Ativista Zanele Muholi traz retratos da comunidade negra 'queer' a Serralves

Zanele Muholi, artista e "ativista visual" da África do Sul, expõe a partir de quinta-feira em Serralves uma série de trabalhos fotográficos que pretendem dar visibilidade à comunidade negra 'queer', incluindo alguns retratos captados no Porto.

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Lusa
09/04/2025 23:21 ‧ há 4 dias por Lusa

Cultura

Zanele Muholi

"Agradeço à equipa por ter trazido este trabalho para aqui, porque é muito necessário neste período de tempo particular. O meu trabalho é sobretudo sobre a comunidade negra LGBTIA+ [lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo, assexuais e outros] uma comunidade da qual faço parte", explicou hoje aos jornalistas durante uma visita de imprensa na Fundação de Serralves, no Porto.

 

Em causa está uma exposição, patente a partir de quinta-feira até dia 12 de outubro, que é "maior retrospetiva" da obra de Zanele Muholi realizada até hoje, coorganizada pela Tate Modern de Londres, contando com "mais de 200 fotografias exibidas em salas transformadas propositadamente" para o efeito.

"O que estão a ver aqui são diferentes corpos de trabalho que falam sobre a existência e resistência de pessoas trans e 'queer' hoje. Venho de um sítio onde temos a melhor Constituição no mundo, o que significa que se falarmos da presença das pessoas e da luta das pessoas, e do povo como um movimento, significa que isso necessita de um visual", aponta Muholi.

Identificando-se como "ativista visual", vinca que "algumas pessoas já foram a [paradas] do Orgulho Gay e Orgulho Trans e coisas como essas, mas raramente têm presença em museus".

"Na minha cabeça, pensei que uma pessoa não pode só existir uma vez ou duas por ano como pessoa 'queer' ou trans. Estamos lá 365 dias por ano. Estas imagens falam sobre a nossa presença e a nossa resistência e sobre como, trazidas aqui, são uma forma de chamarmos à atenção e criarmos visibilidade sobre nós nos arquivos visuais e nos documentos históricos", vincou.

Para Zanele Muholi, "a História é muito, muito importante e o os museus são sítios para as pessoas aprenderem e perceberem o que está a acontecer".

A exposição inclui a série de autorretratos "Somnyama Ngonyama" ("Viva a Leoa Negra", em português), que expõem a relação de Muholi com objetos e situações do quotidiano.

Já numa série de retratos feitos por todo o mundo, denominada "Faces and phases" ("Faces e Fases", em português) para a exposição em Serralves contam-se alguns captados no Porto, com o auxílio da comunidade 'queer' local.

"É por isso é que essas pessoas surgiram e 'subiram' até ao museu, porque se não há ninguém do seu espaço particular, qual seria a utilidade de estar no museu? É para assegurar que toda a gente é bem-vinda, que toda a gente sinta que o museu é para todos, e não para uns poucos privilegiados", apontou.

Para Zanele Muholi, essas pessoas "precisam de se ver não só como vítimas ou não só pessoas que sentem que são excluídas", mas sim pessoas "cujo trabalho é mostrado no museu ou está presente no museu, que criaram o projeto e obras de arte que se encontram no museu".

"Essas pessoas merecem estar aqui. São parte desta estrutura e 'subiram' ao museu e ficam felizes de ser parte deste artefacto histórico de documentos", vincou.

Em Serralves, a adaptação da exposição ao espaço do museu foi conduzida pela curadora-chefe Inês Grosso, bem como pela curadora Filipa Loureiro, contando ainda com a colaboração do ateliê de arquitetura Ventura Trindade e a coordenação de Giovana Gabriel.

Inês Grosso disse aos jornalistas que a programação do Museu de Arte Contemporânea de Serralves "tem acompanhado de perto tudo o que está acontecer globalmente", em termos de contexto política mundial.

"É muito importante nas questões que o trabalho [de Muholi] traz que pensemos no mundo hoje, sobretudo, na discriminação, no preconceito", afirmou, esperando que a exposição sirva "para pelo menos deixar alguma semente para que depois as pessoas se sintam com vontade de pesquisar e entender os conteúdos".

Leia Também: 'Pós-Museu: 'A' de Ausência' inaugurada amanhã no Museu da Etnologia

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