Covid-19: Setor da construção em Angola já sente impacto

O economista Precioso Domingos considerou hoje que o setor da construção em Angola, um dos maiores contribuintes de receitas fora do petróleo, está já a ressentir-se do impacto do novo coronavírus devido à diminuição das importações da China.

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Lusa
05/03/2020 11:45 ‧ 05/03/2020 por Lusa

Economia

Covid-19

Em declarações à agência Lusa, o economista disse que a doença afeta igualmente o setor petrolífero, a principal fonte de angariação de receitas para Angola, tendo em conta que a China, o principal importador desta 'commodity' angolana, diminuiu a sua importação a nível global.

Segundo Precioso Domingos, a situação faz também com que "as perspetivas de explorar petróleo em Angola fiquem menos aliciantes, por causa do preço do barril".

"Certos campos de exploração de petróleo tendem a ter menos margem de retorno, por um lado. Por outro lado, isto também se reflete em menos receitas petrolíferas, tal como o Governo prevê no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020", referiu.

Menos receitas petrolíferas, acrescentou o economista, irão necessariamente refletir-se em menos reservas internacionais, de que Angola precisa para fazer face ao serviço da dívida, "que é muito grande", podendo por isso comprometer, em parte, o plano do Governo de redução da mesma.

"Também estou a olhar para a China como a principal origem das importações em Angola, atualmente. A China, desde 2017, que destronou Portugal desta posição", comentou.

Embora a diferença "seja residual", a China lidera agora as exportações para Angola, uma perspetiva que, segundo o analista, poderá provocar em Angola "um choque de oferta".

De acordo com o economista, um dos setores que está a ser mais afetado é o da construção civil, que, numa perspetiva histórica, desde 2002, é tido como o principal setor da economia não petrolífera.

"Só para ter uma ideia, o saco de cimento por causa do Covid-19 mais do que duplicou nos mercados angolanos, os materiais de construção (...) rapidamente esgotaram no mercado, não há stocks por parte das empresas que vendem, dos armazéns, e isto está a inflacionar os preços neste setor e de outros bens que provêm da China", adiantou.

O aumento da taxa de inflação, que o Governo perspetivou para este ano em 25%, é também uma das consequências do novo coronavírus para a economia angolana, agravada por um possível aumento do preço dos combustíveis.

"Estou a prever uma inflação maior", a não ser "que o Governo desista ou queira protelar mais ainda o aumento dos preços dos combustíveis", admitiu.

Domingos Precioso realçou que as receitas para o Governo "continuam a ser as mesmas" porque quando é elaborado o OGE e são feitas projeções, não são tidos em conta os riscos.

"O Governo tem feito sobretudo o OGE e outros dos seus documentos numa perspetiva de inexistência de risco ou numa perspetiva de que todas as outras variáveis são constantes. Não é assim, e o Governo não acautelou isso", frisou.

Um destes riscos "é o Governo insistir num preço do barril de petróleo no OGE muito na fronteira. Ao contrário da Rússia, que desde a última crise do petróleo até hoje vem assumindo um preço conservador de 40 dólares (...) já em Angola não", disse, acrescentando que é sempre assumido um preço sobrestimado.

Para o economista angolano, todo o quadro descrito, "é de resto a uma situação que o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai ter que ter em conta, para ver como é que o programa pode ser ajustado, sobretudo no caso de persistência" da atual situação.

O surto de Covid-19, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou mais de 3.200 mortos e infetou mais de 93.000 pessoas, em 78 países incluindo oito em Portugal.

Em África, além de Nigéria, Egito e Argélia, foram identificados casos em Marrocos, Tunísia e Senegal.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto de Covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional e aumentou o risco para "muito elevado".

 

 

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