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Luís Silva: O 'menino' formado na Luz que apanhou um foguete rumo a Stoke

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o central de 17 anos 'abre o livro' quanto à decisão de trocar o Seixal por Clayton Wood.

Notícia

© DR

Carlos Pereira Fernandes
10/01/2017 08:01 ‧ 10/01/2017 por Carlos Pereira Fernandes

Desporto

Entrevista

Aos 17 anos, Luís Silva vive aquele que é o sonho de muitos jovens jogadores portugueses. O central formado no Benfica cumpre a sua segunda temporada ao serviço do Stoke City e, apesar da tenra idade, conta já com participações nos sub-23 daquele que é o segundo clube mais velho do mundo.

Paulo Veríssimo, seu representante, destaca-o como "um jogador de elite, de elevado potencial", que, em Inglaterra, poderá ter "uma evolução muito grande comparativamente à que poderia ter no Benfica"

Ainda assim, em entrevista ao Desporto ao Minuto, o ‘menino’ que, aos 16 anos, teve a oportunidade de trabalhar com os ‘crescidos’ no Seixal, garante que nada o faz tirar os pés do chão: “Não tenho pressas, tenho o meu caminho para fazer, devagarinho e de forma acertada”.

Foi complicado sair de casa aos 16 anos

Estás a cumprir a tua segunda época em Inglaterra. Que balanço fazes deste período?

Tem sido uma experiência positiva. O primeiro ano é sempre de adaptação, complicado, mas, passada essa fase, começamos a sentir um bocadinho de casa nesse outro sítio. Habituamo-nos, estamos lá para trabalhar e, até agora, tem corrido muito bem.

Os primeiros tempos foram complicados?

A adaptação é sempre complicada. Às vezes, as pessoas não dão tanta importância a isso, mas há muitos exemplos de jogadores que, por não se conseguirem adaptar, não conseguem vingar em certos clubes. Claro que foi complicado sair de casa aos 16 anos, ir para longe da família, para um país diferente, com uma língua diferente, uma cultura diferente... Mas agora estou no bom caminho.

O Stoke ajudou-te nessa adaptação?

Sim, fui viver para uma família de acolhimento. É assim que funciona lá, não têm grandes hotéis dentro das academias, como têm cá. Todos os jogadores vão viver para casa de famílias que alugam os quartos e são autorizadas pela FA. Convivemos com essas famílias, dormimos lá, elas cozinham para nós... Isso facilita a integração.

É um modelo melhor do que o português?

Acho que estar fora, comunicar com as pessoas e aprender como pensam, ajuda-nos a evoluir enquanto pessoas, começamos a ver outras coisas que se calhar não víamos antes.

O que te passou pela cabeça quando soubeste da proposta do Stoke?

Quis, principalmente, perceber o projeto que tinham para mim, independentemente da minha idade. Estava cá a fazer o 10.º ano, estava nos sub-16 do Benfica, e apresentaram-me um projeto de estudo integrado com contrato de formação. É um sistema da Premier League a nível nacional. Obrigam os jogadores a cumprir essa educação. A própria academia tem salas de aula.

Sentiste uma diferença muito grande entre os dois clubes?

Temos de ser sinceros, claro que é uma grande diferença ir do Benfica, que tem uma das melhores academias do mundo, para Inglaterra, onde é um bocadinho diferente. Lá, todas as academias são similares, enquanto que cá há três grandes com infraestruturas enormes... Lá é tudo mais pequeno e mais concentrado. O foco não está na infraestrutura, mas sim no trabalho que lá se desenvolve.

'Oh Lois, é o teu dia de sorte!'

Sonhavas vingar no Benfica?

Sim, o sonho de pequenino é sempre jogar no estádio da Luz. Imaginava-me a fazer um percurso, mas a partir do momento em que surgiu um projeto que me pareceu o mais adequado para a altura e para o futuro... Foi uma decisão conjunta.

Na altura falava-se que Jorge Jesus não dava tantas oportunidades aos jovens...

Não se devem carimbar as pessoas por aquilo que fazem num clube. Agora, no Sporting, não faltam exemplos de jogadores que ele foi buscar, não só à equipa B, como à formação. Jorge Jesus fez um grande trabalho no Benfica e partiu para outro projeto.

No Benfica chegaste a ter contacto com a equipa principal?

