O 'patinho feio' está na final e agora é hora de remar contra o fado

Portugal bateu esta quarta-feira o País de Gales e segurou lugar na final. Esta quinta-feira, Alemanha e França decidem a outra vaga para o derradeiro encontro. Agora, é hora de recontar a história, de fazer do Euro2004 uma má memória e de criar novos horizontes na terra dos sonhos. Relembre a caminhada portuguesa até à final.

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Sérgio Abrantes
07/07/2016 08:05 ‧ 07/07/2016 por Sérgio Abrantes

Desporto

Análise

Ninguém acreditava, mas o Engenheiro já o tinha previsto. Dia 11, como se o dia estivesse marcado no destino, a Seleção portuguesa tem regresso marcado a terras lusas. Se há 12 anos não tivemos a arte para, em casa, vencer o Euro, a expetativa agora, em França, é de que o sonho, o tão desejado ‘caneco’, pode estar a chegar.

Mas vamos por partes. Se para chegar à final os portugueses tiveram um percurso errático, que foi saltando de empate em empate, parece que o estatuto criado por Fernando Santos resultou. Com rótulo de favorito do grupo, a Seleção lusa nunca foi capaz de se impor nos 90 minutos. A fase de grupos terminou só com empates, três, e o terceiro lugar.

Se aqui podia haver pressão por não ter cumprido como esperado, certo é que, bafejada pela sorte, a formação das Quinas escapou a todos os tubarões. Alemanha, França, as duas equipas que decidem esta quinta-feira a outra vaga na final, ficaram reservadas para a sobremesa de uma caminhada onde também se evitaram belgas ou ingleses.

Fernando Santos, parece, tinha tudo preparado e as armas, aquelas que fizeram dos jogadores lusos os heróis há muito procurados, estavam ainda por apresentar ao público. Depois de uma fase tremida, com o meio campo a pedir gás, Santos soube apostar na rebeldia de Renato Sanches, que se impôs e materializou o bom momento com um golo frente à Polónia. Aqui, de frisar o papel de Pepe, um muro que também afastou os rótulos e que provou as razões de continuar a ser um dos melhores do mundo.

Adrien também saltou do banco para o ‘onze’, dando dinâmica de ‘leão’ ao centro de jogo português, trazendo tração, personalidade e rotina. William segurou o lugar que Danilo lhe ‘roubou’ no primeiro jogo. João Mário, sem o brilhantismo pelo qual é tão conhecido em Alvalade, foi dando mostras de capacidade de superação e abnegação. 

E o que dizer de Ronaldo. Eternamente escrutinado pela imprensa internacional e nacional, o rendimento do capitão luso foi constantemente posto à prova. As comparações e análises sobejavam, o talento do Tomahawk português tardava em aparecer. Mas qual comandante da ‘nau’ que se faz ao mar para o desconhecido, foi CR7 a apontar o caminho quando faltou rumo a Moutinho.

“Personalidade”, esgrimiu o timoneiro luso. Nesta batalha estamos entregues às mãos de Deus, lembrou. Não interessa o momento, interessa a vontade demonstrada. E foi isso que os pupilos lusos foram impondo. ‘Patinho feio, Calimero’, tudo títulos para uma ode que se pode escrever a tinta de ouro.

Nação pequenina, ao mar plantada, isolada do resto do Velho Continente, favorito frente aos pequenos, pequena frente aos grandes, a nau portuguesa foi lutando contra as ondas do imprevisto e provando que só no apito final os sonhos terminam.

Depois de ultrapassadas as tormentas do grupo, onde figuravam Hungria, Áustria e a espantosa Islândia, seguiu-se a Croácia. Modric e companhia deram ‘água pelas barbas’, fizeram duvidar, mas o sonho continuou com um tento único antes da lotaria dos penáltis.

Seguiu-se a Polónia de Lewandowski. O início débil, com passadeira estendida para o golo, voltou a assombrar a pretensão portuguesa e os santos tiveram de ajudar. Com o jogo por resolver em jogo jogado, 120 minutos depois foi o herói que tudo segura a manter Portugal em prova. Fazendo lembrar Ricardo, em 2004, o guardião português fez a diferença, depois de Renato ter feito o golo de coroação da sua titularidade.

O caminho estava livre de monstros. Agora, faltava bater a surpresa, Gales e Gareth Bale. Num encontro de galácticos, os portugueses mostraram que uma estrela escondida por nuvens não deixa de ser sol. Ronaldo voltou e voltamos agora, 12 anos depois, a ter Ronaldo numa final.  A segunda da história lusa, a segunda de CR7 que está mais perto do que nunca de mais uma Bola de Ouro.

Batidos os galeses como se de holandeses se tratassem (alusão às meias-finais do Euro 2004) e desbravado o terreno até Paris, é tempo de olhar para franceses ou alemães e mostrar que as diferenças para os gregos são muitas. Se antes os lusos eram favoritos frente aos helénicos, estatuto que aparentemente prejudica mais do que ajuda, agora frente à seleção da casa, ou à toda-poderosa Mannschaft, há que provar que a história foi escrita para não ser repetida.

Domingo completa-se o sonho; segunda-feira, seja qual for o desfecho do derradeiro encontro do Euro, Portugal terá 23 novos heróis.

 

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