Entre 2006 e 2009, enquanto Paulo Assunção se assumia como uma 'muralha' no meio-campo do FC Porto, emprestando uma solidez e uma eficácia defensiva ímpares na história do emblema azul e branco, nas bancadas do Dragão estava o seu filho, Gustavo Henrique, uma criança feliz e bem atenta à magia que o pai espalhava dentro das quatro linhas. Uma década depois, os papéis inverteram-se. O menino transformou-se em adolescente e antigo médio passou a ficar de fora, sentado, a observar os primeiros passos daquele que é hoje uma das grandes promessas da formação do At. Madrid.
"Eu sou um pouco mais ofensivo que o meu pai. Faço o mesmo trabalho que ele a nível defensivo, mas gosto de apoiar mais o ataque. Vou tentar ser melhor que ele, se Deus quiser", começou por dizer, entre risos, o jovem de 18 anos, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, admitindo que sente a comparação entre si e o seu pai. "Encaro isso de forma positiva e boa para mim. É ótimo ter um pai em casa que sabe responder a qualquer pergunta que possamos fazer. Não é uma pressão, mas sim como uma motivação. Chegar onde ele chegou é bem difícil e toda essa comparação com ele encoraja-me ainda mais."
Depois de três campeonatos, duas Taças de Portugal, uma Supertaça e um universo portista rendido à sua qualidade, Paulo Assunção mudou-se para o país vizinho e assinou contrato com o At. Madrid. Foi aí, em 2008, que Gustavo Henrique iniciou o seu percurso no futebol, integrando a formação colchonera, sempre acompanhado bem de perto pelo pai.
"Sempre me deu muitos conselhos! Taticamente era perfeito e está sempre a ensinar-me nesse aspeto. Além disso, dá muita importância à questão física. Vou sempre correr com ele... Ajuda-me em tudo, pois tem o conhecimento de alguém que foi dos melhores na sua posição, e avalia-me mais como profissional. Se fosse como pai, diria sempre que estou bem. Ele não! Se eu errar um passe, ele vai lá e corrige-me, se me posicionar mal, ele avisa-me logo, se puder rematar de pé esquerdo e preferir a trivela e sair mal, ele não perdoa. Eu gosto disso e aprendo imenso com ele", frisa, esclarecendo, entre risos: "Críticas ou elogios? É 50/50... Ele não facilita nada."
Além de pai, Paulo Assunção é para Gustavo Henrique o melhor amigo, o conselheiro e a maior referência.© D.R. Notícias ao Minuto
O inesquecível clássico com o Benfica
Ao longo da carreira, Paulo Assunção sempre fez questão de ter a família por perto. Nesse sentido, Gustavo Henrique fez parte dos sucessos, dos obstáculos, dos festejos e das dificuldades do pai. Apesar de na altura ser criança, não esquece um tal clássico com o Benfica que o marcou para sempre.
"Tirando os títulos - e foram muitos -, há um jogo com o Benfica que nunca mais me saiu da cabeça. O meu pai lesionou-se com gravidade no joelho aos 60' minutos e mesmo assim continuou até ao fim, num sacrifício enorme. Isso foi uma demonstração de como ele era enquanto homem e enquanto jogador, um exemplo de alguém que nunca desiste, que luta sempre e que é uma referência", recorda, nostálgico, confessando que o futebol foi sempre uma paixão: "Desde pequeno que entrei neste mundo e então o sonho de ser jogador foi-se tornando cada vez mais forte."
Jovem é nesta altura uma das grandes promessas da formação do At. Madrid.© D.R. Notícias ao Minuto
Presença assídua às ordens de Simeone
Há 10 anos no At. Madrid, Gustavo Henrique foi evoluindo, evidenciando algumas características semelhantes às do pai e desenvolvendo outras que o tornam neste momento uma das grandes esperanças dos colchoneros. Apesar de competir nos sub-19, o médio é chamado regularmente por Diego Simeone aos trabalhos da equipa principal.
"A primeira vez tinha 16 anos e estava a chegar da seleção brasileiro. O 'Cholo' chamou-me, disse-me que ia treinar com eles e num primeiro momento fiquei bastante nervoso. Depois cheguei ao campo, o Felipe Luís e o Tiago receberam-me muito bem, tal como o Saúl e o Koke, que jogaram com o meu pai, e eu senti-me em casa. Soltei-me, consegui jogar o meu futebol e foi muito bom. Essa união é o grande segredo do At. Madrid. Somos todos uma família", explica o jovem, revelando as primeiras palavras que trocou com Simeone.
"A primeira coisa que ele me disse foi que as coisas acontecem por algum motivo e que com trabalho tudo se consegue. Nenhum jogador no mundo consegue triunfar se não trabalhar. Para ele o principal é isso: estar disponível e trabalhar. É um dos melhores treinadores do mundo, se não o melhor. É muito exigente no treino, mantém os jogadores sempre motivados e taticamente é muito forte, qualquer dúvida que um jogador tenha ele ensina. É bastante bom treinar com eles porque aprendo imenso", vinca.
Felipe Luís é um dos jogadores que mais apoia o médio nos trabalho da equipa principal.© D.R. Notícias ao Minuto
Coração também bate por Portugal
Nascido no Brasil, Gustavo Henrique acompanhou o pai na viagem para o Porto com apenas três meses e foi lá que viveu vários anos, desenvolvendo um carinho especial pela cidade e pelo nosso país. "Portugal é a minha segunda casa, gosto imenso do país e claro que gostaria de aí jogar", assume o trinco.
Se o objetivo de triunfar no futebol, o sonho de se estrear pela equipa principal do At. Madrid e a vontade de um dia jogar no nosso país são pontos bem definidos e claros para o craque, há um tema que gera dúvidas. Internacional pelas seleções jovens do Brasil, o médio tem sido abordado pelos dirigentes da Real Federação Espanhola no sentido de poder vir a representar a 'Roja', mas o amor por Portugal despertam também um outro sonho.
"Como já disse, Portugal é a minha segunda casa. Adoro o país, vivi aí muitos anos e tenho um carinho enorme pelas pessoas. Como tal, sinto-me português e se a Federação e o treinador assim o entenderem, seria um sonho para mim jogar por Portugal", confessa. Brasil, Espanha ou Portugal... Uma destas seleções vai receber o herdeiro daquele que foi seguramente um dos melhores médios-defensivos que passou pelo nosso futebol.
Craque é internacional pelas seleções jovens do Brasil, tem sido abordado para representar a Espanha no futuro, mas mantém o sonho de vestir a camisola da equipa das quinas. © D.R. Notícias ao Minuto