Formação do Sp. Braga à lupa: "Há muito talento por lapidar"

Rui Santos, antigo coordenador da formação do Sporting de Braga, analisa o momento de forma de Pedro Neto, Trincão, David Carmo e Francisco Moura. Os jovens formados em Braga vistos por quem tão bem os conhece.

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© Global Imagens/Reuters/Getty 

Francisco Amaral Santos
19/11/2020 07:57 ‧ 19/11/2020 por Francisco Amaral Santos

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A formação do Sporting de Braga está a dar que falar. As camadas jovens são um dos pontos fortes do clube liderado por António Salvador e neste momento há quatro jogadores que assumem papel de particular revelo na atualidade nacional e... internacional. Francisco Trincão, Pedro Neto, Francisco Moura e David Carmo têm estado em destaque e representam, por esta altura, o selo da qualidade que abunda nos escalões de formação da equipa bracarense.

Os primeiros estiveram presentes na última convocatória da seleção nacional, com Neto até a fazer a estreia a marcar, ao passo que Moura bisou na Luz, diante do Benfica. Por seu turno, David Carmo tem agitado o mercado de transferências e já foi associado a clubes de renome como AS Roma e Manchester United. 

Rui Santos conhece bem estes quatro produtos da formação do Sporting de Braga e não tem dúvidas em afirmar que o futuro do clube está assegurado. 

"Esses miúdos que passaram pelas minhas mãos fazem de mim, e de toda a nossa estrutura da formação na altura, um treinador e coordenador de formação orgulhoso. São os meus miúdos, como eu costumo dizer. Eles têm muito talento e já o tinham na altura. O Pedro Neto e o Trincão queimaram algumas etapas. Afirmaram-se mais rapidamente por serem jogadores irreverentes e por serem jogadores muito distintos", começa por dizer o antigo coordenador da formação do Sporting de Braga. 

David Carmo precisa de regularidade 

Se Trincão e Pedro Neto já estão noutro patamar competitivo, David Carmo e Francisco Moura ainda têm que cimentar uma posição incontestável no onze de Carlos Carvalhal. Rui Santos recorda a chegada do defesa central a Braga, vindo do Sanjonanense, e identifica os aspetos a melhorar. 

"O David Carmo chegou do Sanjoanense e era aquele miúdo com um porte atlético muito alto e um pouco descoordenado. Mas rapidamente fizemos um programa para desenvolver algumas capacidades motoras e atingiu um patamar de excelência. Foi melhorando dia após dia, jogo após jogo. É um miúdo que precisa de confiança. Com a filosofia do Sporting de Braga, ao apostar nos miúdos, eles vão estar nervosos nos primeiros jogos, mas depois a qualidade de cada um vem ao de cima. Claro que a regularidade desejada ainda não foi alcançada, mas ele é um miúdo que vai superar estas dores de crescimento", explica o agora treinador de 44 anos, prosseguindo.

"Ainda acusa ali alguma inexperiência e imaturidade. É um jovem ambicioso e que quer ganhar. Subiu de patamar em patamar graças ao seu trabalho. Quer mostrar-se, mas às vezes é preciso mais controlo emocional. Não se pode deixar engolir pelo calor do jogo, tal como aconteceu contra o Vitória SC. Isto é fácil dizer a um jogador mais velho, mas ele tem apenas 21 anos. Com o tempo, vai aprender a controlar essa impetuosidade", justifica. 

A conversa que mudou a carreira de Moura 

Moura tem sido aposta como lateral esquerdo, mas a sua posição de raiz não era na defesa. O jovem jogador arsenalista foi 'lapidado' nas camadas jovens e foi o próprio Rui Santos quem o aconselhou a descer no terreno de jogo. Moura até não estava muito convencido de que era o melhor a fazer, porque não gostava de defender, mas lá aceitou a sugestão. Esta adaptação é agora considerada um sucesso. Ainda assim, o azar bateu à porta de Moura: Uma lesão grave no joelho esquerdo, contraída no treino de quarta-feira, deve custar-lhe o resto da temporada.

"O Francisco Moura é um caso de um jovem atleta que era um ala esquerdo e que jogava mais no ataque. Detetámos nele qualidades para ser lateral esquerdo. Ele não se vai importar que eu conte isto: ele não gostava de defender. Tive de lhe explicar que se ele quisesse chegar à elite do futebol teria que atacar, mas também teria que recuar para defender. Eu até lhe disse: 'Isto é como o mar, vai e volta. Tu também de tens de ser assim'. Ele perguntou-me porque estava preocupado com ele e eu disse-lhe que tinha um potencial enorme, mas tinha de ser mais participativo a nível defensivo. Ele, com 17 anos, entendeu, porque é um miúdo muito inteligente. Tornou-se num jogador ainda mais completo", recorda Rui Santos, para depois também revelar que fez questão de felicitar o jovem jogador minhoto após os dois golos marcados diante do Benfica.

