Em entrevista à Lusa, o professor universitário diz que vê "muitos economistas a tratar esta crise como se fosse uma crise em 'V', em que há uma queda da produção devido a um choque exógeno e há, depois, uma rápida recuperação".
Uma tese que Louçã diz ser a que aparentemente está a ser seguida "pelo Ministério das Finanças português", mas que não passa de "uma história mal contada".
O economista considera que há vários fatores que permitem antever uma forte queda da economia e uma recuperação lenta e que, devido a todas essas razões, a que acresce a pandemia, "é provável" virmos a ter uma combinação entre "uma queda do PIB entre 5% e 10%, mas mais próximo dos 10% em vários países, incluindo Portugal", e uma crise do lado da procura.
Primeiro, explica o economista, esta queda terá efeitos que se prolongarão no tempo e que afetarão "a confiança dos agentes económicos".
Uma queda desta magnitude pode representar, só num ano, "mais do que o efeito cumulativo da recessão de 2009 e anos seguintes", lembra Louçã, acrescentando que haverá setores económicos, como o dos transportes aéreos, do alojamento local ou do turismo, setores de "especialização de Portugal nos últimos anos", que "não se restabelecerão no mesmo nível".
Aliado a esta queda do PIB e à decorrente falta de confiança dos agentes económicos, o antigo coordenador do Bloco de Esquerda diz ainda que vai começar a surgir, "não no imediato, mas no futuro, uma crise no lado da procura".
Isto porque "a queda dos rendimentos" das famílias será "muito significativa" à medida que "as pessoas passam para 'lay-off' ou para o desemprego", afirmou.
Tudo somado, Francisco Louçã diz que "o risco é que não tenhamos um 'V', mas que tenhamos um 'L', e que a recuperação seja muito lenta."
O diagnóstico do professor universitário não resulta apenas dos efeitos económicos da pandemia. Francisco Loução recorda que este fator exógeno ocorre "num contexto em que já havia três ameaças graves muito evidentes" à atividade económica.
Primeiro, a economia mundial estava num novo "pico de intensidade especulativa", algo que apenas tinha acontecido "nos anos 30 do século passado e na crise do Nasdaq em 2000".
Em segundo lugar, em consequência das injeções de liquidez feitas pelos bancos centrais para salvar o euro, "tínhamos uma enorme inflação financeira". Ou seja, explica o economista, como "não houve investimento, esses recursos foram utilizados para a valorização de títulos financeiros, criando uma bolha financeira e uma bolha imobiliária".
Por último, "tínhamos um enorme crescimento do endividamento das empresas, uma bolha no mercado de obrigações", acrescentou.
São estes três fatores que, segundo Francisco Louçã, explicam "por que é que um choque exógeno, como a pandemia que estamos a passar, não só afeta cadeias de produção, mas também afeta a estrutura da distribuição dos rendimentos".
Os primeiros casos da covid-19 confirmados em Portugal foram registados no dia 02 de março. Desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril o país mantém-se em estado de emergência, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.