"Defendo que daqui a 10 anos, Ronaldo seja o presidente do Sporting"
Dias Ferreira foi o quarto candidato às eleições do Sporting a ser entrevistado pelo Desporto ao Minuto.
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Desporto Dias Ferreira
Dia 8 de setembro assinala-se um virar de página no clube de Alvalade. Os sócios são chamados a eleger o novo presidente dos leões, sendo que no boletim de voto vão constar os nomes de Frederico Varandas, João Benedito, Dias Ferreira, José Maria Ricciardi, Pedro Madeira Rodrigues, Fernando Tavares Pereira e Rui Jorge Rego.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Dias Ferreira apresenta-se como "um homem com provas dadas, com conhecimentos, com curriculum e que lutará sempre pelos interesses do Sporting e pela verdade desportiva dentro e fora do clube".
O antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral dos leões apresentou os pontos-chaves da sua candidatura e sete ideias a pensar ou impensáveis de acontecer, caso seja a escolha n.º1 dos sócios verde e brancos.
Porque é que deve ser a esolha n.º1 dos sportinguistas no dia 8 de setembro?
Acho que a minha candidatura é diferente de todas as outras, desde logo, porque em primeiro lugar é a candidatura de uma equipa que eu lidero e penso que essa liderança é muito importante, uma vez que tem o factor da experiência e do conhecimento que eu tenho do clube desde 1980, altura em que fiz parte da direção do clube pela primeira vez. Estas eleições não surgem na altura mais desejada, julgo que são fora do momento em que deviam ser, particularmente por causa do futebol.
Sobre os outros candidatos...
Eu julgo que há pessoas que já estiveram ligadas a várias direções, por exemplo o Dr. Ricciardi, sem grandes resultados, e ligado ao mandato de Godinho Lopes, que foi um tempo muito turbulento do clube. Benedito e Varandas, duas candidaturas diferentes. Frederico Varandas afigura-se um prolongamento de Godinho Lopes e Ricciardi não se tem cansado de o dizer. Ricciardi provavelmente está bem informado a esse respeito, porque de 2011 a 2013 apoiou Godinho Lopes e por isso sabe bem as pessoas que estão a apoia-lo. E Varandas não tem sido nada convicto em rebater esta teoria. Já a candidatura de João Benedito revejo-me em muitos pontos. Uma candidatura assente em antigos atletas do Sporting, mas não tão antigos assim e algo inexperientes, e acho que a situação do Sporting atualmente não é para experiências. Eles nunca foram dirigentes no clube até agora. Deram muitos títulos ao Sporting, aprecio muitos deles e até me dou bastante bem, mas a única crítica que faço é que Benedito é demasiado novo. Poderá ser uma mais-valia, mas num futuro mais longínquo, não agora. As outras candidaturas [de Tavares Pereira, Rui Jorge Rego e Pedro Madeira Rodrigues] a meu ver, e com todo o respeito, são candidaturas residuais.
Nesse caso, há quatro candidatos à vitória final – Dias Ferreira, João Benedito, Frederico Varandas e José Maria Ricciardi – e na sua opinião quem aparece melhor posicionado nesta fase da campanha eleitoral?
Eu não tenho nenhuma sondagem recente e a sondagem que temos vale o que vale [sondagem realizada pelo jornal A Bola em que reuniu 2,8% dos votos], porque foi feita antes da apresentação dos programas e ainda não eram conhecidos certos nomes. Julgo que a ausência de respostas dessa sondagem [411 revelaram que não sabiam em quem iam votar] não se deve a Bruno de Carvalho, acredito simplesmente que há muita gente indecisa e agora com os programas e debates acho que as pessoas já estão mais elucidadas e sobre isso não tenho resultados.
É difícil iniciar um diálogo com o Benfica neste clima de desconfiança. Mas o ideal era que houvesse um entendimentoPara onde pode cair o eleitorado de Bruno de Carvalho?