"Trocámos umas mensagens depois de ele ter marcado aqueles dois golos na Luz e ele nunca mais se esqueceu daquela nossa conversa. É um episódio engraçado, especialmente por ver onde ele conseguiu chegar. O mérito é todo dele. Teve capacidade de encaixe, refletiu e evoluiu. Agora chegou ao seu auge com dois golos no Estádio da Luz, o que não está ao alcance de qualquer um. Tem qualidade técnica, qualidade tática, uma visão de jogo extremamente apurada e já passou pelas duas posições. Vai dar conta do recado", vaticina. 

O segredo de Paulinho

Paulinho é outro dos maiores rostos atuais do Sporting de Braga. O avançado português, que foi chamado por Fernando Santos à seleção nacional pela primeira vez e que correspondeu com dois golos diante de Andorra, não fez a formação no Minho mas é visto por Rui Santos como um atleta à imagem do clube: um guerreiro. 

O treinador de 44 anos trabalhou com Paulinho na altura em que teve de pegar na equipa depois de Abel Ferreira deixar o comando técnico e enquanto estava a ser ultimada a chegada de Ricardo Sá Pinto. Nesse curto período de uma semana, Rui Santos ficou rendido à entrega de Paulinho nos treinos.

"Trabalhei com o Paulinho durante uma semana quando fiz aquela sucessão entre o Abel e o Sá Pinto. Denotei logo uma coisa no Paulinho. Trabalha muito e arduamente. É um atleta que nunca vira a cara a luta, mas nos treinos ele mostra muito trabalho. O jogo é o reflexo dos treinos e o Paulinho é um guerreiro dentro de campo. Aliado a isso, os meninos olham para estes atletas como uma referência para chegar ao sucesso", destaca, antes de ser frisar que o avançado do Sp. Braga reúne todas as valências para ajudar Portugal a defender o título de campeão europeu no próximo verão. 

"Sim, pode ser uma opção para o Euro’2020. O Paulinho foi um dos melhores marcadores do último campeonato, faz golos com regularidade e tem uma particularidade que considero importante. Sendo um avançado não vira a cara a luta e faz logo pressão à equipa adversária no momento defensivo. É um jogador completo e pode ajudar a seleção na concretização dos golos que estão cada vez mais caros no futebol atual", defende Rui Santos.

Braga com argumentos para lutar pelo título

O sucesso do Sporting de Braga não se resume apenas aos jogadores formados e que têm estado na montra do futebol. Na presente temporada, a formação orientada por Carlos Carvalhal tem estado em bom plano e no último jogo conseguiu arrancar uma importante vitória (3-2) na visita ao Estádio da Luz. 

"Todos nós conhecemos as qualidades que Carvalhal tem enquanto treinador. Mais contente fico ainda porque, além da excelente campanha neste início da temporada, ele aposta nos miúdos da formação. Temos agora o Rodrigo Gomes, outros dos talentos que o Braga tem. O clube tem essa identidade de formação e tem de continuar a apostar nela. Quando o Braga aposta em jogadores da formação, eles vão dando uma reposta muito positiva. Aliás, quando chegam à equipa A nem uma temporada lá ficam. São agora titulares no Barcelona, Wolverhampton… Temos de continuar a ter a coragem de apostar neles. Não podem ser só 10 minutos na equipa A. É continuar a dar-lhes minutos, horas e uma sucessão de jogos completos para que eles atingem um patamar de regularidade e excelência o mais precocemente possível. Há muito talento por lapidar", argumenta, antes de prosseguir.

"O Braga já esteve a lutar pelo título com o Domingos Paciência, numa equipa técnica da qual eu fazia parte. O mundo do futebol em Portugal só está habituado a que Sporting, Benfica e FC Porto sejam campeões. O Boavista fugiu à regra e acredito que o Braga também o possa fazer. Tem tudo para ser campeão nacional. Esta época ou dentro de cinco anos. Com o Domingos fomos vice-campeões e estivemos condicionados com os castigos do Vandinho e do Mossoró. O futebol português tem de ter outros candidatos: Braga, Boavista, Vitória SC… Há clubes com muita ambição e com muita competência para lá chegar. Temos de abrir os horizontes, só assim o futebol português fica ganhar." 

As próximas descobertas da formação 

Rui Santos foi ainda desafiado a enumerar os próximos jovens talentos que podem chegar à equipa principal e garantiu que não faltam nomes que prometem dar que falar. 

"Temos um Schürrle que com idade de júnior já fazia parte da equipa B. É um médio com muita qualidade. Um Bruno Rodrigues com um perfil físico similar ao do David Carmo. São dois atletas que com idade de junior e que já competiam nos campeonatos seniores. Esses são os que realço mais, mas também temos um Nuno Cunha, que é um miúdo da formação que o Benfica até veio buscá-lo, mas que acabou por regressar. O André Ferreira que é um caso muito similar ao do Francisco Moura, era um jovem atleta que jogava em posições mais adiantadas do terreno mas rapidamente se tornou num jogador com enorme e elevado potencial na posição de lateral direito  Temos ali um leque de talentos. Abrindo as portas as estes miúdos, eles vão dar respostas mais que positivas", remata o antigo coordenador da formação do Sporting de Braga.

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