"A natureza pequena e aberta da economia portuguesa coloca-a vulnerável ao tumulto financeiro e económico considerado pela atual crise de saúde global", lê-se na nota da DBRS Morningstar que acompanha a manutenção do 'rating' em BBB (alto), com perspetiva estável.
Segundo a agência de notação financeira canadiana, "no mínimo, a economia portuguesa irá provavelmente abrandar nos primeiros trimestres do ano à medida que as receitas do turismo caem, e a confiança dos consumidores e o sentimento industrial enfraquecem".
"A severidade do abrandamento económico dependerá da profundidade e da duração do choque", acrescenta a empresa, afirmando que só "o tempo dirá se a transmissão da doença abranda e se a resposta doméstica e global à pandemia é adequada".
A agência assinala que "disrupções no lado da oferta, por doença ou dias de trabalho perdidos, devem afetar negativamente o crescimento", bem como a procura externa ao nível de bens e serviços, particularmente o turismo e a procura interna.
A DBRS justifica a manutenção do 'rating' no atual contexto de agitação económica, causada pela pandemia de covid-19, com "a avaliação à volta de alguns dos indicadores-chave de Portugal".
"A economia portuguesa -- tendo-se diversificado em anos recentes para consistir em exportações de maior qualidade e o aumento do investimento do setor privado -- está numa posição mais forte do que na crise anterior", sustenta a empresa canadiana.
Para a agência, há "algum espaço orçamental para 'almofadar' o choque" da pandemia de covid-19, dado que "o resultado orçamental esteve sensivelmente equilibrado no ano passado e o rácio da dívida pública face ao PIB [Produto Interno Bruto] está a cair a um ritmo saudável".
Relativamente às medidas anunciadas pelo Governo para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, "a DBRS Morningstar considera o impulso orçamental adequado neste momento, mesmo que desvie temporariamente o esforço de consolidação orçamental".
"A médio prazo, tendências demográficas adversas irão provavelmente colocar pressões maiores nos gastos em pensões e na saúde", adverte a agência de notação financeira.
A DBRS prevê ainda que o rácio da dívida face ao PIB, de 117,7% em 2019, continuará a descer, graças aos "excedentes primários mais altos, crescimento económico moderado e baixas taxas de juro".
"Apesar da trajetória saudável nas assunções atuais, o rácio da dívida pública em Portugal ainda é dos mais altos na Europa. O choque global financeiro e económico relacionado com a saúde pode desafiar as atuais assunções da prestação da dívida do país", dado que o rácio atual "deixa as finanças públicas vulneráveis a choques negativos no crescimento ou à cristalização de passivos contingentes", segundo a DBRS.
Relativamente ao sistema bancário, a empresa canadiana lembra que todos menos o Novo Banco dão lucro desde 2017, e que os riscos à estabilidade financeira provenientes dos altos níveis de crédito malparado e da dívida privada estão a diminuir.
"No entanto, quase dois terços do crédito malparado no sistema bancário estão relacionadas com a fraca prestação no setor empresarial", refere a DBRS, relevando que o malparado nas empresas correspondia a 15,7% no total de empréstimos no terceiro trimestre de 2019.
Relativamente ao clima político, a DBRS considera que a não existência de um acordo governativo "aumenta o risco de instabilidade e a possibilidade de eleições antecipadas", mas espera que as dinâmicas políticas nacionais "resultem numa continuidade de políticas".