"Encaramos o colapso nos preços do petróleo e de outras matérias-primas como o principal canal para as dificuldades económicas resultantes do surto de coronavírus para os países da África e do Médio Oriente", lê-se numa nota sobre o impacto do surto no continente africano.
"Para os grandes produtores da África subsaariana, como Angola e o Gabão, uma descida de 10 dólares no petróleo tem um impacto nas receitas equivalente a 1 a 2% do PIB", alertam os analistas.
"O choque na procura vai ter um efeito negativo substancial nas receitas fiscais, fluxos em moeda estrangeira e no crescimento económico para um conjunto de países" nesta região, acrescentam os analistas na nota enviada aos clientes, e a que a Lusa teve acesso.
Nos últimos dias, o preço do petróleo reduziu-se significativamente, valendo hoje cerca de 40 dólares, o que coloca o valor bastante abaixo da previsão inscrita no Orçamento do Estado de Angola para este ano, que antevê um valor médio anual do petróleo nos 56 dólares por barril.
No relatório, a Fitch, que na semana passada piorou o 'rating' de Angola devido à descida de preços e produção de petróleo e ao aumento da dívida pública, escreve que "Angola tem pouca margem orçamental para resistir a um choque".
"A descida da notação de Angola reflete o impacto da produção mais baixa de petróleo, com preços mais baratos, e uma queda maior que o antecipado do kwanza, o que aumentou os níveis de dívida pública e os custos de servir a dívida externa, ao passo que os níveis das reservas internacionais também caíram", escreveram então os analistas.
No anúncio, e que afunda a nota em território de não investimento, ou lixo, como é geralmente conhecido, a agência de 'rating' diz que "o progresso sólido nas reformas, no contexto do programa acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), não foi suficiente para impedir a deterioração das finanças públicas, e apesar de estar previsto uma queda rápida da dívida pública ao abrigo do programa, os riscos [de a descida se concretizar] são elevados".
No texto que acompanha o anúncio da decisão de 'rating', a Fitch escreve que a dívida pública estava nos 81% no final de 2018 e ultrapassou os 100% no final do ano passado, "muito acima da média de 56,2% dos países com a nota B".