Da construção civil ao UFC: Yorgan carrega bandeira lusa com "orgulho"

Impressionou Dana White, patrão do Ultimate Fighting Championship, e assinou contrato para quatro combates. Yorgan de Castro, lutador luso cabo-verdiano, estreou-se no UFC no dia 5 de outubro do ano passado com um K.O. sobre Justin Tafa e não quer ficar por aqui. Cumpriu um sonho, mas quer continuar a causar impacto junto dos melhores lutadores de MMA do mundo.

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Ruben Valente
27/12/2019 07:57 ‧ 27/12/2019 por Ruben Valente

Desporto

Yorgan de Castro

Filho de pai português e mãe cabo-verdiana, Yorgan de Castro nasceu no Mindelo, em Cabo Verde, mas só em Portugal descobriu a paixão pelos desportos de combate. Deixou África aos 18 anos em busca de uma vida melhor e diz que foi amor à primeira vista desde que aterrou em terras portuguesas. 

Viveu em Lisboa, trabalhou na construção civil e na restauração, até cruzar-se com os desportos de combate. Em conversa com o Desporto ao Minuto, o lutador de 32 anos assumiu que os primeiros tempos foram difíceis, mas o seu coração e perseverança deram nas vistas para quem assistia aos combates onde entrava.

Yorgan de Castro emigrou novamente para os Estados Unidos para tentar a sua sorte como lutador profissional. Conseguiu os seus objetivos e chegou a um dos patamares mais altos dentro dos desportos de combate: o UFC. Impressionou o patrão, estreou-se com um K.O. e levantou bem alto a bandeira dos seus dois países: Cabo Verde e Portugal. 

Antes de tudo, o início... Nasceste em Cabo Verde, como era a vida lá?

Foi um pouco difícil. Cresci só com a minha mãe e as minhas duas irmãs. Mãe solteira, tinha que trabalhar e cuidar dos filhos, dava o máximo por nós. Foi um pouco difícil lá em Cabo Verde, mas graças a Deus acho que isso faz parte do que eu sou hoje. A minha infância difícil tornou-me no homem que sou.

Chegaste aos 18 anos a Portugal. O que te trouxe para cá e como foi essa mudança?

Casei com a minha mulher, que é portuguesa, e como o meu pai é português sempre tive opção de viajar para Portugal. Cabo Verde é muito pequeno e não tem muitas saídas. Não há muito futuro… Vim conhecer Portugal e foi amor à primeira vista. Portugal está sempre no meu coração e é a minha terra também. Foi aí que comecei a treinar kickboxing e me envolvi com os desportos de combate. Grande parte do que eu sou também é por ter estado em Portugal. Fiquei a viver em Lisboa, aliás, ainda tenho uma casa na Damaia.

Foi, então, em Portugal que tiveste o teu primeiro contacto com os desportos de combate...

Sim, foi aí em Portugal que tive os meus primeiros contactos com os desportos de combate e a primeira vez que calcei as minhas luvas. Trabalhei em várias coisas em Portugal, trabalhei na construção, no Chimarrão, trabalhei depois para um empresa de segurança no Estádio da Luz e foi lá que conheci o meu primeiro treinador, o Ricardo Oliveira. Ele disse-me: ‘se quiseres estar em forma, treinar, passa lá no meu ginásio e vês se gostas’. Eu fui. Três meses depois já estava a fazer o meu primeiro combate.

E o clique para fazeres a tua carreira, quando se deu?

Quando comecei tinha ‘putos’ de 17 anos a baterem-me e aquilo era difícil (risos). Mas eu voltava sempre. E o treinador disse-me: ‘epa, tu tens coração. Acho que nasceste para isto’. Depois comecei a aprender, a ficar em forma e surgiu a oportunidade de começar a lutar profissionalmente. Mas o meu primeiro combate também não correu muito bem (risos). Levei uma sova… Depois conheci o Paulo Magalhães, que é responsável pela segurança do Benfica e também treinador de boxe do Benfica. Lutei contra um rapaz que era da equipa dele e levei nos três assaltos, mas nunca desisti. No final ele disse-me: ‘Tu tens coração, devias vir treinar comigo’. Então ainda treinei no Benfica durante dois ou três anos.

Decidiste depois deixar Portugal e ir para os Estados Unidos. Foste em busca do sonho?

