Intitulada "Ó (Ó Agudo)", a mostra reúne obras dos últimos 15 anos da artista e tem curadoria de Bruno Marchand, programador de artes visuais da Culturgest.
A escolha de Sónia Almeida prende-se com "uma espécie de precedência" de uma exposição apresentada em 2009 no Espaço Chiado 8, onde a Culturgest fazia exposições individuais de artistas portugueses, explicou Bruno Marchand, numa apresentação à imprensa.
Sónia Almeida fez todo o seu percurso profissional fora de Portugal, tendo rumado aos Países Baixos assim que terminou a licenciatura em pintura, mudando-se depois para o Reino Unido e, finalmente, para os Estados Unidos, onde fixou residência em Boston.
"Todo o percurso fora de Portugal foi notório em 2009, pois houve pouco horizonte de receção para o trabalho de Sónia", disse o curador, durante uma visita para jornalistas, acrescentando que o facto de estar "deslocada fisicamente a nível artístico" poderá explicar a pouca visibilidade que tem em Portugal.
"Somos muito pequenos. Conhecemos os artistas a operar no nosso território, mas temos dificuldade de acompanhar os que estão fora", disse.
A artista acrescentou que para isso contribui o facto de quase não estar representada em coleções no país, à exceção de uma obra em Serralves, o que não permite que haja circulação.
No entanto, Sónia Almeida é hoje referenciada internacionalmente como uma das artistas portuguesas de maior relevo no panorama da arte contemporânea, sendo destacada por publicações como a revista The New Yorker ou o departamento de arte da Universidade de Harvard, bem como por outros artistas renomados, de que é exemplo Craig Stockwell.
Apesar de a exposição de 2009 ter tido uma "receção ambígua", a artista "deixou rasto", pois desde então foi aparecendo em exposições coletivas em Portugal e individuais no estrangeiro, sendo esta a primeira mostra individual que faz no seu país de origem desde aquela data, esclareceu Bruno Marchand.
O título escolhido tem a ver com "o estar dentro e fora do contexto", porque o "ó", de Sónia, com acento agudo, não é usado em escrita nas línguas anglo-saxónicas, então o dilema põe-se entre "insistir no nome com acento agudo ou deixar sem acento, que não é", explicou a artista.
"Há uma espécie de debate interno sobre o que se é. Um debate entre o território onde nasceu ou o deixar diluir num contexto em que Sónia existe, mas com amputação gráfica", acrescentou Bruno Marchand.
Esta exposição contempla cerca de 40 obras, entre pinturas, desenhos e obra gráfica, demonstrando referências ao seu universo de trabalho, seja na forma de pautas, nas alusões ao tempo, ao movimento, ao palco ou à coreografia.
Muitos dos corpos, dos gestos e das poses reconhecidas nas suas peças pertencem ao universo da dança ou da performance que a artista portuguesa tem vindo a explorar ao longos do anos.
O universo pictórico da artista apresenta grelhas, formas geométricas, monocromias, velaturas, empasto e várias outras opções artísticas, num registo experimental que testa os limites da convivência cromática, a exploração do encontro entre técnicas distintas e ensaia formatos menos rígidos e estáticos para a pintura, desafiando as fronteiras entre o ilusório e o concreto, a figuração e a abstração.
Ó (ó Agudo) vai estar patente até dia 02 de julho. A inauguração da exposição realiza-se no dia 31 de março, às 22:00.
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