BCE deve levantar o véu sobre refinanciamento e rever em baixa previsões
O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar na quinta-feira novas previsões, mais pessimistas, para o crescimento económico na zona euro e "levantar o véu" sobre novas operações de refinanciamento de prazo alargado para os bancos da região.
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Economia Crescimento
O BCE realiza na quinta-feira uma nova reunião de política monetária e os economistas ouvidos pela Lusa antecipam que o regulador europeu deverá deixar os juros inalterados e falar sobre novas operações de refinanciamento de prazo alargado, para assegurar eventuais necessidades de liquidez extraordinárias dos bancos.
"Espero que haja uma manutenção das taxas de referência e o levantamento do véu sobre como poderão funcionar os novos 'targeted longer-term refinancing operations' (TLTROs)", ou seja, operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas ao apoio de crédito bancário, indicou à Lusa Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros.
Desde o 'rebentar' da crise financeira que o BCE forneceu liquidez adicional aos bancos da zona euro. Em 2014, o supervisor começou a emprestar dinheiro a muito longo prazo, até quatro anos, mas estes empréstimos eram condicionados pelo financiamento da economia real, ou seja, dependentes da concessão de crédito a famílias e empresas pelos bancos destinatários.
Entre julho de 2016 e março de 2017, o BCE também realizou operações de refinanciamento a muito longo prazo, a maior parte para os bancos italianos e espanhóis, de acordo com a Efe.
"O BCE deverá reconhecer a deterioração do contexto e perspetivas da economia, manifestando a intenção de continuar a promover a estabilidade da inflação em valores perto mas abaixo de 2%. No entanto, também deverá dar a entender que a desaceleração em curso pode ser suave e temporária", acrescentou Filipe Garcia.
De acordo com Bruno Fernandes, economista do Santander, "os sinais de abrandamento económico não são uma surpresa, tendo em conta o longo período de expansão na zona euro, da mesma forma que os riscos atualmente identificados também não são novos, embora o enviesamento em baixa das expectativas dos agentes económicos desses mesmos riscos esteja a contribuir para uma desaceleração mais pronunciada do crescimento".
No entender de Bruno Fernandes, "Mario Draghi deverá revelar as novas previsões de crescimento para a zona euro, manter inalteradas as taxas de juro de referência e reforçar a sua mensagem de confiança na eficácia da sua política monetária para suportar eventuais necessidades de liquidez extraordinárias dos bancos, sempre com o objetivo de manter a estabilidade de preços e o bom funcionamento do sistema financeiro europeu".
Em dezembro último, o BCE reviu em baixa a sua previsão de crescimento na zona euro, para 1,7% em 2019, mantendo a anterior estimativa de 1,7% para 2020, e antecipou uma inflação de 1,6% e 1,7%, respetivamente.
Analistas sondados pela Efe antecipam que, na quinta-feira, o BCE deverá descer significativamente as suas previsões de crescimento para este ano e, em menor escala, para 2020.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) desceu hoje para 1% a previsão de crescimento para a zona euro em 2019, uma queda de 0,8 pontos percentuais face à sua anterior estimativa de novembro.
À questão sobre se o BCE está a falar a demasiadas vozes, uma vez que comentários recentes dos governadores de França, Alemanha e Irlanda sugerem que o Conselho de Governadores está longe de um consenso quanto à resposta a dar ao abrandamento económico na zona euro, Filipe Garcia indicou que "sempre houve várias correntes no Conselho de Governadores do BCE, pelo que não é uma novidade".
"De momento, continua a valer o que Draghi diz e há membros também muito importantes e a quem o mercado presta muita atenção como Benoit Coeuré", acrescentou o economista da IMF.
Em meados de fevereiro, Benoit Coeuré, membro do Conselho Executivo do BCE, afirmou estar em discussão a hipótese de o supervisor fazer novos empréstimos a longo prazo aos bancos europeus.
Mario Draghi termina o mandato em outubro deste ano e poderá sair sem voltar a subir os juros na zona euro.
"Estando em fim de mandato, vejo Draghi como pouco pressionável. Draghi deverá manter as taxas inalteradas até sair, mas é alguém que acredita em injetar liquidez para acelerar o crédito (e, por efeito de cadeia, a economia e a inflação) e penso que esse é o caminho que já escolheu", concluiu Filipe Garcia.
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