Julgo que não cairá para os lados de Varandas e Ricciardi. Quando vejo um vogal de Bruno de Carvalho [Bruno Mascarenhas] na lista de Ricciardi não deixo de ficar espantado e não consigo perceber o que é que o mandato de Bruno de Carvalho tem a ver com o de Ricciardi, não obstante toda a gente sabe que ele tinha apoiado o anterior presidente em 2017, como eu o apoiei também e não o posso negar. Mas do meu ponto de vista, Bruno de Carvalho sempre foi contra o ‘sistema financeiro’ que se instalou em Alvalade e a política de Ricciardi é voltar a falar do passivo e das condições financeiras, com um discurso de ‘medo’ em que é o único que consegue resolver a situação financeira do clube. Os sportinguistas quiseram cortar com esse tipo de discursos e daí que em 2011, Bruno de Carvalho tenha sido a escolha dos sportinguistas. Os adeptos não querem voltar a viver um passado recente e querem uma política completamente diferente, em que não se fale sistematicamente de capital e salários em atraso. Esse discurso está gasto.
O discurso de José Maria Ricciardi trata-se então de uma ‘jogada de bastidores’ em que o antigo banqueiro pretende sair vencedor das eleições, alegando uma crise financeira do clube?
Exatamente. Ele sabe que essa crise financeira não é verdadeira. Ele tem elementos na Comissão de Gestão que o informaram sobre a atual situação do clube, obtendo assim informação privilegiada. Se o presidente da Comissão de Gestão disse que a situação está controlada, então alguém não está a falar verdade. Entre um e outro escolham. Como não estou a ‘combater’ com o presidente da Comissão de Gestão quero acreditar que ele está a dizer a verdade e sei que Dr. Artur Torres Pereira tem a razão do seu lado.
João Benedito referiu nesta campanha eleitoral que desconhecia se o Sporting possuía um ‘poço de pedras’ ou um ‘poço de petróleo’. Em que situação financeira está o clube?
Nem uma coisa, nem outra. Há água e muita água, petróleo desconheço, caso contrário o problema estava resolvido e se calhar em vez de sete candidatos, estariam oito, 14 ou 20, não é o caso. A situação financeira não está tão mal como o Dr. Ricciardi apresenta. Ele diz que nunca geriu o Sporting, mas já fez parte da Comissão Fiscal do clube, então aguma coisa não está a fazer sentido. Ele sempre foi uma pessoa influente e esteve presente em todas as direções desde 1995 – como vogal e como vice-presidente, até inclusive de Godinho Lopes. Ele pode ter experiência na banca, mas eu tenho experiência no clube e no desporto. Nós não estamos aqui a disputar o lugar a deputado da Assembleia da República ou a membro do cargo das Finanças do país. Nós estamos a concorrer a presidente do Sporting. Ele precisa de saber um pouco de desporto e de gestão, mas os meus 38 anos de CV falam por si. O CV de Ricciardi é ter sido membro do Conselho Fiscal desde 1995, acho que isso não o recomenda particularmente para presidente do Sporting. Eu também tenho os meus financeiros que são pessoas altamente competentes. A minha lista é muito rica e é sobretudo por ela que terei muito pena de não ganhar as eleições, já que o Sporting ficará privado de pessoas muito competentes e o clube podia dar um salto muito grande com elas.
Gosto de sapatos italianos e geralmente gosto de andar bem calçado, mas às vezes é necessário usar a biqueiraJá divulgou que vai ter à sua disposição investidores que irão disponibilizar uma linha de crédito de 150 milhões de euros para investir na construção de 10 Academias em África. Qual é o sentido desta aposta e porquê o continente africano?
O Sporting não investe um tostão, apenas em conhecimento. Como sabe em África há grandes valores e essas academias vão ser escolhidas com enorme critério. Eu acho que é muito redutor falar em ‘scouting’, porque o ‘scouting’ está relacionado com formação e é necessário começar a descobrir novos valores a partir da construção de novas academias. Uma aposta que vai permitir diminuir os custos no recrutamente de novos jogadores. Nós queremos que Alcochete se vire apenas e somente para a equipa de futebol profissional, e ter uma academia reservada exclusivamente para a formação e para estágios de outras equipas que nos queiram visitar. E isso vai ajudar o ‘scouting’, porque vai ajudar a descobrir os talentos. O investimento em 10 academias no continente africano, sobretudo em um ou dois países de língua oficial portuguesa – algo que ainda não está definido – vai permitir ao Sporting descobrir novos talentos e os dois melhores jogadores de cada Academia, em cada ano, serão sempre oferecidos ao Sporting, visto que será o clube de preferência dos investidores. Isto permitirá poupar muito dinheiro e será uma fonte inesgotável de receitas para o clube.
