Jovens Compositores em Residência da Casa da Música recordam experiência

Os primeiros cinco Jovens Compositores em Residência da Casa da Música recordam a experiência como um momento em que ganharam visibilidade e se tornou possível trabalhar ao mais alto nível, elogiando a instituição no destaque à música contemporânea.

Notícia

© Wikicommons 

Lusa
12/04/2025 11:45 ‧ há 10 horas por Lusa

Cultura

Casa da Música

Desde 2007 que a Casa da Música convida um jovem compositor a ser "residente" ao longo desse ano, o que significa compor para os agrupamentos da Casa e beneficiar de trocas de conhecimento com músicos e outros artistas.

 

A Lusa contactou os primeiros cinco Jovens Compositores em Residência para que lembrassem esse momento e partilhassem que impacto teve a experiência nas suas carreiras.

Todos estavam a acabar os estudos ou ainda a desenvolvê-los, com pouca música exposta ao público, e são consensuais na alegria que representou o primeiro contacto com a notícia de que iam estar ligados à Casa da Música durante um ano, a desenvolver peças para serem interpretadas por grupos como a Orquestra Sinfónica do Porto ou o Remix Ensemble.

Para o primeiro convidado, Vasco Mendonça, a notícia de que ia ser Jovem Compositor em Residência da Casa da Música "foi o primeiro momento em que [sentiu] que esta carreira podia ser uma realidade", como disse, em entrevista à Lusa.

"A profissão de compositor é sempre uma espécie de ciência oculta, em Portugal, e na verdade é uma carreira de franja", afirmou o compositor, que no ano passado foi Compositor (Sénior) em Residência da Casa da Música, quando Portugal foi o país temático da programação.

Sobre o impacto na carreira, Vasco Mendonça explicou que "houve uma exposição ao meio e à sociedade que depois se traduziu em pedidos, contactos para desenvolver trabalho noutros contextos, de instituições, de músicos, de ensembles".

Já Luís Lopes Cardoso, o escolhido de 2008, ficou igualmente "radiante": "Gerou imensa expectativa da minha parte porque ia ter oportunidade de escrever música para os dois agrupamentos residentes, na altura, o Remix e a Orquestra Sinfónica do Porto".

O compositor, hoje mais ativo na direção coral do que na composição, salientou que a experiência foi importante na sua construção enquanto artista, com "um nível muito alto de exigência e de responsabilidade", quer pelos músicos de elevada qualidade para quem escreveu quer pela sala onde a sua música foi interpretada.

"Acho que foi muito importante para a minha formação, mas em termos que não consigo quantificar nem tão pouco materializar", disse Luís Lopes Cardoso, que, apesar da distância da composição, refletiu sobre a importância de contribuir para os terrenos em torno dos espaços de criação artística: "Tem de haver um substrato musical para haver grandes ocorrências artísticas".

Quando recebeu o convite para o ano seguinte, Daniel Moreira ainda era aluno do segundo ano da licenciatura em Composição da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), e ganhou uma "visibilidade muito grande" por ter estado na programação da Casa da Música durante um ano inteiro.

"Tive sorte, porque tanto a peça que escrevi para o Remix como para a Orquestra acabaram por ser tocadas várias vezes. O Remix levou a peça a um festival na Alemanha e passado um ano, em 2010, levou a outro festival em Estrasburgo. E com isso a peça vai crescendo. É um mal que às vezes existe na música clássica contemporânea, há muitas peças que só são feitas uma vez", afirmou o compositor, agora também professor na ESMAE.

Também Daniel Martinho, ainda estudante em 2010, classifica como "indescritível" a notícia, num ano que foi "de muita aprendizagem e também de ansiedade e nervosismo". "Lembro-me que foi um ano de muita pesquisa, de muito trabalho, para conseguir da melhor forma desenvolver as minhas composições", afirmou.

"Penso que o meu nome ficou conhecido no meio pelo facto de ter sido Jovem Compositor Residente. Depois, fui tendo outras encomendas ao longo da minha carreira e tenho a certeza de que ter sido jovem compositor ajudou a impulsionar essas oportunidades", afirmou à Lusa.

Ângela da Ponte, Jovem Compositora Residente de 2011, lembra-se que estava em São Miguel com a família quando recebeu o telefonema do então diretor artístico, António Jorge Pacheco: "Nem queria acreditar. Estava eufórica, como se deve imaginar, e ao mesmo tempo em pânico. A responsabilidade era imensa: compor música para os agrupamentos residentes de uma das casas de concertos mais importantes do país. Ao mesmo tempo tinha iniciado outra grande aventura: mestrado em composição na Universidade de Birmingham e senti que a minha vida estava a seguir um rumo muito especial".

"Sem dúvida que esta nomeação foi um marco importantíssimo no meu desenvolvimento enquanto compositora. A Residência e a Casa da Música foram uma plataforma de visibilidade do trabalho composicional numa altura em que as redes sociais ainda estavam a surgir. De um momento para o outro surgiram muitas outras encomendas", escreveu Ângela da Ponte à Lusa, por 'email'.

Há também uma convergência por parte dos cinco compositores em elogiar o papel da Casa da Música e do seu diretor artístico entre 2009 e março deste ano, António Jorge Pacheco, no trabalho de divulgação da música contemporânea.

"Como espectador, acho que é um espaço absolutamente fundamental não só na região, mas no país, no sentido em que é o único equipamento cultural dedicado à música e que agrega em si uma multiplicidade de idiomas e de registos sem qualquer preconceito e isso é extraordinariamente válido e moderno", afirmou Vasco Mendonça, que descreveu António Jorge Pacheco como um "campeão da música contemporânea em geral, mas também da música contemporânea portuguesa".

Vasco Mendonça -- que disse estar otimista de que a nova direção artística iria manter os "elementos diferenciadores" de que a Casa dispõe - acrescentou que se trata de "um espaço absolutamente único e isso pode ver-se pela programação da temporada passada", quando houve programas "só feitos por peças escritas nos últimos 10, 20 anos que enchem uma sala e isto é um caso único - ou muito raro -- até no caso das instituições europeias".

Também Daniel Martinho realçou a capacidade de a Casa da Música programar, mesmo nos concertos da Sinfónica, peças contemporâneas pela importância que isso tem para "educar o público, para que comece a apreciar esse tipo de música que, muitas vezes, pode ser muito complicado para uma pessoa que não tem formação ou tem pouco contacto com a música".

"Podemos ter sempre visões críticas em relação a um ou outro aspeto, mas quando se pensa nesse âmbito de 20 anos e no impacto que a Casa da Música teve, a conclusão só pode ser que foi um impacto absolutamente positivo e transformador", conclui Daniel Moreira.

A construção da Casa da Música, com projeto do arquiteto Rem Koolhaas, iniciou-se em 1999 e a inauguração oficial ocorreu no dia 15 de abril de 2005.

Ao longo de 20 anos, a Casa da Música realizou mais de seis mil concertos e acolheu 3,8 milhões de espectadores e participantes, tendo encomendado mais de 300 obras musicais.

Nestas duas décadas, a Casa da Música desenvolveu mais 26 mil atividades, trabalhou com mil grupos comunitários e realizou 35 mil visitas guiadas para um total de 570 mil visitantes.

Leia Também: Casa da Música celebra 20 anos de abertura ao público

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas