"Não podemos depender dos Estados Unidos ou de qualquer outro país"
Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, antecipa este sábado, em entrevista ao jornal El País, algumas das medidas que espera sejam aprovadas na reunião dos ministros europeus marcada para a próxima terça-feira.
© Reuters
Economia Centeno
Mário Centeno, presidente do Eurogrupo, antecipa este sábado, em entrevista ao jornal espanhol El País, algumas das medidas que espera serem tomadas em reunião de ministros das Finanças na próxima terça-feira.
Numa longa conversa com jornalistas de cinco órgãos de comunicação social, o responsável pela pasta das Finanças em Portugal defende soluções criativas para enfrentar a crise financeira criada pela crise de saúde gerada pela pandemia de Covid-19.
Em declarações ao El País, Centeno defende que os europeus devem ter um 'segundo Plano Marshall', afiançando que numa Europa unida não há lugar para discriminação entre países.
"Vamos propor um novo pacote para defender a Zona Euro e a União Europeia. Trabalhamos em três redes de segurança: para dívida soberana, para empresas e para trabalhadores. Deve ser um plano o mais abrangente possível para todos os setores da nossa economia. Estamos a trabalhar numa linha de crédito aberta a todos os países de até 240 biliões. Será uma nova linha de defesa. Segundo, temos uma proposta do Banco Europeu de Investimento (BEI) com uma garantia pan-europeia de até 200.000 milhões. Os detalhes não estão concluídos, mas serão para a UE e, especialmente, para pequenas e médias empresas. Além disso, a Comissão apresentou na quinta-feira medidas de 100 biliões de euros para criar uma rede de segurança para os sistemas de proteção ao emprego. Essas três medidas representam uma malha de proteção de cerca de meio trilião de euros", começou por explicar, perspetivando depois que será possível chegar a um consenso sobre o tema.
"Estamos a trabalhar e vejo que um amplo apoio está a ser formado em torno deste pacote abrangente de medidas que ainda exige muito comprometimento por parte dos Estados-Membros. E esse é um compromisso que estamos a construir", continua Centeno, falando depois sobre a necessidade de se evitar a estigmatização entre países, indo mais longe e explicando que as metas orçamentais imposta pela União Europeia terão de ser 'desligadas' do contexto da pandemia de novo coronavírus..
"As condições devem estar relacionadas ao coronavírus e, a longo prazo, o Estado-Membro beneficiário deve retornar a uma posição estável, trilhando um caminho sustentável. Isso foi planeado com um objetivo: evitar qualquer estigma em relação aos países e respeitar o grande sofrimento que nossos cidadãos estão enfrentando com os mais de 50.000 mortos já nesta crise, mas também como resultado do sofrimento económico e social que isso implica. Se não o respeitarmos, não honraremos o legado dos pais fundadores da Europa nos últimos 70 anos. E será um grande erro", afiança, falando depois sobre os objetivos da reunião da próxima terça-feira.
"Quero mostrar que o Eurogrupo é capaz de tomar decisões e apresentar opções aos líderes. Agora, existe um amplo suporte numa resposta ao longo das linhas que expliquei. E precisamos continuar nesse caminho, sem linhas vermelhas, com a mente aberta. Após esse período, precisaremos de novos recursos para conduzir um plano de recuperação. Nós devemos ser criativos. Os países da UE e a área do euro devem enfrentar o desafio de responder à crise humanitária, de saúde e económica", defende, abordando de seguida a possibilidade de criação de Eurobonds, títulos de dívida 'partilhados' entre todos os Estados-membro.
"Como presidente do Eurogrupo, o meu objetivo é obter consenso. Eu não sou uma voz passiva. Eu irei sempre promover uma maior integração. Nesta discussão, não devemos comprometer ou arruinar nossa capacidade de chegar a um acordo para fornecer uma resposta de emergência com essas três redes de segurança", começa por referir, acrescentando: "Precisamos de nos concentrar em propostas eficazes, e a proposta francesa é. É um fundo temporário que complementaria o Quadro Financeiro Plurianual. O fundo emitirá títulos com garantias conjuntas dos estados membros. Não se trata de eurobonds, mas de algo intermédio, e é exatamente aí que há espaço para manobras. Precisamos debatê-lo, mas dentro de uma estrutura geral e do período de recuperação."
Fazendo depois um prognóstico e exame aos desafios que o Velho Continente vai enfrentar nos próximos meses, Centeno lembra que uma crise semelhante, olhando para o passado, apenas é possível de contemplar no período pós-II Grande Guerra.
"Estamos face a uma crise inesperada e sem precedentes. Isso é absolutamente novo para nós. Não temos um modelo do passado, mas analisamos os dados à medida que a crise se desenrola. E mesmo assim, fomos muito rápidos em responder de cada país e também da UE. Está nas mãos da UE enfrentar esta crise com todas as suas forças. Ao contrário do que aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, não podemos confiar nos outros para a fase de recuperação. Alguns mencionam a ideia de um plano Marshall, mas desta vez deve ser financiado pelos europeus. Somos a nossa melhor e única linha de defesa. Não podemos depender dos Estados Unidos ou de qualquer outro país", sentencia.
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