Já fez parte das direções de João Rocha e Amado de Freitas, foi assessor de José Roquette e presidente da Mesa da Assembleia Geral na era Bettencourt. Num clube como o Sporting que apresenta tantas fações é benéfico ter um CV tão ‘perigosamente’ rico já que lidou com ideais diretivos tão distintos?
Eu como vice-presidente só tive em duas direções – Amado de Freitas e João Rocha – depois nos anos 90 e em pleno século XXI não tive mais nenhum cargo executivo. Mas não são os lugares executivos que me dão o conhecimento sobre o futebol, por outro lado andei a participar na construção das leis de base, no Conselho Nacional de Desporto, na Liga não profissional, na Liga. Conheço todos os presidentes e sou amigo de muitos deles. Os presidentes de V.Setúbal, FC Porto ou Belenenses sabem o que eu trabalhei e as reinvindicações pelas quais eu lutei, conquistas pelas quais trabalhei. Costumo dizer: pensem o que quiserem pensar, porque continuo a achar que é preferivel ter CV do que ter cadastro. E cadastro não tenho, ao contrário de muitos. Eu não me preparei para ser presidente do Sporting, mas que tenho preparação tenho. Digam-me um ponto em que sou fraco! Talvez se me questionarem sobre finanças. Sinceramente não sei se percebo ou não. Por acaso vivi em casa com uma pessoa que percebe muito de finanças e que já teve para liderar este país [referindo-se a Manuela Ferreira Leite]. Se calhar aprendi alguma coisa e uma delas foi a não gastar mais do que tenho, o que é um bom princípio e nem todos se aperceberam disso, afinal não fui eu que criei o passivo do Sporting. E são todos uns craques das finanças! Agora já vejo algumas pessoas a falarem sobre João Rocha, alguém que foi muito crítico com o rumo que o Sporting levou nos últimos anos, porque venderam o património que custou muito a organizar e ele tem muita responsabilidade nesse património. Julgo, sem muito medo de errar, que João Rocha me gostaria de ver como presidente do Sporting. Acho que ele sente que me formou para isso e isso é algo que me ajuda a empurrar para a frente.
Continuo a achar que é preferível ter CV do que ter cadastro
Em 2011 obteve 16,5% dos votos, sendo o terceiro mais votado. Acredita que numas eleições a sete a oportunidade de ser o vencedor aumentou exponencialmente?
Em 2011, as eleições contaram com cinco candidatos (inicialmente eram seis), mas cedo se bipolizaram entre Bruno de Carvalho e Godinho Lopes. Todos os outros candidatos não eram pró-Godinho Lopes, porque queriam romper com uma linha de continuidade. Godinho Lopes venceu e aceitou ser presidente do Sporting com uma minoria. Agora talvez haja uma maior capacidade de agregação, após as eleições. Se ficaria feliz com uma vitória de 16,5%? Não. A vitória que me deixaria feliz era obter 50% dos votos mais um, por isso eu sempre defendi coerentemente que devia existir uma segunda volta.
Seria capaz de integrar os outros seis candidatos na sua lista ou ao dia de hoje excluiria algum? Na minha Direção impossível, pelo menos teoricamente. Mas para trabalhar comigo sou capaz, sem qualquer problema, depende agora da filosofia com que as pessoas viessem, mas confesso que seria mais difícil incluir Varandas e Ricciardi, porque temos visões diferentes, mas não os deixaria de convidar para o Conselho Estratégico. Eu também defendo que o futuro do Sporting passa pela criação de uma cultura em que os presidentes e os vice-presidentes talvez sejam, pelo menos nas áreas desportivas, antigos atletas do Sporting. Eu defendo essa cultura e defendo que daqui a dez anos o Ronaldo seja o presidente do Sporting, não podemos ter melhor, desde que ele queira. João Benedito pode vir a ser um grande presidente, daqui a seis ou sete anos. É necessário ir passo a passo.
Em 2016, numa entrevista ao Notícias ao Minuto, Dias Ferreira usou uma célebre frase, que passo a citar: “Neste mundo de futebol, onde parece que são todos virgens ofendidas e vimos pessoas muito sérias, se andarmos com sapatos à italiana não dá. Que tipo de ‘sapatos’ é que o futuro presidente do Sporting deve calçar?
Eu gosto de sapatos italianos e geralmente gosto de andar bem calçado, mas às vezes é necessário usar a biqueira. Ninguém pense que me vou rebaixar quando ver processos a decorrer. Eu, acima de tudo, uma luta que quero manter é pela verdade desportiva e, se no final do meu mandato esse problema não estiver resolvido, mal vai o futebol português e mal vai a justiça portuguesa.
