"Quem as enganou [às pessoas] foram os acionistas do banco que fizeram o que fizeram. Essas pessoas é que os enganaram", disse Maria Luís Albuquerque na sua audição na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
Respondendo à deputada do PS Jamila Madeira, a titular da pasta das Finanças do governo de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP) disse perceber "que as pessoas que perderam o dinheiro se sintam enganadas, defraudadas" e afirmou ter "genuinamente a maior simpatia por esse argumento" e achar "que têm razão", mas deixou claro que "não foi o governo" que as enganou.
"Face à informação que eu tinha, à informação que me era prestada e que eu pedi que me fosse prestada, havia todas as razões para acreditar que o Banco Espírito Santo [BES] estava suficientemente protegido para não ter um problema de viabilidade ou continuidade mesmo que os riscos se materializassem", tinha dito já anteriormente Maria Luís Albuquerque.
A ex-ministra esclareceu que fez as declarações "porque havia ruído" e lhe foi perguntado, não tendo "razões para dizer outra coisa, porque objetivamente era a verdade" da informação que tinha na altura, "nem faria sentido que o ministro das Finanças expressasse dúvidas sobre a matéria, porque isso era completamente contraproducente".
"Pretender dizer daí que incentivámos as pessoas a comprar ações, senhora deputada, não me leve a mal, mas é esticar muito o argumento", respondeu à socialista Jamila Madeira.
Maria Luís Albuquerque manteve ainda que as reuniões que teve com Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, foram sobre a área não financeira do Grupo Espírito Santo (GES), "até porque o doutor Ricardo Salgado sabia bem que, se pedisse apoio para o banco, ele seria enquadrado dentro daquilo que eram as regras no momento em que esse pedido fosse feito, que o Banco de Portugal avaliaria esse pedido" e "teria o mesmo tratamento que os outros bancos".
"Talvez por isso o doutor Ricardo Salgado tenha tido, se calhar, esse cuidado, presumo eu, em nunca falar do banco", disse a antiga governante.
"Eu acho que, manifestamente, ele [Ricardo Salgado] não ter sido afastado antes teve consequências bastante mais graves", observou.
A antiga ministra disse ainda que "a única entidade que verdadeiramente nunca quis apoio ao BES foi o próprio BES", algo que "mais tarde" se veio "a perceber melhor o porquê".
"Na altura, a explicação que corria era que o BES estava traumatizado com os processos de nacionalização que se seguiram ao 25 de abril, que para a família Espírito Santo aquilo seria um acontecimento muito traumático, e que, portanto, havia ali uma questão de princípio de que não queriam recorrer ao apoio público", prosseguiu.
Maria Luís Albuquerque disse que essa versão, "naquele contexto, até tinha credibilidade", tendo o BES conseguido obter fundos "das duas vezes em que o Banco de Portugal exigiu aumentos de capital antes da resolução".
Anteriormente, em resposta ao deputado Duarte Pacheco (PSD), a ex-ministra já tinha dito que "nem toda a administração do BES sequer sabia o que estava a ser feito", e que "nem sequer foi a administração toda que desobedeceu frontalmente às ordens do Banco de Portugal, foram alguns administradores que desse ponto de vista abusaram dos seus poderes".
"Se essa proibição tivesse sido cumprida, a materialização dos riscos no GES teria sido coberta por esse montante de capital que estava previsto, o BES teria continuado a existir, teria com certeza precisado de mais capital, mas, nessas circunstâncias, ao que tudo fazia crer da informação que tínhamos na altura, é que haveria investidores dispostos ou a reforçar a sua posição ou a entrar no capital do BES", considerou.
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