Sim. A minha família do lado da minha mãe vive toda nos Estados Unidos. Falei com o meu tio que treina jiu-jitsu aqui e disse-lhe que queria ser profissional de kickboxing. Nem era MMA, eu queria era kickboxing. O meu tio disse-me logo que se queria fazer isso tinha de ir para os Estados Unidos, porque em Portugal não ia dar. ‘Aqui é que se ganha dinheiro, eles vão investir em ti e vais safar-te’, disse-me ele. Quando cheguei, na minha cabeça ia lutar kickboxing e ele levou-me para o MMA. Comecei a treinar jiu-jitsu, wrestling… Pensei logo: 'Ai Jesus, onde me vim meter'. Seis meses depois fiz a minha primeira luta. Apaixonei-me rapidamente pelo MMA. O processo é duro, claro, são muitas horas a treinar, mas o resultado é muito bom. É um desporto que só depende de nós, com uma grande equipa atrás. Gostei muito.

Notícias ao MinutoYorgan de Castro venceu Alton Meeks e conseguiu o tão desejado contrato no UFC© Getty Images

Foste o primeiro português, neste caso luso-caboverdiano, a chegar ao UFC. Conta-nos como é que tudo aconteceu.

Quando cheguei aqui aos Estados Unidos lutei durante dois anos como amador. Não foi muito fácil. Terminei com duas vitórias, quatro derrotas, lutei na categoria de 84kg, 91 kg, lutei nos pesos pesados, tive de descobrir qual era o meu peso certo. Faltava-me fazer a transição do kickboxing para o MMA. Foi difícil... Em 2016 mudei de cidade e fui morar para Fall River, onde há uma pequena comunidade portuguesa. Comecei a treinar no Regiment Training Center, um dos meus treinadores é português, outro é cabo-verdiano. Foi aí que me comecei a envolver-me mais. No início deste ano eu já era o campeão de pesos-pesados em New England e tinha um registo de 4-0. Ofereceram-nos a oportunidade de combater no Dana White’s Contender Series [prova que dá acesso ao UFC] contra um companheiro de equipa do Daniel Cormier, que supostamente era top. Ele lesionou-se e acabei a lutar contra o Alton Meeks. Ele era o favorito e treinava com muitos nomes do UFC. Preparámo-nos como deve ser e, depois, no combate, ele queria levar-me para o chão, mas eu estava bem preparado. Graças a Deus consegui finalizar com um leg kick.

Como disseste, nesse combate do Dana White’s Contender Series causaste grande impacto. Todos disseram que impressionaste o Dana White, o patrão do UFC. Ele disse-te alguma coisa em especial depois desse combate?

Sim, ele disse-me que ficou muito impressionado com as minhas defesas nas quedas e que gostaria de me ver no futuro.

Depois disso assinaste contrato com o UFC…

Sim, assinei contrato para quatro lutas. Faltam-me três.

E o teu primeiro combate na UFC, o que sentiste quando caminhavas para o octógono sabendo que tinhas 58 mil pessoas a olhar para ti?

Jesus… Quando entrei no estádio lá na Austrália, aquilo era quase como se fosse um Benfica-FC Porto. Vi aquilo e pensei: ‘O que é isto?’. Estava mesmo impressionado. Mas foquei-me no meu adversário e tentei esquecer toda a gente à volta. Disse para mim que vim de muito longe, por isso não ia ficar ali só a olhar. Dei tudo de mim.

Venceste o Justin Tafa nesse teu primeiro combate no UFC, levantaste a bandeira portuguesa e a de Cabo Verde e emocionaste-te. Foi um sonho cumprido ou apenas o início de uma caminhada brilhante?

Foram os dois. Foi o realizar de um sonho porque batalhei muito para estar aqui. Eu valorizo sempre onde estou e sou muito grato por estar aqui. Mas, como referiste, foi também o início de uma nova caminhada. Espero estar no UFC durante muitos anos e representar Cabo Verde e Portugal com muito orgulho e muito honra.

Já há data para o próximo combate?

Estamos a trabalhar para tentar lutar no dia 18 de abril, em Brooklyn, no mesmo cartaz do combate entre o Khabib [Nurmagomedov] e o [Tony] Ferguson.

E por seres português, já alguma vez te disseram que eras o Cristiano Ronaldo das artes marciais?

Na entrevista antes da luta disseram-me que eu devia ser muito famoso em Cabo Verde e em Portugal, porque só devia existir o Cristiano Ronaldo. E eu disse logo: ‘naaaaaa. Vocês não sabem nada (risos). Há muitos portugueses famosos pelo mundo fora’. É uma honra carregar a bandeira portuguesa comigo.

Para quem te acompanha, o que se pode esperar do Yorgan de Castro em 2020?

Sempre que entro numa luta podem esperar que eu dê tudo, que dê 100% de mim. Muita garra, muita força e… vamos a isso!

Ficha de lutador
Nome: Yorgan de Castro - 'The Mad Titan'
Idade:  32 anos
Altura: 1,83 m
Peso: 120 kg
Naturalidade:  Mindelo, Cabo Verde
Estreia no UFC: 5/10/2019

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