Há água e muita água, petróleo desconheço, caso contrário o problema estava resolvido e se calhar em vez de sete candidatos, estariam oito, 14 ou 20
Que principais ilações retirou do reinado de Bruno de Carvalho?
Eu retirei coisas boas: as obras à cabeça – o Pavilhão João Rocha, uma marca que todos aprovaram e falaram e foi ele que concretizou, a primeira reestruturação financeira que foi ele que deu início e concretizou-a. Tornou o Sporting um clube mais influente, mas nas relações institucionais não desempenhou bem o seu papel. Fez uma boa aquisição ao ter ido buscar o treinador Jorge Jesus, depois estragou o trabalho porque entrou em conflito com ele. Apostou bastante nas modalidades e o resultado está à vista. Depois pegou numa ‘metralhadora’ e levou tudo numa rajada e acertou nos braços, nos pés, algo que se mantém até ao dia de hoje. Nestes últimos meses, ele destruiu a sua imagem. Eu continuo a dizer que ele está doente.
Que relação pretende manter com os principais rivais: Benfica e FC Porto?
O Sporting deve manter boas relações com os seus adversários, para bem da verdade desportiva, da integridade das relações e para bem do negócio. Fora das quatro linhas, os dirigentes têm de pensar que possuem responsabilidades e não só perante os adeptos. Agora também é difícil manter boas relações institucionais quando não há transparência e clareza. Não acho normal que na reunião da Liga Paulo Gonçalves esteja a representar o Benfica, quando existem fortes indícios que a verdade desportiva está a ser ultrapassada. É difícil iniciar um diálogo com o Benfica neste clima de desconfiança. Mas o ideal era que houvesse um entendimento.
Apesar dos títulos que o Sporting conquistou em diversas modalidades, o clube acabou por desembolsar valores astronómicos no que diz respeito a reforços e ordenados. Prefere manter a toada competitiva, sabendo que isso pode implicar um desequilíbrio nas contas?
Vamos fazer os possíveis para manter o nível de investimento que temos, de forma a não alterar os níveis competitivos das modalidades. Quase de certeza vamos encontrar o equilíbrio, até porque as modalidades têm de ser pagas com as quotas dos sócios. Aquilo que pretendemos fazer, e é um desejo forte, é que as equipas mantenham a sua competitividade apostando em jogadores formados em Portugal e no Sporting. Nós podemos ter um romeno ou um búlgaro no basquetebol, desde que venha das camadas de formação. Nós pretendemos seguir o modelo americano em que tratamos da educação e da instrução dos jovens, e simultaneamente o fazemos crescer profissionalmente numa Academia. Isso é um investimento, mas vamos obter o retorno mais tarde. Isto é que é o desejável para um clube que tem um ADN formador. Outra das nossas ideias também passa por criar um Sociedade Anónima Desportiva para o futsal, se possível, algo que já acontece com o futebol feminino.
Frederico Varandas afigura-se um prolongamento de Godinho LopesJá disse que irá manter o seu voto de confiança em José Peseiro, mas caso o perdesse em quem recairia a sua aposta e que tipo de treinador gostaria de ter nas fileiras leoninas?
José Peseiro não será o meu treinador para o resto da vida, de forma alguma. Agora é preciso ter responsabilidade e evitar qualquer tipo de agitação. Não é útil neste momento. Teoricamente eu sei quem gostaria de ter a treinar o meu clube, rigorosamente neste momento ou daqui a um ano ou dois, mas não vou revelar o nome.
Se não pudesse votar em si próprio no dia 8 de setembro em quem recairia o seu voto?
Com as limitações que já referi anteriormente, mas votaria João Benedito.
Que mensagem gostaria de deixar aos sócios do Sporting para o ‘virar de página’ que vai ocorrer no próximo dia 8 de setembro?
Os sócios conhecem-me há muitos anos, com as minhas qualidades e os meus defeitos, porque também os tenho, mas penso que seria a pessoal ideal para eles para respeitar todo o passado do Sporting e conseguir fazer a transição para o novo futuro. Estou convencido de que os sócios vão votar em mim, porque saberão que é um sportinguista que estará à frentes das lides do clube. Um homem com provas dadas, com conhecimentos, com curriculum e que lutará sempre pelos interesses do Sporting e pela verdade desportiva dentro e fora do clube.
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