Sem a certificação destas entidades da esfera pública, operadas pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, as empresas do ramo da ourivesaria não conseguem colocar as peças que produzem no mercado, apontando que "a atividade do setor está praticamente bloqueada".
"No início da semana fomos informados do encerramento das contrastarias devido a este problema do coronavírus. E como é a única entidade com competência legal para certificar os nossos produtos para venda em Portugal, o circuito ficou quebrado e praticamente bloqueou o setor", disse Lusa Fátima Santos, da AORP, à Agência.
A secretária-geral do organismo partilhou que "mesmo com grandes dificuldades e reajustamentos as empresas ainda estão a operar", para cumprir as encomendas, mas alertou que "não conseguem escoar os produtos".
"Percebemos as contingências de saúde pública, mas achamos que o encerramento das contrastarias foi uma decisão precipitada que deixou o setor sem solução alternativa, porque apesar de muitas lojas de ourivesaria estarem fechadas, teríamos sempre a solução do comércio online para poder manter algumas vendas", acrescentou a dirigente.
Fátima Santos lembrou que "apesar do setor trabalhar com produtos de valor acrescentando, as margens de lucro, em Portugal, são pequenas, por se tratar de empresas de transformação", que estão expostas às grandes flutuações de mercado dos metais preciosos, nomeadamente com a especulação no preço do ouro nas últimas semanas.
"Não trabalhamos com bens de primeira necessidade, e quando há perturbações no modelo de negócio sentimos logo esse impacto e sabemos que o mercado vai demorar a reagir para ganhar, de novo, espaço nos orçamentos dos consumidores", vincou a secretária geral da AORP.
Segundo dados da associação, em Portugal o setor da ourivesaria e relojoaria tem 4.300 empresas, envolvendo 11.000 pessoas, representando um volume de faturação anual de 1.000 milhões de euros, sendo que 10% se refere a exportações.
"Estávamos a recuperar ainda das crises anteriores, melhorando as empresas e criando mais postos de trabalho, e agora entramos de novo na incerteza. Temos muitas microempresas, de cariz familiar, que são vulneráveis a estas crises e precisam de vender diariamente", concluiu Fátima Santos.