Aos 35 anos, Cassiano regressou a Portugal pela porta do Casa Pia. No emblema de Pina Manique, o avançado brasileiro assume, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, que voltou a sentir-se feliz no futebol e agradece ao técnico João Pereira pela melhor temporada da carreira, que incluiu paragens ainda por países como Brasil, Coreia do Sul, Cazaquistão, China e Arábia Saudita.
Em 2024/25, o Casa Pia está a realizar uma excelente campanha no campeonato, estando a poucos pontos de garantir matematicamente a permanência no principal escalão do futebol nacional pela terceira temporada consecutiva.
Com 10 jornadas para o término da I Liga, o emblema lisboeta ameaça não só superar o 9.º lugar da época transata, como ambiciona uma inédita participação nas competições europeias. Com os pés bem assentes no chão, Cassiano é, no entanto, a voz da ambição.
Chegou apenas no início de setembro ao Casa Pia. Como é que o convenceram a regressar a Portugal?
O momento que estava a viver no Brasil não era o melhor. Fui para o Avaí, da Série B, e tive dificuldades de adaptação, pois o campeonato já estava em andamento. Depois, chegou o Casa Pia com um projeto aliciante e eu já conhecia Portugal, já tinha vivido em Lisboa... Foi uma transferência fácil.
São já oito golos esta época, o seu melhor registo na primeira divisão….
Juntamente com os meus companheiros, estamos a fazer uma grande temporada. Tudo o que temos construído aqui, tem ajudado dentro de campo. Não é por acaso o meu registo de golos, nem o sexto lugar na classificação.
É a sua primeira vez a trabalhar com o técnico João Pereira. Surpreendeu-o?
Sim. A maneira como ele trabalha, é um treinador jovem [33 anos], mas muito inteligente e humano com os jogadores e isso é muito importante. Há muitos treinadores, que só pensam em resultados e não querem saber do lado psicológico dos jogadores e o João não é assim. Além da qualidade que tem e do entendimento do jogo, é muito forte fora de campo.
'Vais fazer a melhor época da tua carreira'. Não sabíamos que ia ser tão rápido, mas, graças a Deus, ele estava certoDe que forma o técnico João Pereira teve um papel fulcral no seu desempenho nesta temporada?
O João é muito parecido com alguns treinadores que já tive, no sentido de dar a liberdade de conversa e de diálogo. Ele ouve o atleta e ajudou-me muito desde que eu cheguei cá. Foi a primeira pessoa que acreditou em mim e que disse: 'Vais fazer a melhor época da tua carreira'. Não sabíamos que ia ser tão rápido, mas, graças a Deus, ele estava certo.
O Cassiano está a três golos do Clayton, do Rio Ave, que é o melhor marcador fora dos ‘três grandes’. É um objetivo seu superá-lo?
Sim, o ponta de lança vive de golos e eu tenho procurado fazer mais, evoluir no meu jogo. Conseguir chegar a essa marca aqui no Casa Pia, aos 35 anos, seria algo muito marcante para mim. Seria satisfatório provar a mim mesmo, que ainda tenho condições para jogar ao mais alto nível.
O Casa Pia está atualmente no sexto lugar. Até onde esta equipa pode ir?
Claro que sonhamos alto, todos os atletas fazem-no e não fazia sentido estar aqui sem essa ambição, mas temos de ir jogo a jogo, somar vitórias, pois só assim estaremos mais perto dos lugares mais altos da classificação.
O quão especial seria para si jogar uma competição europeia com o Casa Pia?
Seria incrível, até porque nunca participei numa. Seria um momento único na carreira e vamos trabalhar para as coisas acontecerem.
Nós não podíamos enfrentar o Sporting, de Ruben Amorim, com uma postura muito ousada, porque eles estavam num momento muito bom, eram imbatíveis na altura
Olhando para a temporada, como encara o jogo [0-2] com o Sporting, em Alvalade, no dia 5 de outubro de 2024, em que a equipa foi severamente criticada pela postura extremamente defensiva em campo?
As pessoas tinham de entender o momento em que estávamos. Os resultados não eram os melhores e nós não podíamos enfrentar o Sporting, de Ruben Amorim, com uma postura muito ousada, porque eles estavam num momento muito bom, eram imbatíveis na altura. Adotámos uma estratégia de não nos expormos muito, pois erámos um grupo novo, que estava a conhecer-se com a competição em andamento. Não tínhamos as ideias de jogo que temos hoje. As críticas acontecem, não vamos agradar a toda a gente, mas sabíamos onde queríamos chegar e esse jogo fez parte do nosso processo de crescimento.
Os clubes mais pequenos não têm as mesmas condições para jogar olhos nos olhos com os grandes…
Exatamente, a imprensa olha muito para os grandes e está errado. Não é possível encarar da mesma forma e basta olhar para as estruturas, para as folhas salariais. Temos de olhar para os clubes ditos pequenos com o olhar mais genuíno, pois também existem lá grandes jogadores.
Contra o Benfica [vitória por 3-1] foi especial, porque a minha filha de 9 anos estava no estádio
Com mais de 100 golos na carreira, consegue eleger o mais especial?
Contra o Benfica [vitória por 3-1] foi especial, porque a minha filha de 9 anos estava no estádio e ela já entende um bocado de futebol. Fazer o golo e ganhar o jogo foi muito importante para mim.
Está com 35 anos. Até quando pretende continuar a jogar?
Não tenho nenhuma meta, vou continuar enquanto me sentir bem.
Chegou a partilhar balneário com um grande avançado, como o Diego Forlán. O que retirou dessa experiência?
O Forlán chegou ao Internacional em 2012 e era uma pessoa sensacional, trabalhadora e humilde. Era surreal, passava-me muitos conselhos para estar próximo da baliza. Ele tinha fome de golo e finalizava de uma forma incrível, com os dois pés, bom jogo de cabeça... Foi muito importante para mim viver isso de perto, pois motivou-me a querer chegar mais longe.
A dedicação, quer nos treinos, quer no trabalho, é que te vai fazer chegar longe
Qual é o melhor conselho que pode transmitir a um jovem ponta de lança?
O trabalho supera qualquer coisa, independentemente da qualidade técnica. A dedicação, quer nos treinos, quer no trabalho, é que te vai fazer chegar longe. Eu joguei em clubes, em que não era o melhor avançado, nem o que fazia mais golos, mas sempre tive fome de ajudar a equipa e a maioria dos pontas de lança só pensam em si. Com o trabalho e com o foco na equipa, tudo vai acontecer naturalmente.
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