mil euros.
Do júri fazem parte especialistas de ambos os países, bem como de outros países de língua oficial portuguesa.
A primeira vez que foi atribuído foi em 1989, ao escritor Miguel Torga. Mais recentemente, em 2018 o prémio distinguiu o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, autor de 'A ilha fantástica', 'Os dois irmãos' e 'O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo', entre outras obras, e no ano passado Chico Buarque que se estreou na escrita com o romance com 'Estorvo', em 1991, a que se seguiram 'Benjamim', 'Budapeste', 'Leite Derramado' e 'O Irmão Alemão', publicado em 2014.
Lista dos distinguidos com o Prémio Camões:
1989 -- Miguel Torga, Portugal
1990 -- João Cabral de Melo Neto, Brasil
1991 -- José Craveirinha, Moçambique
1992 -- Vergílio Ferreira, Portugal
1993 -- Rachel Queiroz, Brasil
1994 -- Jorge Amado, Brasil
1995 -- José Saramago, Portugal
1996 -- Eduardo Lourenço, Portugal
1997 -- Pepetela, Angola
1998 -- António Cândido de Mello e Sousa, Brasil
1999 -- Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
2000 -- Autran Dourado, Brasil
2001 -- Eugénio de Andrade, Portugal
2002 - Maria Velho da Costa, Portugal
2003 -- Rubem Fonseca, Brasil
2004 -- Agustina Bessa-Luís, Portugal
2005 -- Lygia Fagundes Telles, Brasil
2006 -- José Luandino Vieira, Portugal/Angola
2007 -- António Lobo Antunes, Portugal
2008 -- João Ubaldo Ribeiro, Brasil
2009 -- Arménio Vieira, Cabo Verde
2010 -- Ferreira Gullar, Brasil
2011 -- Manuel António Pina, Portugal
2012 -- Dalton Trevisan, Brasil
2013 - Mia Couto, Moçambique
2014 - Alberto da Costa e Silva, Brasil
2015 - Hélia Correia, Portugal
2016 - Raduan Nassar, Brasil
2017 - Manuel Alegre, Portugal
2018 - Germano Almeida, Cabo Verde
2019 - Chico Buarque, Brasil
2020 - Vítor Aguiar e Silva, Portugal
[Notícia atualizada as 19h12]