Conheça o roteiro de Carlos Bica para o seu novo álbum '11:11'

As críticas de publicações internacionais de jazz ao novo álbum de Carlos Bica, '11:11', entre blogues, 'sites' e meios tradicionais, concordam que "o lirismo característico do contrabaixista e compositor português brilha sempre".

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© Carlos Bica / Facebook

Lusa
14/07/2024 12:03 ‧ 14/07/2024 por Lusa

Cultura

Carlos Bica

Na página dedicada a '11:11', na plataforma Bandcamp, pode ler-se que "o experiente Bica", com um grupo de jovens músicos, oferece "um 'set' sublime de dádivas quase miraculosas, impregnadas de um clima exuberante e tranquilo", numa referência direta aos 12 temas que compõem o álbum.

 

Radicado na Alemanha há 40 anos e com uma carreira internacional que o liga a protagonistas do jazz como Frank Mobüs, Jim Black, John Zorn ou Lee Konitz, Carlos Bica nunca perdeu o contacto com a cena musical portuguesa e foi o primeiro a reconhecer nos músicos que agora o acompanham "alguns dos mais talentosos e criativos de uma nova geração": José Soares, em saxofone alto, Eduardo Cardinho, em vibrafone, e Gonçalo Neto, em guitarra e banjo.

O tema 'Roots' abre o álbum recém-publicado. Trata-se de "uma música da autoria do Gonçalo Neto, ou melhor dizendo, da secção final dessa mesma música", descreve Carlos Bica à agência Lusa. "Já a tinha tocado na íntegra com o Gonçalo e achei que essa secção final tinha potencial para viver por si", o que deu 'Roots' ("Raizes").

"O Gonçalo, tal como eu, gosta de melodias bonitas e simples", confessou o contrabaixista.

A sequência segue com 'Lucky"' o que constitui a primeira gravação deste tema, depois da sua estreia ao vivo. "Cada vez mais gosto de música onde nada acontece. Passo a explicar: onde as melodias e os ritmos dançam no ar, sem que pretendam chegar a algum lado. O caminho é a meta", explicou Carlos Bica.

A composição "Não estás aqui por acaso" emerge da "melodia principal de uma peça de dança com o mesmo nome para a qual fiz a música e contracenei em palco com a bailarina Leonor Keil".

Quanto à música 'Half Step', prossegue Carlos Bica, "tal como o nome o diz, é construída sobre um motivo harmónico-melódico baseado em meios tons, em inglês 'half step'", o que estabelece o seu caráter.

'A Place you will never see', indica o contrabaixista, é "uma bonita música da autoria do Gonçalo [Neto] que ele escreveu pouco tempo depois de termos dado início à nossa colaboração".

Do compositor e pianista alemão Carsten Johannes Daerr vem 'Blue in grey'. Daerr é um músico próximo de Bica. Com ele acompanhou a cantora Kristiina Tuomi, e dele interpretou, por exemplo, a canção 'Iceland', sobre o poema de W.B. Yates, incluída no álbum 'Close to You', com Maria João.

'A Noite', de José Mário Branco (1944-2019), projeto em torno da própria voz do criador de 'Margem de Certa Maneira' e da sua longa composição de 1985, concretiza-se em '11:11'.

Depois de 'Roots' e 'A Place you will never see', de Gonçalo Neto, todas as outras composições do novo álbum são de Carlos Bica. Os arranjos resultam do trabalho coletivo do quarteto.

A peça que dá título ao álbum, '11:11', surgiu de um acaso: "Há uns anos aconteceu olhar para o relógio e repetidamente serem 11:11", fosse de manhã ou à noite, recordou Carlos Bica à Lusa. A pesquisa levou-o a descobrir que, "na numerologia, '11:11' é visto como um portal para o universo".

Carlos Bica comentou a coincidência com amigos e colegas, "e o vírus tratou do resto". "Estava sempre a receber mensagens deles com '11:11' ou outros números especiais. Pouco tempo depois, estava a tocar no Hot Clube [em Lisboa] com o [guitarrista] André Santos e o [saxofonista] João Mortágua e, antes de tocarmos o '11:11', quando o André estava a explicar ao público a razão do título, o João vira-se para mim e diz-me: 'A propósito, neste momento são 11:11'".

"A enorme curiosidade levou-me a perguntar ao 'Dr. Google' se 11:11 teria algum significado especial. Encontrei imensas respostas, entre outras, que quando nos surge o número, a ligação entre o nosso eu mais profundo e o universo é muito estreita, o que nos dá o poder de influenciar parcialmente o nosso destino com pensamentos positivos e os nossos desejos mais profundos. A ideia agrada-me".

Na plataforma Bandcamp, a apresentação de '11:11', o álbum, culmina com a recordação dos 25 anos da Revolução dos Cravos, "sinónimo de libertação e liberdade de expressão", a propósito de "A Noite" e do modo como este novo quarteto de Carlos Bica aborda uma gravação de arquivo com a voz de José Mário Branco.

"Numa altura em que, tragicamente, [...] demasiados se recusam a aprender as lições que a história ensinou, Bica presta uma homenagem reverente a um dos seus heróis de sempre, que acreditava fervorosamente na democracia e estava disposto a lutar por ela até ao fim."

Carlos Bica disse à Lusa que o concerto de apresentação de '11:11' se realiza a 16 de outubro, no Auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, o mesmo onde no ano passado apresentou o trabalho anterior, 'Playing With Beethoven', no âmbito do Festival Causa - Efeito.

Leia Também: Álbum de Carlos Bica lembra Zé Mário Branco

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