Sim, cheguei a treinar uma vez. Era um sábado de manhã, o Benfica ia jogar contra o Sporting de Braga, para a Taça da Liga ou para a Taça de Portugal. Éramos a única equipa que estava a trabalhar. Estávamos no sintético e eles estavam no campo número três. Do nada, aparece um fisioterapeuta, fala com o mister e diz-lhe que precisam de um jogador para a equipa principal. Quem não ia jogar estava a treinar, mas os outros já tinham ido para estágio. Nós ouvimos e parámos logo o treino. O mister disse 'Oh Lois [alcunha pela qual era conhecido], é o teu dia de sorte, põe-te a andar para o campo da equipa principal!'. Eu sou um gajo lento, mas mandei logo um sprint, parecia que tinha uns foguetes no rabo [risos]. Claro que foi uma experiência inesquecível.

No Stoke também já tiveste essa oportunidade?

Sim, já trabalhei com a equipa principal várias vezes. Já fiz um jogo de treino contra o Birmingham International.

Costumas falar com a equipa principal?

Claro, falo regularmente com jogadores como o Imbula, com quem brinco bastante. Falo também com o Bruno Martins Indi, que é um tipo super porreiro, que fala comigo e me pergunta como estou todos os dias. Fala português, é um tipo super interessado por aquilo que se passa por aqui. Há-de voltar um dia... ou não, que no futebol nunca se sabe [risos]. Falo também com o Muniesa e o Bojan. Antes de lá chegar, havia mais espanhóis do que portugueses e comecei a virar o meu português para o espanhol, para conseguir comunicar com eles e evoluir nesse sentido. O Arnautovic fala espanhol, o Affelay também. Vamos comunicando e brincando, nem que seja quando nos cruzamos nos corredores ou na cantina. Deixa de haver essa distância entre equipa principal e formação, também por consequência da própria infraestrutura da academia, que não distingue os escalões.

Também vais aprendendo com eles?

Claro que sim, para além das brincadeiras, temos as nossas conversas. Se virem alguma coisa menos bem vêm dizer-me; e ainda bem que assim é.

Pode ser mais tarde, mas irei ter a minha oportunidade, sei que sim

Como te defines enquanto jogador?

Sou um jogador de equipa e de trabalho. Sou aquele que não desiste. Vejo-me como um líder, aquele que, quando a equipa está em baixo, vai pegar e tentar fazer algo para alterar isso. Diria que o meu ponto forte é o jogo de cabeça e, para um defesa, diria que tenho uma qualidade técnica ligeiramente acima da média.

O que gostavas de melhorar?

A curto-prazo, quero passar a ser um pilar na equipa de sub-23. Não penso na primeira equipa. No início de cada época, obrigam-nos a fazer um papel com cinco pontos, não que precisamos de melhorar, mas sim que precisamos para ser um jogador de topo. No meu caso, é capacidade de decisão, defender duelos individuais, alcance de passe com ambos os pés, agilidade e cabeceamentos.

Apesar de teres 17 anos, já jogaste pelos sub-23. É sinal de maturidade?

De maturidade e trabalho. Estive nove anos no Benfica e construí um caminho até ser capitão e a grande influência da equipa. Na seleção também. Lá estou a fazer a mesma coisa e já vejo frutos.

É importante não queimar etapas?

Sim, vamos devagarinho, sem pressa. Os defesas-centrais tendem a chegar ao topo mais tarde. Podemos pegar no caso da seleção portuguesa que foi campeã europeia. Tinha Fonte, Pepe, Ricardo Carvalho, Bruno Alves... Têm todos mais de 30 anos. Se é para chegar à equipa principal, para jogar ao mais alto nível, se tiver de ser na parte final da carreira, que seja. Vou trabalhar todos os dias para lá chegar.

Na tua posição é importante ter paciência para chegar ao topo?

Muita. Às vezes olho para jogadores como o José Gomes e o José Quina, com quem joguei, e está tudo no banco das equipas principais e a ter as suas oportunidades. Eu tenho de continuar a fazer o meu trabalho. Pode ser mais tarde, mas irei ter a minha oportunidade, sei que sim.

E quais são as tuas referências neste momento?

Tenho olhado para um jogador que é muito interessante e que só agora, aos 25 anos, é que está a aparecer, que é o Van Dijk. Não o vejo como um ídolo, mas sim como alguém que faz coisas que eu quero aprender a fazer. Para mim, é um jogador que pode jogar em qualquer lado. Só não vai para o Real Madrid se não quiser. Joga muito [risos].

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